Capítulo 25

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Os olhos castanhos estavam há quase um minuto presos nos ferros a sua frente, tentando assimilar o que Freen dissera para que ela fizesse. Confiava nela, contudo, seu verdadeiro medo estapeou-lhe bem na cara: E se não conseguisse?

— Que tal se tentarmos depois? - Becky perguntou e Freen riu suavemente.

— O que combinamos na virada de ano, hum? - perguntou, erguendo uma sobrancelha, mas jamais perdendo o sorriso.

— Que este ano eu andaria antes da primavera chegar. - Becky disse e Freen aquiesceu.

— Exatamente. - afirmou. — E para isso você precisa começar a treinar na barra paralela. - Becky umedeceu os lábios pensativa antes de olhar para Freen temerosa.

— E se eu não conseguir?

— Você vai. - disse veemente. — Seus braços já estão fortes para sustentar o seu peso, agora precisamos trabalhar mais suas pernas.

— Por que meus braços estão bons e minhas pernas ainda não? - perguntou.

— Nossas pernas exigem mais força de nós, você vai chegar lá. - Sarocha insistiu pacientemente. — Para irmos à piscina da sua casa em alguns meses quero que esteja boa, se não, eu não irei. - impôs. Rebecca entortou a boca e olhou para a barra antes de voltar a olhar para Freen.

— Sem Chamcham de maiô ou biquini? - perguntou e Freen segurou o riso.

— Sem Chamcham de maiô ou biquini. - disse irredutivelmente, o que causou um longo suspiro em Becky.

— Você vai me ensinar a nadar? - ela era esperta, queria negociar.

— Sim, mas precisa testar a barra.

— Se eu cair você não ri? - pediu envergonhada.

— Você não irá cair. Eu estarei bem atrás de você, pronta para te segurar. - Freen informou e a menor tomou fôlego antes de assentir.

— Tudo bem, me leve até ela. - pediu. Queria, a todo custo, voltar a andar novamente; queria os passeios que Freen lhe prometeu; queria poder ter a liberdade de tomar um banho sozinha; de poder subir a bendita escada sozinha; de poder se deitar por conta própria, pois apesar de isso ser algo que ela podia, sua mãe sempre a colocava para dormir.

Não que ela reclamasse, mas havia dias onde ela realmente queria estar sozinha. Aquele era um sentimento novo nos últimos dias, afinal sempre odiara ficar sozinha, porém ter as pessoas em cima dela o tempo inteiro estava começando a incomodar um pouco a menina, mas ela não diria nada a ninguém, não queria ser uma ingrata.

Freen ajeitou a cadeira de rodas em frente à barra e estendeu os dois braços a ela, fazendo a maior segurar suas mãos. Aquele, de longe, era seu toque preferido: O de Freen. Havia se passado três semanas após o natal, porém já sentia falta dela dormindo ao seu lado, porque a verdade era que Freen contava as melhores estórias, todavia, o que prendia a atenção de Rebecca era a voz eloquente de Freen, cheia de vida, fazendo cada personagem ser compreendido perfeitamente.

— Pronta? - a fisioterapeuta perguntou e Becky engoliu em seco, mas mesmo assim assentiu. — No três você vai fazer o que eu te disse, certo? - Novamente Becky aquiesceu.

—  Certo. - Becky disse se preparando.

—  Um... - Freen começou a contagem, tentando transpassar segurança, porém seu interior estava aflito e ansioso. — Dois... - Pohn se aproximou um pouco mais, mal podia esperar por aquilo. — Três. - disse por fim, vendo Becky tomar impulso e, com a ajuda do leve puxão de Freen, a garota ficou em pé.

Becky olhou para as próprias pernas sentindo-se diferente, bem distinta do que algum dia já se sentiu. Seus olhos umedeceram e um enorme sorriso preencheu-lhe o rosto, fazendo Freen acompanhar a expressão.

— Eu estou em pé, P'Freen... - Becky disse ainda incrédula. Sabia que não sairia andando por aí, que ainda tinha um longo caminho a percorrer. Claro que sabia! Freen já havia lhe explicado, mas o fato de conseguir se sustentar sobre seu próprio peso era magnífico e ela não podia medir a amplitude de seus sentimentos.

