Prólogo

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Londres.

- Esse trabalho ainda vai me matar. - Eu disse, fechando os olhos e tentando relaxar o meu corpo completamente tenso.

- Você não pode deixar que ele te mate. Aliás, é você quem impede que outras pessoas morram graças ao que faz, Camila. - Christian disse e eu abri os olhos para encará-lo e meu irmão estava péssimo. Olhando para ele, vi que tentava ser positivo, mas sua expressão era igualmente cansada ou pior.

Mas ele não mentiu. Christian e eu éramos médicos e estávamos exaustos do trabalho pesado que estávamos lidando todos os dias, mas as pessoas precisavam de nós. Éramos responsáveis pelas maiores e mais complicadas cirurgias que aconteciam naquele hospital. Naquela noite e de última hora, tivemos que operar uma senhora que havia estranhamente engolido um apito ao invés de seu medicamento. Já era para estarmos em casa, mas ficamos algumas horas presos em uma sala de cirurgia salvando uma vida. No fim, um sorriso apareceu em meu rosto ao entender aquilo.

- Tem razão. Mas você realmente precisa ir descansar, Chris. Está sem dormir há quase dois dias, vá para casa antes que nossa mãe venha te obrigar. - Falei pensando em nossa mãe nos procurando por todo hospital.

Por que minha mãe estaria nos procurando pelo hospital? Sou filha dos médicos que carregam o nome do hospital e seus lucros e méritos. James e Sara Norton são os donos de um dos melhores hospitais de Londres, Inglaterra. O Norton Hospital.

Devo acrescentar que é um dos melhores porque Christian e eu estamos residindo nele. Não gostaria de me gabar, mas por que eu iria mentir? Sou realmente muito boa no que faço e Christian não fica para trás. Afinal, somos gêmeos e ele herdou o mesmo talento que eu tenho com as mãos.

- Você fala como se ela viesse apenas atrás de mim. - Ele observou e eu dei de ombros quando puxei alguns exames que haviam trazido para eu analisar. - Vá para casa também, Camila.

- Não estou com sono. - Falei sem deixar de encarar os exames tentando fugir do que ele iria iniciar.

- Mentira! Pare com isso, você está vivendo dentro desse hospital e até você tem suas limitações, querida irmãzinha. - Ele falou se inclinando sobre a minha mesa, apoiando os braços.

Eu olhei para baixo por uns instantes e então levantei frustrada, indo em direção a janela de vidro sabendo que ele não iria deixar que eu me concentrasse. Encarando as luzes da cidade e sem paciência para discutir aquilo novamente, sentia o peso dos pensamentos de Chris. Algumas vezes, eu odiava a ligação que tínhamos por sermos gêmeos. Nossas semelhanças nem de longe acabavam pelos genes que dividimos.

- Qual a última vez que se divertiu? Qual a última vez que se deitou com uma mulher, Camila? - Ele perguntou e eu o olhei por cima do ombro, totalmente surpresa com aquele tipo de pergunta, até mesmo ofendida. Ele acabou rindo e balançando a cabeça.

- Que tipo de pergunta é esse, Christian? - Perguntei resignada e até mesmo envergonhada.

- Não me entenda mal, mas é justamente esses pequenos prazeres da vida que você está abrindo mão porque não quer parar de estudar ou ficar aqui neste hospital. Aliás, o que seu marido pensaria disso? - Ele quis saber como ironia.

- Você deveria saber que o que ele pensa não vai mudar nada.  - Virei totalmente para ele e me aproximei mais uma vez da mesa, tirando o meu jaleco. - E você sabe que eu não me deito com uma mulher há muito tempo.

Isso pode soar um pouco confuso, mas deixe-me explicar. Acabei casada com o filho de um dos sócios do hospital, além de melhor amigo de meu pai, mas nossa relação era no mínimo problemática. Samuel Meyrs era meu marido, mas apenas nos papéis. Tanto ele como eu, éramos diferentes do que nossos pais queriam que nós fôssemos.

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