Rede de apoio

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Roberta bocejou, usando uma das mãos para esconder a boca enquanto sentia seus olhos lacrimejar por causa do movimento súbito de suas bochechas. Ela estava andando pelo corredor comprido com o braço livre esticado acima da cabeça para se alongar e se livrar dos nós que haviam se formado em suas costas durante a noite. Seus pés faziam um barulho abafado no piso amadeirado e ela já estava sentindo falta do ar condicionado do quarto que ela havia deixado para trás. Ela ainda não havia se acostumado com o clima abafado da cidade.

Ela sabia que seria acordada, como todas as manhãs, pelo despertador do celular, a música alegre a forçando a sair da cama para desativar o alarme, mas Roberta havia acordado sozinha também. Não era incomum, afinal, sua rotina de viagens ainda existia, Laura, por vezes, acordava antes dela por causa de algum compromisso profissional, e, muito raramente, Roberta dormia no seu próprio apartamento - apesar de que, nos últimos meses, ela só fazia aquilo quando chegava muito tarde de alguma viagem e não queria correr o risco de acordar Laura chegando em casa no meio da noite. Naquele dia, entretanto, ela não sabia o motivo pelo qual o outro lado da cama estava vazio.

Enquanto andava pela casa ridiculamente grande - uma das muitas propriedades da família de Laura - Roberta tentou prestar atenção aos barulhos em volta dela. Tirando os barulhos do lado de fora e o som insistente do alarme que ainda não havia sido desativado, não havia mais nada que ela pudesse ouvir que lhe desse uma ideia de onde Laura estava. Ela não conseguia se lembrar se a outra mulher havia comentado algo sobre algum compromisso tão cedo, mas Roberta imaginou que estava sozinha em casa por um motivo.

Decidida a ir buscar seu celular para ver se havia alguma mensagem de Laura só depois de tomar um copo de água, Roberta continuou andando até a cozinha. Seus olhos passaram depressa pela sala de estar e depois pela sala de jantar, só para garantir que sua namorada não estava em nenhum daqueles cômodos trabalhando no seu computador. Mesmo tendo, pelo menos, três cômodos na casa que podiam ser usados como escritório, Laura insistia em sentar toda torta no sofá ou usar as cadeiras desconfortáveis da sala de jantar. Roberta havia perguntando diversas vezes qual era o objetivo da sala de jantar já que na cozinha havia uma mesa também, mas ela sinceramente não havia dado muito atenção para a explicação extremamente longa de Laura. Estava em linguagem de herdeiro, afinal.

Roberta constatou que sua namorada realmente não estava por lá então decidiu ir até a cozinha tomar sua água e depois voltar para o quarto para pegar seu celular. Ela entrou na cozinha no meio de outro bocejo mas sem planos de tomar um café ainda. Roberta pegou um dos copos que estava secando em cima da pia e abriu a torneira para enchê-lo de água apesar do bebedouro alocado no canto do balcão - "bebedouro não, purificador de água terracota" Laura havia a corrigido mais de uma vez. O bebedouro, ou purificador, ficava do lado de um aparelho para gaseificar água, coisa que Roberta também nunca havia usado mas que era uma das coisas preferidas de Laura na casa.

A levantadora apoiou o quadril na pia enquanto bebia sua água devagar, uma mão no quadril e os olhos fixados na parede ainda pesados de sono. Ela já vivia aquela rotina de acordar cedo fazia muitos anos, mas ainda havia dias que era difícil sair da cama e começar seu dia no mesmo horário de sempre. Roberta terminou o primeiro copo e encheu ele de novo, dessa vez pela metade, e ela estava prestes a tomar um gole quando ela notou algo pelo canto do olho. Ela virou a cabeça e, imediatamente, deu um pulo quando ela viu metade do corpo de Laura saindo por debaixo da mesa atrás dela.

- Oi, - a outra mulher cumprimentou como se aquela fosse uma ocorrência diária, comum e ordinário.

- Ai, Laura! - Roberta gritou, por pouco derrubando o copo e batendo o joelho na porta do armário, o que causou um barulho quase ensurdecedor no ambiente anteriormente silencioso. - Que susto, cacete! Tá fazendo o que aí?!

Drops of JupiterWhere stories live. Discover now