Nota da autora tristonha... Eu escrevi a Mon para ser aquilo de propósito. Ela enrola e enrola. Me baseei no livro As Meninas de Lygia Fagundes Telles. Eu amo esse livro. E esse livro na parte das baratas... Só quem leu aquilo sabe o que é. Ela fez aquilo para enganar a censura. A narração da Mon é a parte das baratas da minha história. É para confundir, mesmo.
Preciso arrumar umas amigas para me misturar mais. Nunca tive sorte com isso, pois nunca fui de ter muitas amigas. Já faz uma semana que estou nesse lugar e só ando fugindo da Kade. Ao ponto de que nem falei mais com a Mon, desde a última vez. Aquela vez que ela fugiu da mesa. Mas sempre observo as duas e vejo como, estranhamente, a Mon parece estar bem irritada quase todo o tempo. Como se estivesse ali por obrigação.
Então, começo a imaginar que ela não é amiga da Kade como diz. Só que ela está sempre com a menina. Acho que peguei os mecanismos dela. Um motivo para isso, deve ter. Posso imaginar o motivo, mas vou observar mais para ter certeza. Nesse meio, a gente observa mais e faz menos teorias.
Já faz uma semana que estou na escola. Já aprendi a observar os membros do grupo e seus comportamentos. Mon aparece cedo com a Kade. Elas comem, Mon sai andando e Kade vai atrás. É sempre assim. O que é interessante, pois a Kade quando me vê abandona a Mon.
Já entendi como devo me livrar da Kade. É só deixar ela para lá. Ela vai se tocar e vai seguir. Assim como quando ela se toca que a Mon não liga para ela. Você acha que ela não percebe? Ela é burra, mas não é cega!
Os outros membros são bem interessantes. Kirk, por exemplo, anda com o António, o Marcus e o Bruno. Eles sempre estão rindo e brincando. Os amigos do Kirk estão sempre no mundo da lua, mas ele está sempre atento a tudo. São os mecanismos.
Tatum é a que mais me chamou atenção. É filha de descendentes de alemães. Ela é sempre sarcástica e a única que anda com outro membro do grupo, a Whitney. Uma é sempre o contraponto da outra, pois a negra é bem calma e relaxada. Elas possuem um grupo de amigas. Tatum age como a líder de todas. Whitney parece obedecer, mas as duas sempre trocam olhares de equivalência. São pequenos olhares que geralmente não se nota, mas não é difícil notar quando se sabe das coisas.
Mon é outra que vivo observando. Ela olha para todos que andam pela escola. Ela observa sempre muito atentamente a todos. Ela é a líder! Ela precisa ver se tudo está andando como ela quer. Ou como ele quer. O líder maior. Ela não pode fazer nada sem a aprovação dele. Assim como todos os outros não podem fazer nada sem a autorização dela. A hierarquia é sempre respeitada. E é assim há séculos. Ou se morre...
Chego na aula de feitiços. A professora Hideko Ozu nos manda formar grupos e fazer um trabalho sobre a importância do lumus solen e como ou sobre como nós devemos usar ele, em quais situações, tudo mais. É um trabalho básico, até...
Vejo Kade vindo me chamar para trabalhar com elas, mas, por mais que eu seja uma pessoa que quer observar a Mon, não quero ir lá com a Kade. Não tô com paciência para as cantadas dela. Então, me levanto, o mais rápido possível, e vou até à mesa de um grupo de meninas que observei esses dias e vi que parecem ser bem legais, além de serem da base de pessoas que eles usam. Vou tentar...
― Posso me sentar com vocês? ― Fico meio assim de elas me falarem não e eu ter que ir com a Kade.
― Claro. ― Elas respondem.
― Você é a Sam, não é? ― A menina loira me olha interessada.
― Sim. ― Sorrio para ela para ser simpática.
― Eu sou a Misty. ― Ela ainda me olha com aqueles olhos grandes e esbugalhados.
― Legal. Oi, Misty. ― Aprendi que geralmente aqui se diz isso.
― Oi. Essa aqui é a Yuki, aquela é a Song, aquela é a Tabby. ― Ela aponta e cada uma fala oi ou apenas faz um tchau com a mão.
― Olá, meninas! ― Sorrio para elas.
― Tadeu, venha até aqui! ― A professora chama e fico tentando saber quem é Tadeu.
― Odeio quando fazem isso e o pior é que eles não me ouvem! Já pedi para me chamarem pelo meu nome de verdade e eles não aceitam! Falam tanto sobre a aceitação e não me aceitam. ― Tabby fica nervosa.
― Se quiser, nós vamos com você até ela e reclamamos. ― Misty olha para a amiga com compaixão.