Freen sorria diante da emoção no rosto de Becky e de Pohn, mas as borboletas em seu estômago vieram lhe visitar assim que Becky apertou mais suas mãos e a puxou para mais perto. Seu rosto se levantou alguns centímetros e seus olhos subiram, acompanhando seus cílios, apenas para encontrar as orbes castanhas fixadas em si, tão cintilantes quanto nunca. Freen estava em uma espécie de transe, até ouvir Becky dizer algo novamente:

— Eu sou mais alta do que você. - Becky disse sorrindo singelamente, fazendo Freen engolir em seco devido à proximidade das duas.

Claro que ela não beijaria Becky ou vice-versa, não ainda sequer trocado outro selinho depois do primeiro e, mesmo que tivessem, ela tinha a plena ciência de Pohnas vigiando. O que fazia Freen sentir sua pressão baixar foi a sensação de Becky em pé tão perto; uma real e clara melhoria; uma sinal de que as coisas não estavam estacadas.

— Sim, não é muito difícil ser mais alta do que eu, sabe? Levando em conta que não sou alta. - Freen disse rindo suavemente, sentindo Becky se agarrar mais em si como apoio.

— Eu sempre imaginei se eu seria mais alta. - Becky disse sorrindo. — Você continua linda daqui de cima.

Certo, ainda havia momentos onde Freen enrubescia fortemente ante aos elogios de Becky. Eram elogios inocentes, mas que faziam seu coração flutuar mesmo assim. Um pigarro de Pohn fez Freen corar ainda mais, focando no que realmente devia.

— Certo, vou para trás de você e te guiar. - Freen disse, segurando a cintura de Becky e indo para trás dela. A menor empurrou um pouco a cadeira para trás e se ajeitou no corpo da maior, tendo suas mãos segurando firmemente na pele de sua cintura. — Segure nas barras, Becbec. - E assim a menina fez, levando suas mãos brancas até as barras.

— Eu realmente sustento meu próprio corpo com os braços. - Becky disse entusiasmada, vendo que Freen não era nada mais que um apoio.

— Agora quero ande. - Freen pediu. — Aplique todo o peso que suas pernas aguentarem, mas fique atenta aos braços, eles te segurarão quando as pernas não ajudarem.

— Você vai ficar aí, não é? - Becky perguntou. — Mamãe, eu vou andar! - exclamou com entusiasmo.

— Vou ficar com você todo o tempo. - Freen disse, esperando Pohn dar um beijo no rosto da filha por cima da barra antes de se afastar de novo.

Durante todo o tempo Becky fez todos os exercícios sem reclamar, colocando máximo empenho em tudo, mas houve uma hora em que seu corpo estava extremamente cansado, que ela já não aguentava muito. Freen soube ler seus movimentos, a colocando na cadeira novamente. Apesar da evidente exaustão, Becky parecia tão feliz que acabou por segurar a mão de Freen e plantar um beijo sobre a delicada pele.

— Obrigada, P'Freen. - pediu alegremente, fazendo Freen sorrir diante do gesto.

— Obrigada você por tentar. Agora preciso continuar o trabalho, tenho mais alguns pacientes. Nos vemos amanhã pela manhã. - Freen disse, pois já fazia parte de sua rotina visitar Becky e Pohtodos os dias. — Fiquem com Deus. - ela disse, se inclinando para deixar um beijo no rosto de Becky, sem embargo, foi surpreendida quando a menina virou o rosto, fazendo seus lábios se encontrarem.

Freen corou assim que se afastou e seus olhos, automaticamente, foram para Pohn. Será que a mulher pensava que sempre que elas ficavam sozinhas faziam isso? Céus, o embaraço a dominou completamente.

— Huh, eu... - o riso calmo de Pohn contradizia o aparente constrangimento em seu rosto.

— Vá, querida. Está tudo bem. - Pohn disse e Freenassentiu, segurando a mão de Becky e depositando um beijo ali.

— Nos vemos, princesinha. - disse sutilmente, vendo Becky assentir freneticamente.

— Até amanhã, Fre. - Becky disse, fazendo Freen sorrir antes de sair. Apesar do evidente embaraço, ela ainda assim podia sentir seus lábios formigando e seu coração agitado.

Sem perceber um sorriso brincava em seus lábios.

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Em Um Piscar de Olhos (FreenBecky)Onde histórias criam vida. Descubra agora