Louis o encarava. Harry pode sentir o medo escorrer por seus ossos pela forma que era olhado. O pequeno ômega não tinha uma cara muito boa.
— O que foi, princesa?
O mais novo bufou, dando as costas e voltando a se sentar perto da mesinha da sala.
— Você está fedendo a outra ômega. Com quem estava? — tinha que admitir, estava com ciúmes, apesar de confiar no alfa, ainda se sentia inseguro, ao mesmo tempo não queria cobra-lo e fazer com que ele fosse embora.
— Ah, eu apenas ajudei a vizinha a subir com umas compras, não foi nada demais. — Hazz se aproximou, podendo observar o que o outro fazia. Os dedos gordinhos de Louis desenrolavam alguns fios de barbante colorido, ele costumava a fazer isso quando estava ansioso.
— Parece que estavam se esfregando. — resmungou, tentando não sorrir quando Julie se esfregou em sua perna, indo deitar em seu colo.
— Você está com ciúmes. — O sorriso grande do alfa quase tomava seu rosto todo.
— Não. Não seja convencido.
— Você fica ainda mais lindo com ciúmes. — observou, as bochechas de Louis queimaram em vergonha — Sabe que eu sou todo seu. A vizinha não teria a mínima chance.
— Dê um jeito de se livrar desse cheiro e volte para ficar aqui comigo.
— Tenho que preparar se café.
— Já tomei meu café da manhã.
— Mas... você...
— Sei fazer meu café. Não sou um completo inútil, Harry.
O alfa o olhava, meio surpreso, meio cético. Podia ver as mãos do ômega tremerem e sentia um leve amargor em seu cheiro. Ele esfregou o rosto, violentamente.
— Ei, princesa, o que houve? — Hazz se aproximou lentamente, deixando sua fragrância mais forte, forte o suficiente para fazer efeito no menor. O alfa se abaixou, tocando suas mãos — Que tal se me dissesse como se sente?
— Não sei. Não me sinto bem. Eu acordei me sentindo mal.
— Por que não me ligou? Eu teria chegado mais cedo. — se sentou, puxando Louis com cuidado para o seu colo, o moreno enfiou o rosto em seu pescoço, se embriagando com o cheirinho que sempre o acalmava.
— Você sempre está aqui comigo, em todos os horários, parece que eu estou te prendendo junto comigo. Não quero que se sinta na obrigação de passar comigo cada momento do seu dia. — aquilo podia soar hipócrita, já que seus amigos o pagavam literalmente para cuidar dele, o que também andava passando por sua cabeça. Talvez se não fosse por isso, o outro já teria desistido.
— Na verdade, eu estou aqui todos os momentos em que você está acordado, o que só tem acontecido com mais constância há algumas semanas. Não se preocupe, não parei de viver minha vida. Acho que estou vivendo bem mais até.
— Você pode ir, se quiser. Eu já estou bem melhor e não preciso mais de babá.
Hazz riu.
— Não sou sua babá, sou seu companheiro, seu alfa. Além de minha obrigação, é minha escolha cuidar de você e mostrar como você tem sido uma das minhas maiores prioridades.
— Alfa — Louis suspirou, olhando os olhos verdes que carregavam tantos sentimentos — Me conte coisas sobre você, coisas que qualquer um com o mínimo de convivência saberá. Você sempre quer saber sobre mim e nunca fala sobre você.
— Ok. Eu nasci na Austrália, por isso o sotaque, tenho 28 anos, terminei a faculdade de gastronomia ano passado, eu fiz pós também. Eu terminei o ensino médio com 17 anos e fui viajar o mundo, porque nunca achei que fosse fazer faculdade, na verdade, eu odiava estudar. Conheci a América do Sul quase inteira e alguns países da África, Ásia e o Alasca. Foi viajando que descobri meu amor pela culinária.
— Então temos um mochileiro aqui. — brincou, dedilhando a clavícula do maior.
