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   Harry percebeu que não era tão simples assim que chegou no outro dia e não foi recebido pelo ômega, ou por ninguém. Zayn, que era um velho amigo, tinha garantido que seu novo chefe estava em casa, afinal o ômega não saia mesmo.

   O alfa sentia como se estive tomando conta de filhote, a falta de comunicação estava o matando. Seus instintos não conseguiam se acalmar vendo aquele ômega tão perfeito daquele jeito. Sem contar que o cheiro de tristeza se espalhava rapidamente pela casa, o fazendo se sentir ainda mais mal.

   Era o sétimo dia, ele tinha resolvido fazer alguma coisa, mas travou ao tocar a maçaneta da porta do quarto, nunca tinha se sentido tão hesitante, suas mãos pareciam atadas.

   Ele bateu na porta. Três vezes.

   — Entre. — se não fosse pela audição mais apurada, nunca conseguiria ouvir a ordem que não passava de um sussurro.

   Harry pensava em como seria se aquele ser tão triste estivesse bem. O quão bonito e iluminado ele seja se deixasse ser cuidado, amado.

   — Senhor Tomlinson? — obedecendo a ordem, mesmo em dúvida, ele entrou no cômodo. Não pode esconder sua surpresa ao ver Louis sentado confortavelmente perto da janela, estava totalmente coberto por várias mantas e a touca do moletom cobria os cabelos bonitos.

   — Sim, Harry?

   Nessa semana em que o alfa trabalhava ali, eles não conviveram quase nada, o ômega saia para fazer algumas poucas refeições e só, nunca havia pedido ajuda ou algo para comer, era quase como um estranho trabalhando para uma sombra.

   — Como se sente hoje? — ousou indagar. Queria mesmo saber, apesar de achar que não teria um resposta sincera.

   — Será que... — Louis hesitou um pouco, comprimindo os lábios pálidos — Poderia trazer um chá e se sentar aqui comigo?

   — Claro. — seu lobo estava ainda mais agitado do que no primeiro dia, era como se tivesse recebido a melhor notícia do mundo — Tem preferência de chá?

   — Eu... talvez de jasmim?

   Queria dizer que a casa é dele e que se pedisse, poderia servir de tapete, mas se limitou a concordar, saindo repentinamente. Agora parecia que a criança era ele.

   Louis tinha acordado estranho naquela manhã. Era a primeira vez em semanas que conseguia dormir por pelo menos cinco horas diretas, sem nenhum pesadelo. Ele se sentia estranho e carente, um pouco quente, apesar de sentir muito frio, como se precisasse de alguém para esquenta-lo. Pensou ser seu cio, mas lembrou que estava tomando supressores há algum tempo.

   Resolveu fazer o que não fazia há algumas semanas, desenhar. Era a única coisa que sabia fazer direito. Fez três lindos vestidos, por um momento se imaginou os usando, os fez para si mesmo, para agradar uma parte sua que insistia em deixar na parte mais afastada e empoeirada de seu ser. Sempre se repreendia ao pensar em coisas assim. Não era certo.

   Você é um adulto, Louis. Um homem.

   Conseguia escutar a voz asquerosa de seu avô dizer. Era como se seu espírito estivesse ali, sempre lembrando de o quão defeituoso podia ser.

   Não reparou quando o alfa voltou a se aproximar, nem quando uma única lágrima pesada atravessou seu rosto, achando um destino final na folha de papel que seu colo.

   — Senhor. — a voz amena o fez ter um sobressalto — Me desculpe. Não queria assusta-lo.

   — Tudo bem. — suas mãos pequenas pegaram a xícara que lhe foi estendida. O calor da líquido que esquentava a cerâmica o fez se arrepiar, era bom, assim como o cheiro — Sente-se, Harry. — apontou a poltrona a sua frente.

   O alfa obedeceu. Louis pensou que não podia sentir tristeza maior do que ser condicionado àquilo, ele sentia que o alfa era uma boa pessoa e não conseguia acreditar que os deuses lhe deram algo tão precioso quando ele era tão quebrado.

   Porque Louis sabia. Ele sentia. Harry tinha nascido para ser dele, só mesmo modo que ele tinha nascido para ser do alfa. Infelizmente as circunstâncias eram terríveis e ele não se via sendo de alguém, não quando não conseguia ser dele mesmo.

   — Você tem família? — seu olhar estava preso no líquido quase transparente. Ele amava chá.

   — Não. Eu sou um lúpus, sabe? Não posso me apaixonar ou amar alguém que não seja meu verdadeiramente.

   — Sei. Qual sua idade?

   — Tenho vinte e oito. — deu de ombros. Tinha um pouco de experiência na vida — E o senhor?

   — Vinte e cinco. Pode parar de me chamar de senhor, por favor? É que... não gosto.

   — Tudo bem, como quiser.

   — Harry — Louis apertou os lábios novamente, olhando o alfa em seus olhos pela primeira vez. Ele não conseguia simplesmente pensar que estragaria a vida daquele ser tão gentil. Sabia que qualquer pessoa que entrasse em sua vida estava condicionada à desgraça, assim como ele. Não queria fazer aquilo com o homem a sua frente, ele tinha tanta vida e luz, era como uma criança protegida pelos pais, pais de verdade — Me rejeite.

   Aquilo tinha sido como um soco forte em seu estômago. Esperava por tudo, menos por aquilo. Era como se o ômega estivesse pedindo para que o matasse e, de certa forma, era exatamente aquilo.

   — O... O que?

   — Você sabe, conseguiu sentir, não foi? Me olha como se soubesse. — Louis se encolheu ainda mais, como se fosse se tornar uma bolinha ali.

   — É claro que sinto, mas por que isso? O rejeitar?

   — Não sou digno disso. Não posso ser de alguém. Sinto muito.

   — Está pedindo que eu o mate. — aquilo não era uma pergunta e seu tom deixava claro. O cheiro do alfa ficou mais forte, algo como surpresa e indignação.

   — Estou pedindo que se liberte. Nem a pior das pessoas merece estar preso a mim. — voltou a encarar sua xícara. O quão doloroso aquilo poderia ser — Eu sou ruim e egoísta, desprezível. Não posso ter você ao meu lado quando quiser. Não é sobre mim.

   Nada é.

   — Quem disse isso? Pelo amor dos deuses. Eu nunca o rejeitaria. Você não é nada disso.

   Apesar de não estar alterado, Louis sentia medo da reação do alfa, tanto sua expressão, quanto o cheiro deixaram bem claro. Ele não queria que fosse como os outros, mas tinha tanto receio.

   — Não sinta medo de mim, ômega. Nunca faria algo que pudesse machuca-lo, morreria antes.

   Hazz deu um passo em sua direção, mas parou ao ouvir o soluço esganiçado de seu ômega. Aquilo quase o fez entrar em desespero.

   — Saia. — a súplica escapou em meio ao choro, como uma urgência — Me deixe só, por favor.

   Ele obedeceu, sentindo que faltava uma grande parte de si.

Your Eyes - LarryOnde histórias criam vida. Descubra agora