4̶ Apatia

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No outro dia, Soobin tinha muito o que conversar com o Yeonjun na sessão. Ele já tinha certeza do diagnóstico de psicopatia, mas, também suspeitava de depressão.

Se ele tivesse depressão e psicopatia, significaria que ele não sentia praticamente nada, era alguém completamente vazio, e talvez, machucasse as pessoas pra preencher isso.

Quando a sessão começou, o Soobin tentava agir o mais naturalmente possível, depois do que havia acontecido na última.

— Então, Yeonjun, eu queria que você me falasse como você se sente no dia a dia, você se sente triste?

Naquele momento, o Yeonjun ficou em silêncio, como se não esperasse esse tipo de pergunta, como se nunca tivesse recebido uma pergunta do tipo.

— Eu não sinto nada — respirou fundo — Nem me lembro se algum dia já senti alguma coisa.

— Não tem nada que faça você se sentir feliz?

— Todos os meus dias são iguais, independente do que eu faça, não vejo graça em nada, é como se alguma coisa em mim não funcionasse — aquilo era como um desabafo.

— É isso que te leva a machucar as pessoas?

— Quando eu machuco alguém, eu me sinto vivo, é como se o sofrimento delas fizesse eu me sentir alguma coisa — olhou pra baixo, antes de olhar pra ele novamente — Até meu próprio sofrimento faz eu me sentir bem.

— Seu próprio sofrimento? Como assim?

— Eu machuco a mim mesmo — tirou o casaco, deixando as marcas nos pulsos visíveis — Quando a minha pela sangra, eu tenho certeza que ainda não morri, porque, sinceramente, as vezes eu tenho dúvida.

O coração do Soobin sempre doía com pacientes daquele tipo, eles eram difíceis de serem ajudados, muitas vezes, sem salvação. Por algum tipo, ele se sentia ainda pior vendo que o Yeonjun estava naquele estado, sentia empatia, algo que o garoto desconhecia.

— Você realmente se sente melhor com isso?

— Sim... Quando as pessoas olham pra mim com medo, quando elas imploram pra mim deixar elas em paz, eu acho tão divertido — olhou pra ele — Por que você se importa tanto com as pessoas?

— Eu gosto de ajudar, me sinto bem vendo que fiz bem pra alguém, é gratificante.

— Eu acho uma perca de tempo, as pessoas são ruins, na verdade, ninguém se importa com ninguém — deu uma pausa — No seu pior momento, doutor Choi, alguém te ajudou?

Nesse momento, foi o Soobin quem ficou em silêncio, pensando sobre o que ele havia dito, e realmente, quando precisou, estava sozinho.

Flashback on

No último ano da escola, Soobin estava sofrendo uma pressão absurda por conta do vestibular que estava próximo, e sua mente estava completamente bagunçada.

Já fazia um tempo que ele sofria com depressão, mas, naquele momento, tinham chegado a um nível de profundidade, que ele não conseguia mais esconder.

Ele não comia, não dormia, não saia do quarto, se sentia um lixo por não conseguir estudar, e não recebia nenhuma tipo de apoio, nem dos próprios pais.

— Esse garoto é um inútil, só fica nesse quarto vegetando, parece que já morreu — o pai dele falava de fora do quarto.

— Melhor seria se ele se matasse de uma vez, ninguém merece conviver com isso, é um peso — a mãe continuava.

E, de tanto ouvir aquilo, Soobin cogitava aquela ideia, mas não tinha coragem, ainda não, ele aguentaria mais um pouco.

Flashback off

Seus olhos marejaram com a resposta, mas ele respirou fundo e conseguiu disfarçar, percebendo que a melhor forma de ajudar o Yeonjun, seria mostrando que o entende.

Não sabia porque, mas se importava muito com o Yeonjun, sentia que por trás daquela face fria e indiferente, estava um garoto completamente perdido, e o Soobin queria que dar a ele a ajuda que não teve.

— Não, ninguém me ajudou — respirou fundo — E é por isso que eu ajudo as pessoas.

— Que? Como assim? — tinha uma expressão confusa.

— Eu quero que as pessoas tenham a ajuda que eu não tive, porque isso era tudo que eu precisava.

— A bondade só nos leva a perder, então eu só me importo comigo mesmo — mordeu o lábio inferior — Essa empatia que você sente... Talvez ela só exista na sua cabeça.

— Como assim?

— Vamos ser sinceros, doutor Choi, se você se importa tanto com todo mundo, porque tem desejo por alguém que faz mal as pessoas?

Depois do que aconteceu, ele sabia que não adiantaria negar aquilo, mas, nem ele mesmo sabia a resposta.

— Eu não sei... Talvez eu goste disso em você.

Ouvindo isso, o Yeonjun deu um sorriso ladino, negando com a cabeça.

— Então, você não é bom, doutor Choi.

— Todo mundo tem um lado ruim, não?

Soobin queria conhecer o Yeonjun, mas era o Yeonjun quem estava conhecendo o Soobin, conhecendo um lado que ele nem imaginava que existia.

— Nossa, tô impressionado.

— Mas calma, eu ainda sou o psiquiatra — disse em tom de brincadeira.

O Yeonjun riu ouvindo aquilo, foi a primeira vez que o Soobin viu ele sorrir, e ficou completamente encantado, paralisado olhando aquilo, seu coração acelerou de uma forma inexplicável.

Soobin se sentia bem com o Yeonjun, e aquilo era estranho, já que o garoto era alguém completamente frio, e perigoso.

Talvez o Soobin realmente não fosse tão bom assim.

Era mais uma madrugada onde o Yeonjun estava andando sem rumo, não planejava machucar ninguém naquele dia. Ele andava por uma região vazia e com mato, alie era perigoso, mas ele não tinha medo de ser machucado.

Andando por ali, se surpreendeu ao ver um garoto de cabelo longo, em cima de um garoto desacordado, enforcando ele.

Quando o garoto de cabelo longo viu o Yeonjun, ele acabou se distraindo, e o que estava em baixo dele conseguiu se virar e correr.

O de cabelo longo olhava pro Yeonjun em silêncio, com medo de ter sido pego, mas ficou confuso quando um sorriso ladino apareceu no rosto do Yeonjun.

— Não deixa ele fugir da próxima vez.

"Você sangra só para saber que está vivo
E eu não quero que o mundo me veja
Porque eu não acho que eles entenderiam
Quando tudo é feito para ser quebrado
Eu só quero que você saiba quem sou"

Criminal [Yeonbin +18]Onde histórias criam vida. Descubra agora