Chegamos À Castelobruxo

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    Depois de comermos, vou para o meu quarto e vejo que Kade está dormindo em uma das quatro camas que tem nele. Acho isso muito estranho, mas penso que ela deve ter capotado ali e nem viu que dormiu. Ninguém lançaria um feitiço nela, né? E se lançou, por que faria isso? Ela é só uma aluna normal que é uma galinhona. É minha amiga, mas é uma galinhona!
    Sam resolveu que queria ver a paisagem lá fora e não quis ficar por aqui. Deve estar pegando um solzinho gostoso, vendo a natureza linda da Amazônia, né? É a primeira vez dela aqui. Então, deve estar curtindo bastante. Certa ela... Quem sou eu pra julgar?
    Eu não julgo ela, óbvio! Até faria o mesmo, mas resolvi dar uma olhada na minha mochila que tem o feitiço de extensão. Aqui, não usamos malões, usamos mochilas normais, só que com feitiços de extensão pra não precisarmos usar uma mala. É como se fossemos apenas alunos comuns pegando um barquinho no porto. Há toda uma preocupação de que devemos nos passar por trouxas comuns e coisa e tals.
     Então, o barco para, a gente entrega o bilhete que nos é dado assim que encontramos os representantes após pegarmos a chave de portal. Aí, a gente entrega o bilhete mágico na entrada do barco pobre e entramos. E há um feitiço de confundir que impede que os trouxas vejam que somos muitos alunos entrando em um barco pequeno.
    A viagem é sempre muito tranquila. Podemos ficar nos quartos, ou nas mesas conversando, ou lá fora vendo a natureza. E a paisagem é sempre muito linda. Eu já vi vários animais trouxas e mágicos pelo trajeto. A Amazônia é um lugar lindo demais. Você sente gosto em viajar. Parece ser uma viagem de cruzeiro trouxa, sabe? Mas só somos nós indo pra escola e não pra férias.
    — E aí? Gostou da paisagem? — Eu pergunto pra Sam quando ela entra no quarto.
    — Muito. É muito linda a paisagem. — Ela sorri e senta na cama dela.
    — Tem a opção de você colocar a rede no lugar da cama. Tem o feitiço pra mudar. Se você quiser usar a rede... Está ali o nome do feitiço. — Eu dou a opção.
    — Mais tarde eu faço isso. — Ela sorri e pega a mochila, olhando lá dentro.
    — Como você sabia que aqui não usamos malões? — Eu sou muito curiosa e estou interessada nela.
    — Veio na carta de explicação. — Ela dá de ombros.
    — Legal. — Eu concordo com a cabeça.
    — Não quer ir lá fora olhar a paisagem? — Ela me olha e eu fico pensativa se eu devo ficar tão perto dela porque a Kade já está a fim.
    — Tudo bem. — Dou de ombros porque Kade tá dormindo, mesmo.
    — Você sabe se vai demorar muito pra chegar? — Ela se levanta e eu me levanto também.
    — Ah, daqui uma hora mais ou menos. Já tem bastante tempo que saímos, né? — Eu olho no relógio que mostra que o céu está ficando mais escuro e o sol descendo.
    — Pois é. Ficamos bastante tempo conversando na mesa. — Ela sorri, enquanto saímos do quarto, e eu sinto um comichão aqui dentro.
    — Conversamos, mesmo. — Concordo e sigo ela pelo corredor dos quartos.
    — Já estou gostando daqui. — Ela volta a sorrir de uma forma muito linda.
    — Você vai gostar bem mais quando chegar na escola. Ela é muito grande e cheia de coisas. Você vai ver. — Eu fico toda orgulhosa da minha escola e quero impressionar ela.
    — Imagino que deva ser bem bonita. — Ela parece estar interessada.
    — Sim, bastante! Você deve saber que é feita de ouro. — Eu continuo toda orgulhosa.
    — Eu ouvi falar que, às vezes, aparece o animal que canta e encanta as bruxas desavisadas. Aí leva elas pra floresta e elas nunca mais são vistas. — Ela mantém a conversa em um tom bem descontraído.
    — Sim, ele se chama Ñakasqa Munay. Que na tradução seria algo como... Mas que droga, que lindeza! Pois é um ser muito lindo pra quem olhar. Dizem que ele se parece com um gato-macarajá. Mas não tenha medo. As caiporas colocam ele pra correr toda vez. Já faz muito tempo que ninguém passa por isso na escola. Juro por Merlim, ninguém some há séculos! — Eu tento acalmar ela, mas é mentira, uma sumiu ano passado, e eu já disse que entendo porcarias de animais.
    — Ah, tudo bem! No meu país tem o Banded Linsang que arrasta as mulheres para a floresta de Pran Buri, mas não é seduzindo, não. — Ela começa a rir.
    — Pran Buri não é na Tailândia? — Eu fico meio assim porque me lembro de minha avó dizer que visitava muito lá quando era mais jovem.
    — Não, é na Coréia! — Ela me olha como se eu fosse doida.
    — Devo ter confundido. — Balanço a cabeça, meio sem graça.
