Capítulo 30 - Porta Retratos

4.8K 610 436
                                    

Eu não sabia dizer há quanto tempo estava parada no mesmo lugar, mas eu não conseguia me mover. Em poucos meses o meu planeta pessoal havia girado mais rápido do que a própria Terra. Eu vivi todas as estações em um curto espaço de tempo, foi verão quando eu conheci a Mon, foi inverno quando eu quase morri, mas também foi outono quando aprendi a enxergar na escuridão... E hoje parecia o início da primavera.

Por isso eu estava com medo de me mover, tudo brilhava com tanta intensidade que eu temia que isso fosse apenas um sonho. E se for, eu imploro, por favor... que não me acordem. Eu posso ficar parada, exatamente aqui, apertando essa pequena criaturinha nos meus braços, enquanto sinto os meu ombros serem envolvidos e protegidos pelo corpo de Mon que nos cerca e nos acolhe em uma redoma particular. Cabe o universo inteiro entre nós, cabe o meu amor e cabem as nossas três vidas inteiras.

— Babe, respire... Amor, eu acho que você precisa respirar. — ouço a voz embargada da Mon perto do meu ouvido e parece um comando, sinto meus pulmões se abrirem enfim.

O ar passa apertado entre os meus brônquios, trazendo todos os aromas que eu reconhecia das mais puras flores, as minhas duas flores. Era muito melhor do que oxigênio. Então eu me afasto só um pouquinho, estou procurando uma cor, e a acho em duas pedras preciosas que me encaram com sua profundidade em um tom escuro de topázio. A coelhinha segura meu rosto e parece séria, não compreendendo minha expressão. Sinto suas mãos gorduchinhas deslizarem afastando as lágrimas que não paravam de escorrer e isso me faz soltar uma risada verdadeira.

— Mon?! Ela... Ela andou?! — eu pergunto em um sussurro, sem desviar o olhar, ainda com medo de despertar em um hospital com o som de algum monitor apitando.

— Sim! Eu acho que sim! — Mon começa a rir de repente, mas ela parece estar limpando as próprias lágrimas no meu ombro, não quer se afastar igualmente.

— Está tudo bem, princesinha... — enfio meu rosto no pescoço da coelhinha para fazer um barulho com a boca que sempre a fazia rir. — Porque você cresceu tão rápido?!!

O som da risada da pequena inunda a sala e todas nós começamos a rir juntas. Meu fiel amigo, que foi indelicadamente ignorado na chegada, nosso cachorro se aproxima e balança seu rabo animadamente correndo ao redor de nós. Ele pode sentir as ondas de felicidade que estamos emanando.

— Singha! Me desculpa, amigo! — Estendo minha mão para afagar sua cabeça peluda e ele me lambe de volta.

— Você precisa ligar para os seus pais, Sam... — Mon orienta, sua mão está deslizando pelas minhas costas em um carinho confortável.

— Eu vou, só que mais tarde, ok?! — Desvio os olhos da coelhinha para Mon e ela também parece estar brilhando para mim hoje. — Será que o Dr. Hyun me deu algum tipo de droga?

Mon arqueia uma sobrancelha sem entender do que eu estou falando, pouco me importo, aproveito que a distância é curta e roubo um beijo rápido, alí mesmo, ignorando só por um instante tudo ao nosso redor.

— Como você ficou mais bonita desde a última vez que te vi? — minha pergunta boba faz as bochechas dela corarem, meu sorriso aumenta. — Definitivamente mais bonita.

— Eu acho que vou ligar para o Dr. Hyun e verificar se ele não te deu mesmo nenhum tipo de droga. — Ela fala rindo e apertando seus lábios na minha bochecha porque voltei a encarar a coelhinha.

— Eu te amo, princesinha! Obrigada por me esperar... E parece que voltei a te ver na hora certa, não é mesmo? Agora que você pode andar, todo cuidado será pouco.

— Qualquer coisa, nós compramos uma coleira. — Mon ri mais alto e eu faço uma careta.

— Amor! — Eu a repreendo e aperto a pequena em meus braços.

FIRE LOVE - MonSamOnde histórias criam vida. Descubra agora