Rosamaria não saberia dizer se era o horário ou fato de ser o meio da semana, mas o aeroporto não estava tão lotado quanto ela achou que estaria. Achar uma vaga para estacionar não foi problema algum e, depois de debater se alguém ia esperar no carro, ela se juntou à Caroline e Naiane em uma caminhada lenta até o portão de desembarque internacional. Elas haviam chego mais cedo do que o esperado, então ninguém estava com pressa, mas também não tinha muito sobre o que conversar. Na verdade, as três estavam ansiosas para receber Júlia em alguns minutos.
Desde que Júlia se lesionou, duas semanas atrás, as coisas estavam um pouco tensas para todo mundo. Júlia havia feito vários exames com os médicos do clube e eles constataram uma lesão consideravelmente grave no seu joelho, e, depois de muito debate, tanto o clube quanto Júlia chegaram em um acordo que a melhor opção para ela seria voltar ao Brasil para passar pelo tratamento necessário já que, de qualquer forma, ela não conseguiria jogar o resto da temporada. Havia sido um acordo amigável e descomplicado, o que garantiu uma dor de cabeça a menos para a jovem central, mas isso não apagava sua preocupação com todo o resto. A lesão em si, o tratamento, a possível necessidade de realizar uma cirurgia, a recuperação e, claro, seu futuro no vôlei.
"Vai dar tudo certo, cê é nova ainda," Caroline havia dito pelo telefone no dia após o diagnóstico depois que Júlia ligou aos prantos para ela. "E eu não tô mais jogando, então, qualquer coisa, cê pega meu joelho."
Aquilo havia sido o suficiente para arrancar uma risada da menina e, no fim, a acalmou o suficiente para conseguir planejar sua vinda ao Brasil sem maiores dificuldades. Sem pensar muito, Júlia empacotou suas coisas, devolveu o apartamento em que estava ficando, e pegou o avião de volta. Naiane havia prometido que iria a buscar no aeroporto mas a levantadora, na verdade, não tinha um carro para fazer isso e foi assim que as três acabaram ficando de pé na frente do portão de desembarque aguardando a mais nova passar por ele.
Desde que Júlia se acidentou, Naiane havia se tornado um poço de preocupação. Rosamaria teve que a convencer a não pegar um avião para ir atrás de Júlia, a lembrando dos compromissos com o time e que não comparecer em qualquer um dos jogos seria considerado uma quebra de contrato, mas Rosa conseguia entender o que sua amiga estava sentindo. Parecia bobagem, mas ela se preocupava quando Gattaz cortava o dedo ou quando tinha um machucado arroxeado na pele. Rosa sequer conseguia imaginar como iria se sentir se sua esposa tivesse uma lesão do tipo.
O silêncio entre as três deixava claro a preocupação que todas sentiam pela jogadora mais nova. Todo mundo ali tinha um senso de proteção reservado para Júlia que era inegável.
Rosamaria olhou para o painel anunciando as decolagens e pousos para confirmar que o voo de Júlia já havia chego. As poucas pessoas em volta delas caminhavam também sem pressa, alguns ainda com cara de sono, outros falando ao telefone, ninguém prestando atenção nas três mulheres altas esperando por ali.
Rosamaria estava observando uma mulher brigando com a alça da mala quando ela ouviu sua esposa resmungando uma melodia antiga e, infelizmente, bem conhecida. Ela virou a cabeça na direção de Gattaz, as sobrancelhas arqueadas e os olhos incrédulos, mas a central sequer notou seu olhar. Distraída cantarolando enquanto olhava para o painel de voos, Gattaz parecia perdida em seu próprio mundo.
Foi só quando ela murmurou: "Leite-te, leite-te, eu amo leite-te, eu bebo leite Camponesa", que Naiane notou o que já havia capturado a atenção de Rosamaria. A levantadora, no entanto, não teve a mesma paciência. Ela virou em um impulso só, já olhando para Gattaz com o queixo caído e os olhos arregalados.
"Que porra tu tá cantando?"
Caroline parou imediatamente, parecendo completamente chocada com as palavras de Naiane, mas também surpresa consigo mesma por estar cantando a música da propaganda do seu antigo time. Seus olhos passaram de Naiane para Rosa como se ela estivesse pedindo ajuda, mas ela apenas encontrou Rosamaria a olhando com a mesma expressão da outra mulher. Por fim, Gattaz soltou uma risada meio sem graça e ergueu uma das mãos para coçar a nuca, meio sem jeito e sem graça, enquanto a outra mão descansava em sua cintura.
YOU ARE READING
Drops of Jupiter
Romance*Parte 2 de Life Goes On* Alguns anos se passaram desde que Caroline Gattaz se mudou para a Itália para ficar com o amor da sua vida, e agora chegou a hora dela e Rosamaria Montibeller perceberem que a vida continua.