Capitulo 2 - Além das Chamas

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POV MON

Não estava me sentindo muito bem hoje; sempre que chove ou o clima fica ameno, é como se meu corpo pedisse apenas descanso e nada mais. Não era por menos. Cá estou eu, grávida no auge das 34 semanas, carregando o meu maior sonho, minha doce menina.

Ela foi fruto de um amor que já nascia dentro do meu coração antes mesmo de gerá-la. Já vinha há dois anos me preparando para esse momento e, durante um ano de inúmeras tentativas falhas e nenhum resultado positivo, ela finalmente chegou. Antes dela, eu me sentia frustrada, questionando se esse seria o meu destino, ser solitária neste mundo. Foi isso que eu consegui acreditar desde os meus 17 anos, quando perdi meus pais e meu único irmão em um acidente de jatinho particular da família, em um dia de tempestade. Talvez seja por isso que meu corpo sempre reage assim a dias como este, com medo de qualquer barulho de vento e, principalmente, de chuvas e trovões.

Sempre viajei muito com minha família, mas após o acidente naquele dia fatídico, nunca mais tive coragem de voar novamente. A última viagem que fiz foi com destino a Bangkok, com a intenção de criar raízes aqui. Minha mãe nasceu neste lugar e sempre compartilhou sua paixão pela cultura local, expressando o desejo de retornar um dia e envelhecer aqui. Talvez seja uma maneira que encontrei de permanecer próxima à sua memória e honrar, pelo menos um pouco, o desejo que ela tinha de voltar para cá um dia.

Neste momento estou me preparando pra um banho na minha banheira, toda vez que me sinto indisposta e minha barriga fica um pouco tensionada que é um modo da moradora aqui dentro de mim falar que precisa relaxar. Eu entro nas águas mornas e converso com ela, canto sempre até que ela se acalme, esse é nosso maior modo de comunicação, ela já dita as regras minha coelhinha, determinada assim como a mamãe.

Ouço várias notificações no meu celular e numa tentativa frustrada de alcançar ele na pia, me levanto e saio da banheira. Coloco meu roupão, minhas pantufas antiderrapantes e seco minhas mãos em uma toalha macia.

— Ai, que saco, quem será que é nesse desespero todo? Incrível, só queria relaxar.

Vejo ligações da portaria e do grupo do condomínio, abro imediatamente as mensagens e vejo fotos com mensagens urgentes pedindo para todos saírem pelas escadas de emergência e não usarem o elevador. Quando dou por mim, me assusto com a sirene de alarme de incêndio no meu apartamento. Olho pela fresta da porta do banheiro e percebo uma leve fumaça preta começando a se infiltrar. O desespero toma conta de mim imediatamente.

— Não, não, não! Isso não pode estar acontecendo!!

Numa tentativa frustrada de abrir a porta, sinto um calor absurdo e muita fumaça entrar. Fecho a porta rapidamente. Preciso pensar. Como agir numa situação dessas? O curso de primeiros socorros que fiz para me preparar para um possível engasgamento de bebê não veio com todas essas informações para me ajudar agora.

— Pensa Mon, pensa, rápido. - Digo a mim mesma.

Então tive a ideia de pegar toalhas no meu armário, molhar e colocar entre as frestas da porta no chão do banheiro e pedir aos céus ou alguma força divina para nos ajudar nessa situação desesperadora. Conforme os minutos iam se passando a minha pouca fé ia se esvaindo e meu coração foi tomado pelo medo, medo de perder minha filha, medo de ninguém nos encontrar aqui.

As toalhas que coloquei já não estavam surtindo efeito; a fumaça rapidamente tomava conta do banheiro, e eu temia que o incêndio já pudesse ter se espalhado pelo meu andar. Desesperada, liguei o chuveiro e me enrolei em várias toalhas, buscando minimizar a inalação de fumaça. Eu precisava sobreviver!

FIRE LOVE - MonSamOnde histórias criam vida. Descubra agora