— Eu gosto de aventuras. Continuando, tenho duas irmãs mais velhas e elas ajudaram nossa mãe a me criar, elas são incriveis. Tenho um sobrinho fofo e uma cunhada legal. Sou canhoto e tenho pouca ou quase nehuma coordenação motora do lado direito, sem contar no pessimo senso de profundidade.
— Algum trauma? Suas alergias ou fobias.
— Tenho fobia de palhaço e tenho trauma de paraquedas. Perdi um amigo em um salto, eu estava lá, foi bem pesado.
— Sinto muito. — acariciou seu maxilar, esperando transmitir empatia o suficiente.
— E você?
— Traumas? Tenho muitos, incontáveis, na verdade.
— Pode me contar um?
— Perdi um bebê aos 19 anos. — contou, fazendo com que o outro arfasse e se afastasse um pouco.
— O que?
— Acho que é um dos mais leves. Ja estava de sete meses, o que quase me matou também, tive que fazer uma cirurgia pequena para retirar o feto, tenho uma cicatriz. Bom, eu tenho várias, de todos os tamanhos.
— Espera, acho que é muita coisa. — Harry se arrumou sob Louis, tentando absorver todas as palavras e a história em si — Está me contando isso como se fosse uma coisa simples. Não te afeta?
— Ter perdido o bebê? Não. Mas se eu fosse contar o por quê não, teria que falar tudo e não sei se você está preparado.
— Você está? — recebeu como resposta um balançar de ombros — Então me conte.
— Prometa que não vai deixar que isso interfira em nosso relacionamento. Vamos continuar sendo apenas nós.
— Eu prometo.
— Tudo bem. — O ômega fez uma careta antes de começar, se aconchegando melhor aos braços do maior — Quando eu tinha 7 anos, sabotaram o helicóptero em que meus pais estavam viajando, eles morreram e todos conhecem essa história. Consequentemente, minha guarda foi passada para o meu avô paterno, o problema é que aquele velho me odiava, ele odiava minha mãe, por ela ser pobre e ele achar que não era boa o suficiente para o meu pai, o ódio foi passado de geração, e o fato de eu ser ômega também não ajudou. O velho começou a me maltratar, me batia e me deixava sem comer, mas sempre que tínhamos uma festa, ele me enchia de comida pela semana anterior inteira.
"Foram diversas surras e espancamentos. Até meu primeiro heat, depois disso ele começou a me torturar; tenho algumas marcas de cigarro e charuto, também tenho algumas cicatrizes das fivelas de seus cintos nas costas e barriga. Ele me jogou das escadas três vezes, na última quebrei duas costelas, o que o fez parar."
As mãos do alfa estavam ficar em suas costas e em momento nenhum ele percebeu como seu toque havia ficado mais firme e protetor, assim como o aroma, que começava a se transformar em odor.
— Quando eu fiz 17 anos, ele me negociou, como se eu fosse uma mercadoria, me vendeu para outro monstro inescrupuloso, que também me espancava e me molestava, ele me... sabe, abusou de mim, até que eu engravidei e, caramba, eu odiava tudo, odiava aquela criança, ele, a mim. Tudo. Não queria ser mãe e, apesar das circunstâncias, fiquei feliz que ela não teve a oportunidade de nascer. Parece duro, mas eu não conseguiria olhar para a lembrança dos meus piores dias e não sentir nada, eu me odiei por anos, imagine àquela criança.
"Ele causou o aborto, eu estava no andar de cima e ele chegou bêbado como sempre, eu fui ver o que era todo aquele barulho e como um passe de mágica, aquele monstro estava do meu lado, dizendo coisas horrendas. Ele me deu um tapa e eu desequilibrei. Passei por mais algumas desgraças, mas o ponto alto foi esse. Ele morreu quando eu fiz 20 e velho já o tinha feito há dois anos, então fiquei livre. Pelo menos teoricamente."

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Your Eyes - Larry
FanfictionLouis era um ômega lúpus que precisava de ajuda, sempre precisou, mas com o tempo, percebeu que teria que aprender a ser só. Com o fim trágico de seu relacionamento que já não andava bem, o ômega só se vê cada vez mais imerso em sua escuridão. Até...