Primeiros desafios

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- Empurra!

Rosamaria apertou os dentes com força, sentindo os músculos da sua mandíbula se contraírem quase dolorosamente enquanto engolia a resposta que subiu pela sua garganta. Sua vontade era gritar com o médico, falar para o homem idoso e com a cara esticada de um jeito não natural que ela estava empurrando, caramba! Ela estava empurrando fazia mais de duas horas e nada parecia ser o suficiente.

- Amor, escutou ele? - Ao seu lado, Caroline decidiu se pronunciar. Sua voz parecia muito mais distante do que realmente deveria estar considerando que ela conseguia sentir o hálito quente da esposa batendo no seu rosto. A mão de Gattaz, maior que a sua e toda suada, estava segurando uma das mãos de Rosamaria que, por sua vez, estava apertando os dedos da outra mulher com tanta força que ela podia quase ouvir os ossos estalando.

- Sim, Caroline, eu escutei ele, - Rosamaria respondeu, finalmente achando um lugar para canalizar sua raiva crescente. Ela não podia gritar com o homem que estava trabalhando, mas ela com certeza podia gritar com sua esposa. Faz parte do casamento. - Eu escutei ele da primeira vez, e eu escutei ele na segunda vez. Tu acha que eu tô segurando essa criança aqui dentro porque eu quero?!

Houve alguns segundos de silêncio após sua explosão - tenso e, ao mesmo tempo, divertido. Rosamaria viu quando o médico ergueu a cabeça para olhar por cima do pano que estava tapando seu corpo da cintura para baixo e viu quando Caroline teve a audácia de olhar de volta para ele como se estivessem dizendo "que maluca". O que era um absurdo sem tamanho porque nenhum dos dois estava sendo partido ao meio enquanto tentava dar a luz. Sem pensar duas vezes, Rosamaria apertou a mão que estava segurando e, com um certo senso de alegria, ouviu quando Caroline deixou escapar um pequeno guincho de dor, seu corpo se dobrando e os joelhos quase cedendo.

- Só pode dar opinião quem já pariu uma criança! - Rosamaria exclamou.

- Dói mesmo.

Rosamaria não conseguiu segurar o grito de surpresa quando ela ouviu a voz de Priscila vindo do seu outro lado onde, até um segundo atrás, uma enfermeira estava parada segurando uma mamadeira e uma chupeta - e, agora que ela pensava nisso, já estava um pouco estranho antes. Ela virou a cabeça tão rápido que o músculo do lado do seu pescoço tensionou e uma caimbra tomou conta do seu lado esquerdo. Para sua surpresa, não apenas Daroit estava lá, mas também Sheilla, Léia e Anne.

- O que vocês estão fazendo aqui?! - Rosa gritou enquanto ela tentava, em vão, puxar o pano para tapar mais do seu corpo.

- A gente veio assistir o nascimento da nova oposta da seleção! - Priscila explicou como se fosse óbvio.

- Não, não, não, - Léia interrompeu prontamente. - Vai ser líbero.

- Líbero sendo filha da Gattaz? - Sheilla rebateu. - Sem chance. Mas oposta a gente já tem, vai ser uma das gêmeas. Estamos precisando de ponteira.

- Mas e se for menino? - Anne perguntou, ficando na ponta dos pés atrás das outras mulheres para tentar ver o que estava acontecendo.

- Vai ter que empurrar para descobrir.

A cabeça de Rosamaria se virou depressa de novo e ela viu o mundo girar em volta dela quando a cabeça branca do médico deu lugar para os cabelos pretos de Naiane. O quarto do hospital já não era mais um quarto, mas sim uma quadra de vôlei e, para seu completo horror, as arquibancadas estavam cheias como se fosse a final olímpica mais importante do século. Rosamaria tentou se sentar, os olhos arregalados e as mãos tremendo, o pânico subindo pelo peito, mas uma mão firme a manteve no lugar. Quando ela olhou para a esquerda, Caroline ainda estava lá, mas agora havia um berço ao seu lado, já com um bebê dentro.

Drops of JupiterWhere stories live. Discover now