Desafogo

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O silêncio do quarto foi interrompido pelo som alto de algo batendo na estante de madeira do canto. Caroline olhou depressa, assustada, e viu Priscila lutando para tentar segurar o objeto que ela havia acabado de derrubar antes que caísse no chão e fizesse um barulho ainda maior. A mulher encostou seu corpo na estante cheia de livros e decorações que remetiam à graduação do dono da sala, prendendo entre ela e a estante o modelo ultra realista do órgão reprodutor feminino.

- Meu Deus! - Sua amiga exclamou quando finalmente conseguiu impedir a queda do objeto.

- Priscila do céu... - Caroline balançou a cabeça para si mesma, olhando em volta como se quisesse ter certeza que ninguém havia visto, apesar de só ter as duas ali dentro do consultório. - Não aprendeu a mexer nela ainda? - Ela bufou.

- Engraçadinha, - Priscila resmungou, erguendo o modelo didático para a altura dos seus olhos enquanto tentava encaixar as peças de volta no lugar. Ela devia ter escutado Caroline quando sua amiga falou para não mexer em nada, mas sua curiosidade havia ganhado a batalha. - Me ajuda aqui, - ela pediu, fazendo beicinho quando ela não conseguiu juntar as duas peças.

- Dá pra mim, - Caroline, meio sentada e meio deitada na maca, pediu, estendendo a mão na direção de Daroit. Com as bochechas coradas, a ponteira entregou o objeto em suas mãos, e demorou nem dois segundos para Caroline montar ele de novo e entregar para a mulher. - Pronto, guarda a boceta no lugar, - brincou.

Daroit corou mais forte ainda, mas pegou o modelo para colocar de volta na estante. - Para.

A mulher mais nova não se afastou da estante, porém, e continuou olhando tudo que estava em exposição lá. Além de livros e dos modelos didáticos, havia alguns panfletos e até um porta-retrato, que ela olhou sem pressa. Daroit colocou a mão na sua barriga já meio inchada, da mesma forma que havia se acostumado a fazer logo que seu estômago começou a crescer, e deu alguns passos pela sala. O consultório estava gelado, como era comum, e Priscila começou a agradecer mentalmente que seu médico em Belo Horizonte havia permitido que ela escolhesse a temperatura do ar condicionado e que Léia estava com ela a cada momento. Ela odiava passar frio.

- Ele tá chutando?

Daroit olhou para sua amiga na maca e sorriu quando notou o interesse claro na expressão de Caroline. - Tá sim. Quer sentir?

Ela se aproximou de sua amiga quando recebeu um aceno de acordo, afastando sua jaqueta para que Gattaz colocasse a mão sobre sua barriga. Caroline sorriu quando sentiu os chutes fracos contra a sua palma, procurando o local onde os pézinhos dentro de Priscila estavam chutando.

- Ainda bem que você é menino, - a mais velha brincou, fazendo alusão ao caos que Daroit havia causado dentro da sala agora pouco.

- Eu vou embora, - a ponteira ameaçou, revirando os olhos.

- Vai não, - Caroline riu. - Senta aqui e para de cutucar a boceta alheia.

Mesmo que estivesse revirando os olhos mais uma vez, Priscila concordou em se sentar na cadeira ao lado da maca. Havia um suporte de revistas ao lado com edições que iam desde carros até a nova coleção de alguma marca famosa de roupas, mas ela estava inquieta demais para se concentrar na leitura de alguma coisa. Caroline a assistiu, no entanto, com um sorriso divertido enquanto Priscila olhava em volta e mexia seus pés de forma impaciente. Para quem havia passado recentemente por aquilo, Priscila parecia pouco feliz de estar de volta em um consultório.

Por conta disso, Caroline soltou uma risada baixa e disse: - É sério, obrigada por ter vindo.

Daroit olhou para ela e estreitou os olhos. - Eu sei que sua primeira escolha era a Thaisa.

Drops of JupiterWhere stories live. Discover now