Aurora Borealis

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Era como correr contra o tempo.

Ao adentrar a ala hospitalar, foi possível ver o caos que havia se iniciado após uma batida de carro naquela manhã. Enfermeiras e médicos estavam correndo em todas as direções para conter ou evitar possíveis mortes. Havia tanto sangue, gritos e dor que deixaria qualquer estagiário hesitante se aquela deveria ser sua vocação.

Bem, eu estava acostumada. Assim que fui reconhecida no lugar e fui adiante, uma enfermeira veio em minha direção, claramente tendo dificuldade de manter a calma, pois as mãos cobertas por luvas estavam cobertas de sangue e um pouco trêmulas me deixavam claro que ela não estava preparada para a situação.

- Doutora Norton, que bom que chegou! Não estou conseguindo conter o sangramento daquele paciente. - Ela indicou a maca, e eu assenti, indo em direção a mesma no mesmo instante.

Havia um homem com a perna completamente ensanguentada, falando coisas desconexas, olhando para cima como se estivesse em estado de choque. Ele estava ferido em várias partes do rosto e corpo, provavelmente pelos vidros do carro durante a colisão. Estava pálido, ainda assim, e eu imediatamente chequei seu pulso, percebendo-o alterado de maneira significativa. Taquicardia.

O mais preocupante era sua perna; o corte fundo estava visivelmente afetado, com sangue abundante sendo eliminado. Eu, imediatamente, criei a pressão sobre o ferimento com as mãos cobertas por luvas sobre as gazes hidrófilas que ela estava usando. Aquele homem já havia perdido sangue o suficiente e se continuasse, acabaria sem vida. Bem, não sob o meu comando.

- Este homem está com hemorragia externa, possivelmente classe 2. - Me virei para a enfermeira, indiquei a perna, mais tranquila do que deveria para não deixá-la ainda mais nervosa, não quero culpá-la pela situação do paciente. A culpa havia sido dos socorristas que não identificaram aquilo no local do acidente. - Alguma artéria foi atingida durante o acidente, possivelmente por algum vidro que foi retirado indevidamente. Precisamos fazer uma reposição e transfusão. Traga agora mesmo.

- Sim, doutora. - Ela falou, e foi em busca do que eu pedi.

Me virei para o homem que agora olhava para mim, com os olhos arregalados de medo, tremendo enquanto eu tentava acalmá-lo. Outro sintoma da hemorragia. Lhe dei um sorriso tranquilizador enquanto tentei estancar o sangue com mais firmeza. Peguei algumas compressas cirúrgicas limpas, colocando sobre o ferimento e os pressionando forte com ambas as mãos ao perceber que as gazes eram inúteis.

- Olá, Carter. - Falei, após olhar rapidamente sua ficha de relance. - Sou a doutora Camila Norton. Iremos conter essa hemorragia, não se preocupe.

Era questão de honra não deixá-lo morrer. O sangue diminuiu a pressão, mas continuava vazando.

- Eu não quero... Morrer. - Ele disse em desespero, segurando o meu pulso.

- Você não vai. - Afirmei e solicitei um enfermeiro que se aproximou rapidamente ao perceber que precisaria partir para outro recurso. - Eu quero um torniquete eletrônico. Rápido!

Ele não demorou a trazer o mesmo. Fiz uma breve limpeza na região e logo em seguida tratei de usar o torniquete de maneira precisa, firme e exata, 5 cm acima do ferimento, envolvendo a fita corretamente, sem folgas. O sangue precisava ser contido. Comecei a girar o equipamento, sem usar além do que deveria. A pressão segura foi o suficiente para diminuir o fluxo de sangue de corte e aquilo me trouxe um alívio considerável.

Ele perdeu sangue, mas não foi o suficiente para que ele perdesse sua vida naquela manhã. Após o que me pareceu horas tratando Carter, eu consegui salvar sua vida. Hemorragias poderiam ser perigosas. Iria avaliá-lo de perto, garantindo sua melhora. Após isso, auxiliei outros médicos e enfermeiros perante os outros pacientes. Até mesmo precisei colocar a mão na massa para não correr riscos. Foi uma longa manhã, até que o caos fosse contido.

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