Decifrando

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Cinco segundos.

Esse foi o tempo total de silêncio entre elas.

Cinco segundos de choque onde nem Rosamaria e nem Gattaz sabiam o que dizer, e onde Júlia e Naiane só ficaram esperando por uma reação. Enquanto isso, a criança no colo de Naiane parecia pouco afetada com tudo. A menina, pequena ainda, com seus longos cabelos escuros e as bochechas ainda cheias como toda criança, parecia pouco interessada no que estava acontecendo ao seu redor. Seus braços estavam jogados em volta do pescoço de Naiane e suas pernas estavam soltas, penduradas, sem que ela tentasse se prender à levantadora, que já tinha um braço firme em volta dela. Naiane, que nunca havia segurado uma criança, parecia ter feito aquilo a vida inteira.

E foi essa visão que tirou Rosamaria de seu estado de estupor. - De onde surgiu essa criança? Como? Quando? - Ela perguntou em sucessão, sem saber por onde começar.

Ao mesmo tempo, sua esposa teve uma reação totalmente contrária. - Que linda! Oi, Madu! - A mulher mais velha se abaixou poucos centímetros para ficar mais na altura da criança, mas a menina não olhou na sua direção. - Meu nome é Carol.

Rosamaria tinha outra prioridade, no entanto. Ela lançou um olhar firme na direção de sua amiga e disse em tom de aviso: - Naiane.

- Olha... - A levantadora começou, mas acabou parando para olhar para a criança nos seus braços antes de olhar para Rosamaria de novo. - Eu não sei explicar. Eu conheci ela no projeto e... - Naiane ergueu os ombros, os segurou lá por alguns segundos, então deixou eles caírem como se fosse difícil demais segurar o peso lá naquele momento. Por fim, quase como uma confissão, Naiane afirmou: - Rosa, ela mudou minha vida.

- Nossa vida, - Júlia acrescentou e foi a voz firme que a menina usou que fez Rosamaria olhar para ela. Júlia não parecia mais velha, nem mais madura, nem nada do tipo. Ela ainda parecia a mesma. Mas foi a certeza em sua voz e sua postura altiva que fez Rosamaria perceber que não havia uma sombra de dúvida sequer na menina.

- E foi assim? - A oposta perguntou, olhando de Júlia para Naiane por várias vezes antes do seu olhar focar na criança de novo. - Do dia pra noite?

- Claro que não, - Naiane respondeu depressa. - Faz meses que...

- Meses?! - A exclamação de Rosamaria interrompeu a explicação da levantadora, que apenas lançou um olhar meio impaciente na sua direção.

- Ah, então vocês não estavam montando um quartel de drogas? - Gattaz comentou com seu bom humor característico, inclusive colocando um dedo no queixo como se estivesse pensando no que acabara de falar.

Júlia acabou soltando uma risada baixa. - Não, Ca. Nós não queríamos contar porque ficamos com medo de alguma coisa dar errado, - ela explicou. - Mas aí... ontem... - Ela não terminou a frase, sequer parecia saber o que dizer naquele momento, mas seu olhar de admiração enquanto olhava para Naiane e para a menina no seu colo dizia tudo que precisava ser dito.

E, claro, Caroline foi a primeira a sair do seu estado de surpresa. Com um sorriso largo, a mulher ficou de pé e colocou as mãos na cintura. - Eu não vou fingir que não fui pega de surpresa, mas só o que importa é a felicidade de vocês, - ela declarou, então olhou para Rosamaria como quem tentava mandar uma mensagem silenciosa na sua direção.

A oposta demorou alguns segundos para conseguir desenrolar qualquer coisa para falar. Seus olhos já haviam voltado para a criança no colo da amiga quando ela afirmou: - Eu conheço a Naiane, essa não seria uma decisão precipitada.

Sua frase fez com que toda a tensão no corpo de Naiane se esvaísse. A levantadora sorriu, contente, antes de erguer Madu para dar um cheiro na sua cabeça, o que teria feito o queixo de Rosamaria cair em choque se não fosse por Júlia já começando a se explicar atrás dela.

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⏰ Last updated: Sep 09 ⏰

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Drops of JupiterWhere stories live. Discover now