Acordo abruptamente em meu quarto, assustado e ofegante, um barulho muito alto ecoava por todos os cantos, noto então, após despertar completamente que todas as sirenes do Zoo soam freneticamente, causando um som estridente, as luzes de meu quarto piscava, numa espécie de curto circuito, levanto com pressa de minha cama, calço meu chinelo, e caminho até a janela na intenção de ver o que acontece do lado de fora, que estaria causando tamanho barulho, tenho sorte, pois possuo uma visão privilegiada para o parque, aqui de meu quarto. Reparo que o problema vem de lá, de longe dá pra ver os inúmeros giroflex acesos, intercalando suas luzes entre vermelho, azul e amarelo.
Coloco, com uma certa agilidade, meu roupão, que estava jogado em cima da cômoda que fica ao lado da janela, por cima do pijama, afinal, está frio. E saio do meu quarto, na intenção de encontrar alguém e descobrir o que estava acontecendo. Começo a descer as escadas de minha casa, presumo que não tenha ninguém aqui, pelo silêncio de vozes, o que é raro, todos já devem estar no parque vendo o que aconteceu. Na melhor das hipóteses, algum animal está preso nas grades, o que causou o disparo dos alarmes.
Ao chegar na sala, todos os meus movimentos são congelados, avisto meu pai caído ao pé da porta de minha casa, que estava entreaberta, e uma enorme poça de sangue ao seu lado. Começo a gritar desesperadamente por ajuda, mas, parece que ninguém me ouve, então decido ir até a casa de Felipe, certamente meu tio vai me ajudar com isso.
Ao abrir a porta, vejo já ao longe o carro de meu tio partindo rumo ao Zoo. Tento correr para alcançá-lo e avisar o ocorrido em minha casa, mas, não adianta, acabo ficando para trás, muito rapidamente, noto que corri apenas alguns metros para longe da casa. Agora estou sozinho, fora de casa, com meu pai morto ao pé da porta, estou desesperado, e aflito. Decido então rumar sentido ao parque, encolho-me dentro do meu roupão, para procurar alguma forma de me aquecer do frio que fazia. Sei que certamente meu tio foi averiguar o barracão dos sobrenaturais, para ver se estava tudo em ordem por lá.
- HUMMM, o que temos aqui.
Ouço uma voz estranha, com um certo tom grave, e meio rouca, olho para os lados e não vejo ninguém. Viro-me em direção a minha casa e ali está, descendo os três degraus da minha varanda, mais vivo do que nunca, a criatura que deveria estar presa no caixão. Ela tinha um sorriso ladino, quase que cruel, sua boca vermelha, com um leve filete de sangue escorrendo na lateral, uma gota solitária.
Minha primeira ação é virar o corpo para o sentido contrário e correr, mas, não vou muito longe, o homem, que outrora estava no caixão, salta em minha frente, em poucos segundos, fazendo com que meu corpo se esbarre com o dele, me derrubando no chão.
Ele me olha vitorioso, uma feição quase demoníaca, que exalava maldade, foi só aí que reparei, seus olhos, ao contrário dos demais vampiros, não são vermelhos, são verdes, de um verde profundo e frio, não exalando sentimento algum além do desdém e maldade.
- O que você é, afinal? – Pergunto olhando para ele, reparando que além dos olhos não servem vermelho, ele segue sem as presas ou caninos.
- Eu sou o que sou. Não tente me entender, um dia fui como você, e hoje estamos aqui, eu selando seu futuro, e contemplando meu passado. – O homem à minha frente se pronuncia, abrindo um grande e cruel sorriso em seu rosto, e consigo notar, agora sim, exatamente o momento em que suas presas vão saindo de dentro de sua gengiva, ficando maior do que a de qualquer vampiro que já vi, e mais ameaçadora do que a de qualquer lobisomem.
Com um movimento rápido, em questão de segundos, estou em seus braços, o rosto quase que colado ao dele, que me segura com força, sinto aquele aroma bom, e amadeirado novamente, o mesmo que exalou quando abrimos o caixão, observo ele enquanto a criatura analisa todas as minhas feições, ele me cheira profundamente, eu tenho a certeza que meu corpo exalava medo, pavor e desespero, e ele parecia perceber isso, pois seu semblante era de alguém muito satisfeito com o resultado obtido.
O homem então toca com sua mão direita meu pulso esquerdo, levando-o até sua boca, mas não o morde, apenas cheira o local, me causando um arrepio de pavor, e bambeando minhas pernas, ele nota o meu ato de fraqueza e firma meu corpo em pé, rindo da situação, um sádico, presumo. Ele então, apenas raspa suas presas em minha pele, o que é suficiente para causar-me leve ardor, e um arranhão, que gera um pequeno filete de sangue, sendo desenhado em meu braço. Ele lambe aquilo que escorria, e eu vejo seus olhos mudarem por completo, deixando aquele verde esmeralda e tomando um tom negro amedrontador, então, sinto uma mordida forte e ardente em meu pulso, aquilo doía mais que tudo que eu conseguia imaginar, então, começo a gritar.....
- Louis, Louis, acorde! Porra Louis, acorda. – Abro meus olhos, meio desesperado, e vejo Rebeca em minha frente. – Nossa, você parece que estava sonhando com a mais louca transa, ou tendo o pior dos pesadelos. - Minha prima diz, sorridente. – Felipe pediu para eu vir te acordar, segundo ele, conseguiu terminar de traduzir seja lá o que for. – Ela diz, indo em direção a porta. – Recado tá dado, agora vou para minha aula de inglês, ele está te esperando nos balanços ao lado da sua garagem, tchal. – Rebeca sai do meu quarto, me deixando sozinho, ainda sem entender o que aconteceu.
Então tudo aquilo foi um sonho? Puta que pariu, um sonho? Que merda! Isso está longe de ser um sonho, isso foi um pesadelo, dos mais horríveis. Sento-me na cama e tento regularizar meus batimentos cardíacos, coloco a mão no peito e consigo senti-lo bater como uma escola de samba inteira.
A mente da gente nos prega cada peça. Vou até o banheiro, e bebo um gole de água da pia mesmo. Precisava de água com urgência, e essa foi minha única saída rápida. Após o ato, lavo meu rosto, tento organizar a bagunça que é meu cabelo, apesar de liso, hoje ele estava meio revoltado, não obtendo resultado algum, e reparando que estou todo suado, graças a esta noite de sono, decido que devo tomar um banho.
Retiro minha roupa de dormir, entro no Box e ligo o chuveiro, colocando a água mais quente possível, preciso relaxar os músculos. Entro debaixo e começo minha higiene, porém, minha mente se passava apenas uma coisa, o pesadelo que tive nesta noite. Parecia tão real... e se não for um pesadelo, se for ele? Se ele tivesse conseguido invadir minha mente... mas, porque eu? Porque só eu o ouço, e agora isso? O que eu tenho haver com ele?
Não sei se devo contar sobre o sonho para Felipe, provavelmente ele iria criar uma teoria maluca e me deixar apavorado, ou talvez eu conte, ele poderia me ajudar com isso. Não sei, indecisão é complicado.
Termino meu banho, e apressadamente vou até meu armário, pego um uniforme do Zoo, apesar de eu não precisar usá-los, eles são bastante confortáveis. Saio do meu quarto e vou rumo ao jardim, onde ficam os balanços. Consigo avistar Felipe sentado embaixo de uma árvore com uma folha na mão e um sanduíche na outra. Felipe é faminto, eu admiraria ele não estar mastigando algo.
- Oi, acordou tarde hoje, hein! – Meu primo exclamou ao me ver aproximar de onde estava.
- Digamos que eu tive um sonho muito louco que me prendeu madrugada adentro.
- Hummmmm, sexo violento? – Felipe diz, rindo, garoto meio pervertido.
- Não, idiota! mas antes fosse... você... sua mente é muito poluída, vá se tratar. - Falo acompanhando ele na risada. - Tive apenas um pesadelo ruim.
- Entendi, quer falar sobre isso? – Meu primo perguntou, colocando o papel ao seu lado, e mordendo seu sanduíche.
- Definitivamente não, talvez mais tarde.
- Tá bom, quando quiser, agora leia isso. – Felipe me entrega a folha. – É a tradução daquele documento, mas acho que não deu muito certo. Teremos que procurar outro meio. Pego o papel, e começo a correr os olhos nas frases ali descritas.
"O relógio é a chave de todo mal, não coma amendoim próximo das 12:00, os ponteiros marcam quando despertar o astronauta...." – Nem termino de ler a primeira frase, e já devolvo o papel a meu primo.
-É Felipe, acho que não deu certo mesmo, nossa tradução, mais tarde vamos lá devolver aquele documento onde achamos e pronto.
***** NOTAS DE RODAPÉ *****
Chegamos ao fim de mais um capítulo, este com um tom de adrenalina rsrsrs.
Espero que tenha gostado, não se esqueça de comentar, e deixar seu votinho, isso nos ajuda muito. Te espero no próximo. até mais.
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Crisântemo Zoo
AventuraHá quem diga que "Crisântemo Zoo" não é apenas um Zoológico comum, as pessoas desconfiam que ali não há somente animais em exibição. Eles nem imaginam o quanto estão certos. Em um mundo repleto das mais diversas criaturas sobrenaturais, foi criada n...