Agora, antes de mais nada

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Caroline podia jurar que ela havia dormido por cinco minutos. Ela não acordou devagar, mas também não foi um sobressalto que causa susto. Seu corpo inteiro doía como se ela tivesse percorrido uma maratona inteira sem treino algum. Ela sabia que eram os resquícios do ataque de pânico do dia anterior. Seu corpo estava sofrendo agora depois de todos os sentimentos conflitantes. Seus músculos estavam pesados e até seus ossos pareciam reclamar, sua cabeça parecia prestes a partir no meio, seu peito parecia cansado demais até para respirar.

Se fosse lhe dado a chance, Caroline teria voltado a dormir naquele mesmo instante. Porém, assim que recobrou a consciência e deixou a terra dos sonhos, seus pensamentos já começaram a correr a mil mais uma vez e ela sabia que seria inútil tentar pegar no sono de novo. Caroline suspirou, chutando as cobertas para longe do seu corpo aquecido, e pensou em tentar achar seu celular, mas ela sentiu os braços fortes em volta da sua cintura a apertando com mais força e desistiu da ideia. Ela olhou por cima do ombro para confirmar que Rosamaria estava acordada e a primeira coisa que ela viu foram os olhos verdes a olhando com certa preocupação, mas claramente tentando disfarçar com um sorriso pequeno. Era impossível disfarçar, no entanto, porque haviam olheiras pesadas embaixo dos olhos da oposta, bolsas escuras que deixavam seu cansaço evidente. Caroline se perguntou se a sua esposa havia dormido durante a noite, mas ela achou melhor não perguntar.

- Bom dia, raio de sol, - Rosamaria falou, tentando manter sua voz baixa para não perturbar o silêncio do começo da manhã.

Caroline sorriu apesar de tudo, e deitou sua cabeça de volta no travesseiro, fechando os olhos. Ela não respondeu, mas aproveitou o momento de carinho matinal que era raro de acontecer vindo de Rosamaria. Sua esposa beijou seu ombro e passou a ponta do seu nariz pela curva do pescoço da mais velha enquanto seus dedos faziam círculos distraídos no quadril da outra mulher. Caroline suspirou, dessa vez em tom contente, e escondeu seu rosto no travesseiro macio que era baixo demais para ela.

Rosamaria, por outro lado, conseguia sentir o cansaço do seu corpo por motivos diferentes. Ela não havia conseguido pregar os olhos durante a noite, passando a maior parte do tempo observando enquanto Caroline dormia, em busca de qualquer sinal de que outra crise de pânico pudesse acontecer. Ela viu sua esposa fazendo caretas durante o que, provavelmente, era um pesadelo, mas, fora isso, a noite foi razoavelmente tranquila. Rosa duvidava que Caroline tinha descansado, apesar de ter dormido sem acordar até aquele momento.

Durante a madrugada, mais de uma vez, Rosamaria desejou conseguir sentir tudo que sua esposa estava sentindo. Assumir a dor e todos os sentimentos ruins para que Caroline pudesse voltar a ser a bolha de alegria que ela parecia ser a maior parte do tempo. Não era possível, no entanto, e Rosamaria ficou apenas com o sentimento de culpa por tudo aquilo estar acontecendo. Parte dela estava surpresa com a reação visceral de Caroline, e parte dela estava surpresa com sua própria surpresa. Ela conhecia Gattaz o suficiente para saber que ela era o tipo de pessoa que lidava muito bem com sentimentos negativos. Caroline ignorava, fazia piada, e continuava com a vida como se nada tivesse acontecido. Aquilo não era uma situação normal, entretanto, e Rosamaria deveria ter percebido que sua esposa estava prestes a explodir igual uma panela de pressão. Ela podia culpar sua agenda cheia, mas, no fim do dia, ela havia sido a pessoa que não prestou atenção o suficiente.

Ela havia ficado acordada a noite inteira para evitar que aquilo acontecesse de novo. Ela ia prestar atenção. Ela ia saber, ela ia prever, ela ia ser capaz de ajudar. A noite anterior havia sido um alerta para Rosamaria e ela não ia agir como se a situação fosse simples. Ela havia encontrado Caroline no meio de um ataque de pânico, sem conseguir respirar direito, sem sequer reconhecer sua voz. Aquela era uma visão que Rosamaria jamais seria capaz de esquecer.

Tentando se distrair de seus próprios pensamentos, a oposta descansou a testa contra o ombro de Caroline e respirou fundo, tentando encher suas narinas com o aroma único de sua esposa. Gattaz entrelaçou seus dedos com a mão de Rosamaria que estava na sua cintura e puxou sua mão para cima para beijar os nós de seus dedos com carinho. Ela não tinha como saber o que sua esposa estava pensando, mas ela conseguia sentir a tensão no seu corpo.

Drops of JupiterWhere stories live. Discover now