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   O ômega se olhava no espelho pela milionésima vez, se perguntava se estava coberto o suficiente ou se não sentiria muito frio, porque ele sempre estava com frio. Usava roupas comuns, sempre com grandes moletons que pudessem cobrir as cicatrizes.

   As vezes ele sentia que não podia esquecer por conta delas.

   — Ômega? Está acordado? — a voz suave do alfa foi ouvida do lado de fora da porta. O ômega a abriu — Ah, oi. Por que está acordado tão cedo?

   Eram 8h e o pequeno não costumava acordar antes da 9h30, o maior apenas gostava de passar por ali para checar e logo depois ia fazer suas tarefas.

   — Bom dia. Eu tenho umas coisas para fazer. Tenho que comprar tecidos, ir ao meu psicólogo, ao hospital e talvez conversar com o meu advogado, não resolvi isso ainda.

   — Quer dizer que vai sair?

   — É claro, Hazz, não posso fazer isso aqui dentro, posso?

   — Sim, é verdade. Vou preparar seu café e então posso levá-lo.

   — Não precisa.

   — Eu quero. Quero estar ao seu lado em tudo.

   — Alfa insistente. — reclamou, saindo do quarto, pode escutar o riso do outro, que negava.

   No fundo ambos sabiam o quão perfeitos pareciam um para o outro e, apesar de gostar de negar, Louis sentia que estava começando a gostar demais do mais velho. A sua falta de inclinação àquilo estava ficando cada vez menor, ele sentia vontade de abraça-lo e permanecer dentro do abraço para sempre. Seu ômega queria ronronar a cada mínimo toque ou carinho, pedia incessantemente para que parava de negar uma coisa que ele queria tanto.

   — Obrigado, alfa. — sorriu quando um pote com banana, aveia e mel foi posto à sua frente.

   — Por nada, querido. Quer panquecas? Ou algo mais?

   — Iogurte. — apontou para a geladeira, começando a comer sua pequena refeição.

   Louis  amava frutas, era a única coisa que ele podia comer a vontade e não machucaria seu estômago. O café da manhã era seu favorito.

   — Oi, filhote. — sorriu abertamente ao ver Julie se esfregar em sua perna coberta — Vem, querida. — apontou seu colo, onde a gatinha pulou no mesmo instante, se aconchegando.

   — As vezes acho que ela é sua soulmate e não eu.

   — Não seja ciumento, alfa. Ela é minha neném, você é meu soulmate.

   Apesar de parecer não se importar com aquelas palavras, o ômega sabia que era como se afirmasse bem mais do que apenas aquilo, era como uma autorização para ficar. O cheiro do mais novo agora parecia completamente puro, ele cheirava a flores com um toque doce delicioso, o alfa sentia que podia aprecia-lo para sempre. Já o mesmo cheirava a algo como madeira e floresta em um dia consideravelmente quente. Eram perfeitos juntos.

   — Pronto. — avisou ao terminar, tinha um sorrisinho de criança que acabou de receber o brinquedo que tanto queria.

   Mais alguns minutos e eles estavam saindo de casa. Apesar de estar completamente amedrontado, Louis não recuou, ele se deixou ser conduzido pelo alfa até o andar do estacionamento e então ao seu carro, que precisou de uma ajuda para subir, já que era consideravelmente alto.

   — Onde quer ir primeiro?

   — Na loja de tecidos. Tem uma ótima no centro, posso nos guiar.

   Harry apenas concordou.

   Eles passaram o caminho inteiro escutando músicas no rádio do carro, nenhum dos dois ousou quebrar o silêncio confortável. Por conta do horário, o trânsito não estava tão ruim, afinal, já eram quase 9h, às pessoas deviam estar trabalhando.

   A loja era um lugar bastante delicado e bonito, sem contar que tinha um aroma delicioso. Uma das atendentes já conhecia o ômega fazia um bom tempo, ele ia ali sempre que podia, então foi mais fácil explicar o que queria. O alfa apenas observava todos os seu movimentos enquanto eles conversavam sobre tecidos que para si pareciam a mesma coisa, se não fosse para carregar tudo que o menor comprou, ele teria sido dispensável.

   — Qual a diferença? Eles parecem iguais. — ele dizia sobre a organza e o chiffon.

   — Organza é mais estruturado e é ainda mais delicado e bonito.

   — Ainda não entendo, mas que bom que achou tudo.

   — Desenhei algo para Nini, acho que ele vai gostar. — contou, empolgado. Aquele podia ser outro de seus pontos — Estou pensando em começar uma coleção. Não sei se vai dar certo, mas tenho muitas ideias.

   — Claro que vai dar certo, você pode fazer tudo, lembra? — Hazz pegou sua mão, dando um aperto fraco, apenas para mostrar que o apoiava em tudo.

   A próxima parada foi o psicólogo, que foi um assunto mais difícil de ser tratado, ele ainda não se sentia pronto, mas sabia que precisava daquela ajuda. Faria aquilo por si mesmo, como se quisesse preservar um pouco sua vida. Estava pensando em como seria bom ficar bem, não sentir medo de tudo e talvez ter mais momentos como os de ontem, com seus amigos e seu alfa, poderia sair um dia desses e se divertir com eles, ou também poderia ter um tempo de qualidade com Harry, que insistia tanto naquilo. Talvez eles merecessem mais.

   O psicólogo não foi tão invasivo como ele esperava, conversaram algumas poucas coisas, umas coisas não tão profundas, era como falar sobre seu dia com um desconhecido. Ele não sentiu nada, sabia que era um processo longo e que devia ser paciente. No hospital foi atendido pelo único médico em quem confiava, eles já se conheciam também, então não houve muita comoção. O doutor confirmou que ele estava desidratado e magro demais, fizeram exames e ele foi encaminhado à uma nutricionista, também foi recomendado que suspendesse os supressores por um tempo indeterminado, não precisavam de coisas para desregular seus hormônios ainda mais.

   — Tenho que voltar em quatro dias, é quando os resultados irão sair, também foi quando marquei a consulta com a nutricionista, então ficou tudo de vez. — explicou enquanto entravam em casa. Tinha resolvido chamar o advogado aqui, já que estava com fome e não queria ficar mais tempo longe de casa. Já tinha sido um passo grande demais.

   — Está se sentindo bem com isso? Se sente confortável? — o alfa colocou todas as coisas que compraram sobre o sofá.

   — Na verdade, não. Mas é um processo, tenho que fazer isso, tenho que ficar bom.

   — Sabe que eu estou aqui para qualquer coisa, sim? Vou estar sempre. — caminhou a passos largos até seu pequeno ômega, o envolvendo em seus braços — Meu ômega.

   — Sei que sim. Obrigada, alfa.

Your Eyes - LarryOnde histórias criam vida. Descubra agora