Pohn não era boba, sabia que algo não estava certo; conhecia sua filha o suficiente para ver sua expressão triste e confusa. A mulher retirou seu casaco e o pendurou, caminhando até o sofá e se sentando ao lado da garota.
— O que houve, querida? - perguntou com doçura, pois não queria de maneira nenhuma assustar sua filha. Becky entortou o canto dos lábios e negou com a cabeça.
— Eu não sei, mamãe. - ela disse, tentando discernir o que estava acontecendo.
— Por que essa carinha triste?
— Eu... - seus olhos castanhos encontraram o de sua mãe e por um momento ela corou, desviando o olhar para qualquer outro ponto. — Eu não sei o que está havendo comigo.
— Tente explicar para mim, hm? Quem sabe eu possa te ajudar. - Pohn disse, vendo Becky se virar de frente para ela e assentir com a cabeça.
— Está bem. - disse, deixando seus ombros caírem. — Desde que eu acordei no hospital eu gosto da presença da Freen, mãe. - ela confessou. — Mas não é igual antes, com as minhas amiguinhas da escolinha, ela é uma amiga diferente.
— Diferente como? - Pohn perguntou, já tendo uma leve noção do que se tratava, mas mesmo assim querendo ouvir de sua filha.
— Eu não sei. - disse em um suspiro frustrado. — Eu gosto de colorir, mas aí de repente não estou mais prestando atenção no desenho, estou lembrando de como ela sorri quando me conta uma estória. Eu estou confusa, eu... - sua voz se perdeu quando ela começou a chacoalhar a cabeça e seus olhos começaram a tremer, seus cílios piscarem e ela bufar irritada.
— Calma, filha. - Pohn pediu, pegando uma das mãos de Becky e acariciando.
— Não. Eu... Eu não gosto disso. A Fre ficou brava comigo por isso. - disse piscando ainda mais, seu rosto levemente corado pela fúria de si mesma.
— Ela ficou brava? - Pohn indagou.
— Eu acho que sim. - Becky disse, suspirando pesadamente. — Eu vi alguns filmes onde duas pessoas se beijavam. - explicou, começando a brincar com os dedos de sua mãe, que não se importou com aquilo. — E eu entendi o que eu sentia quando estava perto dela. Era isso que eu queria fazer, mas eu não sabia antes.
— E você disse isso a ela?
— Não. Eu mostrei. - falou, olhando para sua mãe com a expressão repleta de culpa. — Liga para ela e pede desculpas por mim? Eu prometo de dedinho que não vou fazer mais isso. - falou levemente afobada. — Mamãe, eu juro que guardo a vontade na caixinha de segredos do coração e não faço mais, mas pede para a Fre não ficar brava comigo, por favor...
— Querida, você a beijou? - Pohn ainda estava presa naquela informação, boquiaberta e surpresa demais para dizer qualquer outra coisa.
— Eu... Não sei o que está acontecendo comigo. - ela disse tristemente. — Meu cérebro quebrou em alguma das cirurgias e não voltou mais ao normal, mamãe.
— Querida, o que está acontecendo com você é absolutamente normal. - explicou brandamente. — E aposto que Freen não ficou brava, talvez surpresa.
— Ela me disse no hospital que também sente as florzinhas. - confessou cabisbaixa. — Eu pensei que ela... Eu pensei... - bufou. — Eu não sei o que eu pensei. Eu não gosto de ter o cérebro quebrado. - Pohn riu e acariciou os cabelos de Becky.
— Seu cérebro não está quebrado. Deixa a mamãe te contar algo. - Pohn começou, pacientemente. — Quando eu conheci o seu pai, eu me sentia exatamente igual a você: Confusa. Eu só pensava nele o dia todo e de como ela reagiria a algo que eu lhe contasse.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Em Um Piscar de Olhos (FreenBecky)
RomanceRebbeca Armstrong tinha apenas seis anos quando seus pais decidiram tirar as tão famosas férias em família. Iriam para a Tailândia, porém, o destino lhes foi cruel, causando o choque de um caminhão desgovernado contra o carro onde estavam durante o...