O Teste Da Sam

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Eu olhei pra Becky e pensei... Bicha bonita, vai ser dúbia, sim! Vai matar pessoas e ser escrota! Olha essa carinha fofa, hum? Quem pensa que é desse jeito por dentro? Chegou a hora das lésbicas trambiqueiras! Uhul!

    Me levanto super cedo porque eu sou uma estudante de uma escola que começa às sete da manhã e só para quase anoitecendo. Mas que desgraça! E eu ainda vou ter que aguentar a chata da Kade a maioria do dia.
    Ah, e na boa, graças aos deuses eu te mostrei quem eu sou! Já não suportava mais fazer a boazinha! Eu sou assim, mesmo! Se não gosta de mim, não venha aqui! Mas se quiser, pode ficar me ver como sou.
     Troco de roupas e já imagino que meu dia vai ser complicado porque preciso testar a Sam e ainda tenho que informar ao líder sobre como foi o teste pra gente saber se vamos ter a reunião de boas vindas. Sabe? Não que eu não goste de fazer os testes, mas é cedo e eu tô azeda. Quem fica de bom humor à sete fuking da manhã?
     Aff... Que saco! Mas como eu já disse, vou repetir, não vou dizer que não gosto. Eu adoro! Só tô emburrada porque quando acordamos cedo a gente quer matar qualquer um. E eu amaria matar alguém agora. Dar só um avada kedavra bem verdinho como as folhas das árvores lá fora e ver a luz deixar os olhos de alguém.
     Não, estou falando sério! Se alguém consegue conversar de boinhas logo cedo, já pode jogar fora porque tem problemas. Nasceu com defeito! Aí tem que matar mesmo uma porra dessas!
     Desço as escadas, que são muitas porque são duzentos andares nessa merda, para ir para o salão e pedir meu café. Até o dourado de tudo me irrita.
     Kade está calada. Ainda bem! Se eu ouvir a voz dela um segundo, juro pra você, eu mato ela! Ah, se não mato! Se não for com magia, com certeza, será jogando ela lá no mato pra algum bicho comer ela viva. E espero que seja com muita dor. Que ela sofra quando o bicho for comendo os pedaços dela. Que ela grite alto, berre enquanto é comida! E eu vou rir! Aí eu vou rir mesmo!
     — Café puro com açúcar bem docinho e bolachinhas... — Quem falar que é biscoito também vai morrer, pois eu jogo lá no mato pra um bicho comer!
     — É biscoito... — Kade fala como se não fosse nada.
     — Man, na boa... — Eu olho pra ela fuzilando ela com os olhos.
     — Oi, Mon... — Tatum aparece como um flash, pois já sabe que eu vou matar essa aqui.
     — Que é? — Olho pra ela com ódio.
     — Ain, que grossan! Só queria saber se você está pronta para o jogo... — Sei que é o código pra saber se eu tô preparada para o teste.
     — Sim. — Respondo de forma fria pra ela saber que eu estou.
     — Ótimo, queridinha! Nos vemos na partida. Espero poder vencer você como sempre venço. — Ela dá uma piscadela e manda um beijinho.
     — Ela sempre vem aqui te provocar, né? Não sei como você não azara ela. — Kade revira os olhos, enquanto come o pão.
     — Se eu pudesse azarar alguém, não seria ela... — Estou de mau humor.
     — Quem seria? — Ela fica curiosa.
     — Nada, não... — Molho minhas bolachinhas no café e como elas molinhas.
     — A Sam nem olha mais na minha cara depois que encontrou aquelas amigas. — Kade fica triste.
     — Deixa ela pra lá. Você não disse que ia pegar geral? — Reviro os olhos pedindo paciência aos céus.
     — E eu vou... — Ela faz bico.
     — Então, deixa ela pra lá! — Eu sou ríspida.
     — Tá bom. — Ela me olha ofendida.
     Olho para o lado e vejo Sam com as amigas dela sentadas na mesa ali na frente. Vejo que ela está comendo frutas sorrindo com as amigas. Ela é tão bonita. Vou ter gosto de ter ela como minha namorada. Tão linda que a luz ilumina em volta. Como pode ser assim, né?