― Sim, a gente vai. ― Song concorda.
― Não precisa. Um dia, essa escola vai ser mesmo o que adora ficar falando por aí. Pena que não vai ser hoje. Não adianta... ― Ela se levanta e sai andando até a professora.
― Você deve estar confusa, mas a Tabby não nasceu como é agora. Até ano passado, ela era Tadeu. Só que ela é uma menina agora. Só que é aquela coisa, nem todos a aceitam. ― Yuki olha para a amiga lá na mesa da professora.
― Essa escola é uma merda! ― Song fica irritada.
― Imagino como deva ser difícil. ― Fico triste por ela porque ela é uma menina.
― Ano passado foi pior. Ela voltou do Natal e estava vestindo roupas de meninas. Ela trocou todas as roupas antigas por femininas. Começou a mudança no corpo com as poções. Foram poucos que aceitaram. Eu tô te falando isso porque para ficar com a gente você precisa aceitar a Tabby. Ela é nossa amiga e não queremos alguém preconceituosa perto dela. Ela já sofre ataques demais. ― Misty me olha bem séria.
― Eu não tenho problemas com isso. ― Sou sincera, pois não tenho mesmo.
― Que bom! ― Todas elas sorriem aliviadas.
― Fiquei com medo de você ser antiquada. ― Song fala como se achasse que sou uma mulher que vive nos anos noventa, mil quinhentos e noventa.
― Não sei como é o que ela passa, mas sei como é nascer de uma forma que ninguém te aceita. Espero que ela fique sempre bem. ― Tento ser solícita.
― Ela tem a gente. Ela vai sempre estar bem se depender da gente. ― Misty sorri e entendo o que ela faz.
― Ela me disse que chegou outra reclamação na direção sobre meu comportamento vulgar e que eu devo ir até lá falar com a diretora. ― Tabby parece estar acostumada com isso.
― Outra vez! ― Misty fica irritada.
― O que foi dessa vez? ― Song também está irritada.
― Porque eu nadei ontem de biquíni. ― Ela revira os olhos.
― Jura? Mas nem era tão assim! ― Yuki fica impressionada.
― Ah, é sempre assim! Mas tô indo lá. Logo eu volto. ― Ela sai e vai embora.
― Isso sempre acontece. E não é só com ela. Tem o Chip, você deve ter visto ele por aí. É um menino que fica de boné para trás. Mas ele não quis andar com a gente. Ele tem as próprias amigas que tem a mesma idade dele. ― Misty explica.
― Pelo menos, a Tabby não é a única. ― Eu tento ver o lado positivo da coisa.
― Não é só eles. Tem a Bela também. ― Song parece achar ruim de não terem falado dela.
― Isso é bacana. Quanto mais, melhor. Assim, eles se apoiam, né? Se fortalecem... ― Fico animada que tem mais.
― Só que ela anda com a gente. Ela só não está aqui porque está na enfermaria. ― Song fica muito séria.
― O que aconteceu? ― Fico impressionada quando me lembro que é verdade, tinha mais uma que deveria estar aqui.
― Ah, ontem azararam ela! Eu encontrei ela caída perto do pé de jatobá. Estava bem ruim. Eu chamei a enfermeira e ela levou ela para a ala hospitalar. Fui ver ela hoje cedo e me falaram que ela volta depois de amanhã. ― Misty parece estar bem triste.
― Poxa, que coisa triste! ― Eu nem sei o que dizer.
― É sempre assim... Ela é a que mais sofre, pois ela não é como a Tabby que é mais tranquila. A Bela fica nervosa e rebate. É quando fazem maldade com ela. Ela não aguenta só ouvrir. Ela tem um temperamento forte, um sangue quente. E isso só faz eles acharem que precisam maltratar mais ainda e machucar ela como punição. ― Song fica triste.
― A gente acabou de te conhecer e já estamos despejando em cima de você as coisas ruins da escola. Logo, vai embora. ― Misty parece ficar sem graça.
― A escola não é tão ruim assim. Só tem algumas pessoas ruins e isso tem em todo lugar. ― Yuki também fica sem graça.
― Eu sei como é. Não se preocupem. E quero ajudar suas amigas. Se precisar de ajuda para ir contra essas pessoas que fazem isso, é só me chamar. Posso fazer alguns feitiços. ― Falo muito sério, pois não gosto mais desse tipo de coisa.
― Você é muito legal. ― Misty sorri bem feliz.
― É, obrigada. ― Song concorda.
― Quer andar com a gente? Você está sozinha, não é? A gente sempre gosta de mais companhia. ― Yuki me oferece e penso que as coisas estão dando certo, pois faz dias que procuro e não sei quem poderia ser as minhas amigas, mas agora eu tenho.
Nós fazemos o trabalho e seguimos até à sala de defesa contra as artes das trevas, do professor Alónzo Massimo. Ele é um homem de uns quarenta e poucos anos, é moreno com barba por fazer e olhos escuros. Essa é sempre a minha aula favorita, pois adoro ver como a sala inteira tem coisas das trevas. O que me faz lembrar da menina que eu fui um dia, amante dos objetos das trevas. Ela amaria ver os daqui.
No canto da sala, bem ao lado do quadro negro, há uma veste de cor roxa. Ela se destoa de todo o resto. Chama a atenção de quem entra na sala. Parece que ela te observa o tempo todo. É o único objeto grande, imponente. E eu sei o porque ele está ali. É o símbolo dos Purgare Petitio. E, por que ele está em uma sala de defesa contra as artes das trevas? Ah, isso é uma história engraçada...
― Vamos aprender hoje um feitiço escudo muito importante que foi inventado durante a ditadura da Argentina. Os bruxos argentinos viveram uma época de perseguição feita pelo Governo da Magia do país. Tanto o governo trouxa, quanto o governo bruxo atacaram os cidadãos. Tanto trouxas, quanto bruxos sofreram. Quando eram encurralados pelos agentes do governo, os bruxos contrários ao governo começaram a usar o feitiço escudo transit hicnon. É um feitiço simples. Ele impede que o outro bruxo chegue até você e nem os feitiços dele te atinjam. Isso pegou os agentes desprevenidos e dava tempo de os bruxos aparatarem. Entendido? Agora, repitam comigo... Transit hicnon! ― Ele faz o movimento com a varinha.
― Transit hicnon. ― Todos repetem.
― Muito bem... Formem duplas e pratiquem. Um ataca e o outro se protege. Troquem sempre a ordem de quem ataca e quem se protege. Qualquer dúvida, me perguntem. ― Ele sai andando para ver os alunos praticando em duplas.
― Eu prático contra a Sam. ― Misty fica animada e aceito o desafio.
― Calvitium. ― Ela aponta a varinha para mim e nada acontece, pois eu fiz o feitiço mentalmente. ― Poxa, eu fiz certinho. Calvitium. Calvitium. Calvitium.
Começo a rir comigo mesma porque é engraçada a cara que ela faz. Ela fica mesmo muito nervosa. Não vou mentir para você que, às vezes, eu fico entediada e resolvo pregar peças nos outros. Essa foi uma peça que preguei na menina. Nada tão ruim. Eu só queria rir um pouco, mas já parei. Aprendi a fazer isso tem muitos anos, mas antes eu fazia isso na maldade. Hoje, não faço mais coisas por maldade.
― Calvitium. ― Ela acerta o feitiço e sinto meus cabelos sumirem.
― Ai... ― Coloco minhas mãos na cabeça me sentindo triste por merecer isso.
― Desculpe. ― Misty vem correndo e me toca no braço.
― Tudo bem. ― Tento agir como se estivesse tudo bem, mas tô muito sem pelos na cabeça. Ela exagerou!
― Professor, eu preciso de ajuda. Me esqueci o contra-feitiço. ― Misty chama o professor e ele vem correndo.
― Está tudo bem. Capillus. ― Ele faz meu cabelo voltar como antes.
― O senhor é sempre tão legal e sempre arruma o que eu faço errado. ― Misty fica toda feliz e observo como ele sorri para ela, mas tem algo por trás do sorriso.
― Sempre que precisar pode me chamar. ― Ele é muito sorridente.
― Obridado, professor Alónzo. ― Ela sorri mais ainda e ele sai andando. ― Se ele não fosse professor, eu namoraria ele.
― Misty, sua doida! ― Song olha para ela como se ela fosse maluca.
― Ele é velho! ― Yuki concorda.
― Acho ele gatissimo! Muito gostoso! Ainda bem que vocês não querem ele, sobra mais para mim! ― Ela dá de ombros.
― Vamos praticar que ganhamos mais. ― Song volta para a posição e Misty também.
A única coisa positiva de ter ficado careca é que eu consegui não ser tão boa nos feitiços. O que é ótimo para meu disfarce. E eu estou pensando que mais tarde, eu preciso comer um pad thai.
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Lover (REPOSTAGEM REVISADA E MELHORADA)
FanficEssa é uma fanfic para maiores com temas mais fortes. Leia por sua conta e risco. Mon vai para seu último ano em Castelobruxo e conhece Sam, uma aluna de intercâmbio. Lover se chama assim por ser minha história mais amorosa, calorosa, cheia de cari...