❝ Então se quiser irritar seus pais, me namore para assustá-los, mostre que você está crescida. Se o cabelo comprido e as tatuagens são o que te atraem, amor, você está com sorte. ❞
Claire Dugray nasceu em berço de ouro, filha de um dos empresários...
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MIAMI, FLÓRIDA.
COLOQUEI UMA DAS MINHAS MÃOS NA FRENTE DOS MEUS OLHOS PARA TAMPAR A LUZ DOS FARÓIS. No banco da frente, meu irmão dirigia ao lado de Zed. Trevor estava no banco de trás, sozinho.
Coloco o celular por dentro do meu short e caminho até o carro. Abro a porta do banco traseiro, me sentando o mais longe possível de Flinch. Não sei se ele seria um problema hoje, mal me olhava.
— Tudo bem, loirinha? — Kyle me olha pelo retrovisor e solta um sorriso. — Estava com saudade de você.
E simplesmente todo o meu medo se esvai. O meu irmão mais velho sorri para mim, pelo retrovisor, e eu pude sentir que estava segura. Eu não tinha porque temê-lo.
— Olhe no bolso do banco a sua frente. — O loiro voltou a comentar. — Tenho um presente para você. Não é um dos mais bonitos, mas foi caro.
Coloquei a mão dentro do bolso e senti um envelope. Fininho e muito leve, o abri na maior facilidade do mundo.
— Meu Deus...
Era uma carteira de indenidade. Falsa. Nela dizia que eu tinha vinte e três e nasci em Nova Jersey. O que mais me espantou é que parecia ser muito real. Por um momento achei que fosse roubada.
— Faça bom proveito.
[...]
Não sei explicar muito bem onde nós estávamos. Sei que era uma corrida ilegal, em algum bairro longe da minha casa. Carros estavam espalhados, e algumas pessoas cercavam o carro do meu irmão.
Eu estava encostada no capô, olhando aquelas pessoas passarem e cumprimentarem ele. Trevor estava encostado no carro também, bem a minha esquerda. Eu estava basicamente, encurralada.
De propósito, claro. Meu irmão não ia me deixar ir tão longe.
— Ele vai correr? — Perguntei a Flintch, virando meu rosto levemente para a direção dele.
— O que você acha? — Respondeu, me olhando. — Nós dois vamos.
Fiquei quieta. Nunca tinha visto uma corrida com meu irmão, até porque, não sabia que ele era metido com essas coisas até o momento que ele fugiu de casa. Kyle já esteve no reformatório duas vezes, mas na minha cabeça, ele só era briguento demais.
A noite foi ficando cada vez mais fria, e eu fui até o carro pegar meu casaco. Todas as pessoa ali estavam arrumadas, é incrivelmente ainda totalmente vestidas. Eu era definitivamente o patinho feio dali.
Já estava acostumada com esse sentimento. Por todos os anos desde o início do ensino médio, eu tinha aprendido a usar minha beleza natural como escudo. Sempre me senti um patinho feio sem os esteriótipos da garota magra e gostosa, então, aprendi a viver dentro deles, dia por dia.
No início eu me incomodava, mas depois de um tempo, eu já estava acostumada. Vivo a tanto tempo nisso que as vezes esqueço que posso ser normal quando estou sozinha.
— Tá pensando no que? — Trevor invade meus pensamentos, e eu o olho com raiva. — O que foi?
— Sua presença me irrita. — Ele ri com o meu comentário, e eu reviro os olhos.
— Você costumava amar ela. — Ele volta a falar. — Sabe? No meio do seu quarto, no meio das suas pernas...
— Idiota! — Exclamo, lhe batendo no ombro. Trevor era alto e forte, então minha agressão nem o fez se mexer. Senti raiva. — Se meu irmão souber que você tá falando isso, você está literalmente morto.
— Seu irmão tá nem aí pros caras que comem você, Claire. — O mais velho me respondeu, prendendo a atenção em outra coisa que não fosse eu. — Ele nunca esteve. Só finge se importar porque você é a única coisa que coloca ele nos eixos.
Fico quieta. O ciúme doentio de Kyle era claro, sempre foi. Desde muito criança, ele sempre desenvolveu isso por mim. Não me deixava ter amigos, e quando ele foi pro reformatório, foi quando eu tive paz.
Até eu começar a ter problemas.
Acho que é de família. Não posso dizer que somos a ovelha negra da família, porque ela mesma nunca esteve lá. Sempre tive tudo o que eu queria, mas nem tudo era sempre o que eu queria. Não tenho lembranças claras com meus pais, nunca tive.
— Vamos, Claire, some daí. — Hero diz, chegando por um beco. — Eles vão correr agora.
Me afastei do carro a pouco, indo de encontro com um muro. Coloquei o casaco, o capuz, fechei o zíper enquanto colocava a mão no bolso. A música latina estourava nos meus ouvidos, e eu via as pessoas se juntarem perto da linha de largada: uma faixa amarela grafitada no asfalto.
Alguém tinha um rádio, escutando a polícia. Um carro estava na frente da rua, impedindo que outros entrassem, mesmo que aquilo não fosse acontecer.
Peguei o celular, ainda com um pingo de esperança. Digitei o nome dele nos contatos e apertei no símbolo verde.
Ele demorou um pouco para atender.
— Oi? — A voz dele estava confusa do outro lado. — Quem é?
— É a Claire. — Respondi, abafando o microfone por conta do barulho de música. — Onde você está?
— Tô no barco. Porque?
— Kyle me buscou em casa. — Respondi, baixinho. — Fui obrigada a vir para a corrida. Achei que você estaria aqui.
— Não deu, tive outras coisas pra fazer. — Vinnie pigarreou, e eu suspirei. — O que você quer?
— Você consegue mandar alguém pra me buscar aqui? — Quase supliquei. — Seu pai, seu irmão, algum amigo seu?
— Eu vou.
A linha ficou em silêncio logo depois. Encarei o celular confusa, pensando que aquilo era basicamente uma missão suicida. E era mesmo, na verdade.
— Você sabe que vai estar ferrado, né? — Eu complementei. — Kyle vai saber que foi você, e cara-
— Você quer morrer, Claire? — Ele solta o comentário. — Vou buscar você. No seu irmão eu dou um jeito depois.
A linha fica muda. Guardo o celular no bolso do moletom, cruzando os braços e vendo meu irmão entrar no carro dele. Quando ele estivesse correndo, melhor eu estaria.
Só sei que, depois de três voltas, Vincent já estava lá. Ele assobiou para mim, da rua oposta, e no escuro, eu fui correndo até o seu carro. Entrei no banco do carona, sendo recebida por um sorriso.