    — Sim, confundiu. — Ela continua a sorrir e eu deixo pra lá, pois ela é muito linda.
    — Nossa, um tucano! Deve estar levando alguma carta. — Olho para onde o tucano está voando porque quero parar de pensar o quanto ela é linda.
     — Vocês usam tucanos, né? — Ela também olha o tucano.
     — Usamos mais araras, mas os visitantes sempre preferem as corujas. — Dou de ombros.
     — É mais fácil pra enviar carta para nossos países porque araras têm mais pra cá e não pra lá. — Ela fica pensativa.
     — Sim, verdade! — Eu concordo com ela.
     — Você estava me dizendo sobre sua avó, não é? Que ela é da Tailândia. Seus pais são brasileiros? — Ela parece interessada.
    — Minha mãe nasceu no Brasil, mas meus avós são tailandeses. Meu pai é brasileiro, descendente de ingleses. — Dou de ombros.
    — E como é pra você? Você aprendeu a falar o tailandês e o inglês? — Ela olha para a floresta e eu olho para a água lá na frente, o que me deixa tonta.
    — Eu só falo o português, mesmo. Na verdade, eu falo o portunhol como todo mundo na escola. A gente até brinca que essa é nossa língua oficial. — Começo a rir e passo a olhar para o céu, pois a água me faz ter tontura.
    — Isso é legal, mas você deveria aprender sua língua ancestral. Te ajuda a andar pelo mundo. — Ela sugere e eu penso sobre isso um momento.
    — Eu sei, mas nunca me interessei. Meu pai também não fala inglês. Só minha mãe que fala tailandês. — Dou de ombros.
    — Entendo... — Ela fica pensativa.
    — Com quem você aprendeu a falar tão bem o português? — Olho pra ela interessada.
    — Meu avô morou no Brasil por um tempo. Aprendeu a falar bem e me ensinou. Foi ele que me fez querer vir estudar aqui. — Ela continua olhando para o céu.
    — Ele deve estar feliz por você estar aqui, né? — Volto a olhar para o céu.
    — Sim, muito. — Ela concorda.
    — Meninas, dormi e nem vi que dormi. — Kade aparece do nada. — As pessoas estão todas lá dentro comendo e vocês aqui fora.
    — A gente tava aqui conversando. — Dou de ombros.
    — Sobre o que? — Ela parece interessada.
    — Sobre várias coisas. — Sam fala com tranquilidade.
    — Não quer comer nada, princesa? Eu busco pra você. — Kade sorri toda galanteadora e eu seguro o riso.
    — Quero uma Coca-cola. — Sam sorri.
    — Vou buscar, princesa. — Kade começa a ir.
    — Kade, você sabe que não tem dinheiro pra isso. Volta aqui! — Puxo ela porque a doida já estava indo.
    — Que isso? Me chamando de pobre na frente da moça! — Ela fica ofendida.
    — Ela também é pobre e vai entender. — Reviro os olhos.
    — Sim, eu entendo. — Sam balança a cabeça.
    — Ah, tudo bem! E o que quer fazer, princesa? — Kade continua...
    — Vou me arrumar pra chegar na escola. Tchau. — Sam sai andando e vai para dentro do barco.
    — Você está afastando ela. — Suspiro.
    — Tô nada! Ela já está na minha! Isso só é charme. Elas sempre agem assim, mas depois cedem. — Ela fica se achando.
    — Nós duas sabemos que você não tem tanta sorte assim. Nem toda menina te quis. — Reviro os olhos.
    — Mas com ela, eu tô certa que vai rolar. Só preciso conquistar o coração dela e depois é... Vrau! — Ela sorri maliciosa, enquanto bate os dedos da mão.
    — Você só quer comer a menina e descartar, Kade? Já te disse que não gosto disso. Não é certo. — Olho pra ela de cara feia.
    — Ah, Mon, não seja tão chata! Hoje em dia, as mulheres gostam de sexo sem compromisso e é super normal. — Ela revira os olhos.
    — Só que você quer conquistar ela e não está sendo honesta com ela sobre ter só uma noite de sexo. — Continuo nervosa, pois a menina é mó gata e não merece só ser comida, ela merece ser amada.
    — Ela vai saber uma hora. — Ela dá de ombros.
    — Você não presta! — Peço paciência ao Deus todo poderoso.
    — E você me ama que eu sei. — Ela sorri toda encantadora.
    — Uma hora, você vai gostar de alguma e ela vai quebrar seu coração. Eu vou rir de você e não vou te apoiar. — Dou de ombros.
    — Quando esse dia chegar, eu vou me matar na sua frente e você não vai gostar de me ver morta porque você não me apoiou. — Ela faz drama.
    — Você é muito besta! — Eu suspiro porque não adianta.
    — Vamos comer um rozôvo? — Ela me chama.
    — Opa! Logo a gente chega na escola. — Fico animada.
    — E a gente vai comer aqui e lá porque a gente não resiste à comida grátis. — Ela sorri e eu sorrio também.
    — Melhor coisa é comida de graça! — Entramos no barco e vamos para uma mesa.

Lover (REPOSTAGEM REVISADA E MELHORADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora