Crisântemo Zoo

Capítulo 22: O primeiro dia.

Então é hoje, o "grande" dia, a volta às aulas, meu estômago amanheceu embrulhado, pela primeira vez desde que eu cheguei aqui no Zoológico não vivi uma vida normal, muito pelo contrário. Mas eu até me acostumei com a rotina, e agora, ter uma dose de normalidade, não será nada fácil.

O final de semana foi regado a risadas, eu estava legitimamente com saudades de meus primos, passamos todos os dias sentado contando piadas, e no final da tarde, acendendo fogueiras para contar histórias de terror. Olha a ideia das pessoas, contar história de terror num lugar cheio de criaturas arrepiantes.

Eu ainda tive que aturar Felipe ontem o dia inteiro em meu ouvido, indignado por não conseguir me convencer a comprar um carro de luxo, ele acha que dinheiro dá em árvore. Segundo ele, é vergonhoso eu com tanto dinheiro, andar nos jipes do Zoo, mas eu gosto deles, são legais. Enfim, não vou comprar carro algum.

- E aí, priminhooooooo. – Ouço uma voz estridente mais que conhecida por mim, gritar fervorosamente entrando em meu quarto. Felipe adentra o local, com sua mochila apenas sobre um dos ombros, vestindo uma calça jeans, e uma camiseta folgada do Zoo. Bem diferente de mim, que apesar de também ter uma camisa do zoo, estava utilizando um colete preto. – Animado para o primeiro dia de aula? - Ele pergunta. - Notei algo, desde quando você conheceu Oliver, sempre tem uma peça preta nas suas vestimentas. – Felipe comenta, e eu mando-o calar a boca, depois de responder que estava sim animado para tal dia, mesmo não estando nem um pouco, aulas são chatas, num colégio onde não conheço ninguém além de meus primos, então, nem se fala. .

- Vamos logo ou nós vamos nos atrasar. – Rebeca entra nos chamando, ela vestida mas moderadamente, estava em um vestido longo, que desenhava bem suas linhas, até parecendo que ela ia para uma festa.

- Wau, garota, você vai pra escola, ou para o baile de debutantes? – Pergunto-a, batendo palmas por sua beleza. Felipe apenas concorda com a cabeça.

- Nem todo mundo tem um Zoológico para chamar de seu, só os ricos podem se vestir como quiser, e ainda achar alguém na vida. – Que garotinha abusada.

- Primeiro, este zoológico um dia também será de vocês, segundo, eu não sou rico, terceiro, ricos também se vestem bem, quarto, se você está achando que tem permissão para achar alguém na sua vida, tira o cavalinho da chuva, ninguém vai namorar meu Bebe. – Falo e começo a rir quando ela me levanta o dedo do meio.

- Exatamente, eu quero que você apareça com um safado lá em casa, que eu o jogo para as cobras o pegarem, depois o jogo para os lobos o morderem, depois jogo para os búfalos o chifrar, depois para os leões comerem. Sim, ele terá uma morte dolorosa. – Felipe fala dramático articulando como se estivesse realmente fazendo o que dissera, exagerado como sempre.

- Vão se ferrar vocês dois. – Ela grita. – E vamos logo, antes que chegamos atrasados, vocês esqueceram que moramos no fim do mundo? – Rebeca sai trotando do quarto, e eu olho para Felipe que já estava rindo. Decidimos então ir.

Meu primo me guiou até o colégio, lotado de carros novos e impressionantes. Garotos e garotas descendo de veículos que certamente comprariam 200 jipes desse.

- Eu falei que você deveria chegar aqui de helicóptero. Talvez o garoto mais rico do local, andando de jipe, que vergonha de estar aqui com você, meu primo. – Felipe choraminga ao meu lado.

- Amanhã venha a pé então, babaca. – Falei irritado, dando uma mal resposta na tentativa de encerrar o assunto com o tópico "carro do Louis" antes mesmo que ele se inicie

- Ogro. – Felipe berra, me dando um murro no braço. – Seu cavalo, se eu soubesse que dava coice, eu jogava o milho de longe. – Termina de dizer, saltando do Jeep, sem me esperar, que abusado.