     Como diria o Seu Madruguinhas, bicha bonita, bicha bem feita. Até imagino a gente sentadas juntas e rindo sobre um assunto qualquer. A gente sentada lá fora na grama e eu deitada com a cabeça no colo dela... Imagino tantas coisas. Tô viadona, eu sei! Sempre tem uma primeira vez pra tudo!
     Ela vai ser minha namorada e de mais ninguém. Não sendo abusiva. Só tô dizendo que eu vou conquistar ela antes de qualquer um. Ela já deu em cima de mim tantas vezes e eu tive que fazer aloka porque eu tenho que ter uma amiga de fachada. Aff... Quem dera eu já ter beijado aquela boquinha gostosa... quem dera já ter puxado ela para um cantinho pra pegar bem gostoso... Aff...
     — Vamos para a aula de feitiços? — Kade me retira dos meus pensamentos.
     — Tá... — Me levanto de mau humor.
     Vou para a sala e me sento no meu lugar. Eu não sei você, mas quando estudo de manhã, a primeira aula é sempre a pior de todas. Parece que a cabeça não acordou ainda. Os olhos ardem querendo dormir mais. O que o professor fala não entra na cabeça. Odeio estudar de manhã! Odeio quem inventou isso! Odeio, odeio, odeio!
     E o pior é que eu sempre faço dupla com a Kade e ela é muito burra. Me faz perder o foco sempre. Porque sempre está querendo falar mal de alguém. Ou está sempre reclamando sobre como é horrível na matéria. Ela reclama de tudo e fala mal de todo mundo, é uma chata do caralho!
     Por que eles não me deixaram matar ela? Por que eles me incumbiram de ter ela como amiga? Por que não me deixaram fazer amizade com outra menina? Tinha que ser justo a mais burra e imbecil? Falaram que tinha que ser ela porque eu sou muito inteligente e ela disfarçaria meu nível intelectual alto. Que piada!
     Mas... Olha a Sam ali super indo bem de novo na aula e ela está de par com uma menina considerada até que um pouco inteligente. Ela está se destacando e eu não posso? Não é justo! Eles vão mandar ela se fazer de burra? Acho que não. Não dá tempo mais, dá? Sei lá... Tô de mau humor!
     Eles falaram que eu já me mostrava demais sendo jogadora. Deveria ser uma aluna mais mediana. Mas eu já sou isso em animais e plantas! Só que eles me mandaram... No caso, o eles é o Alónzo. Ele é quem decide! Ele disse que espera muito de mim e que espera que eu seja a substituta dele quando ele se aposentar. Eu nem disse se quero isso! Mas ele quer! E ele quer que eu seja cem por cento perfeita no meu papel de mediana.
     Eu quero viajar, conhecer o mundo! Ir pra Tailândia e ver onde minha avó nasceu! Quero ir pra Inglaterra e conhecer lá. Quero ir pra Portugal e visitar a casa antiga do fundador. Quero ir pra França e conhecer Paris. Quero ir pra Alemanha e beber a melhor cerveja do mundo. Quero ir pra África do Sul. Quero ir pra Coreia ou o Japão. Quero ir pros States e comer o cachorro quente deles que é só a salsicha de carne de bode azul e o pão só pra reclamar que ainda sinto fome por comer aquela coisa pobre. Quero ir lá comer aqueles palitinhos de carne de boi da moita que eles comem e eu dizer que prefiro mil vezes um torresminho bem feito. Eu quero ir lá no parque bruxo Valdisney e ver o Plutão, tirar foto com o Plutão e comprar um chapéu da ratazana Mickeyla. Não quero viver nessa escola no meio do mato para o resto da vida! Eu quero mais pra mim!
     Eu quero também ir em lugares trouxas e conhecer porque eu gosto de coisas trouxas. Nunca tive preconceito contra os trouxas. Só acho que, se um bruxo é burro demais pra fazer um feitiço simples, não deveria carregar uma varinha, deveria viver como trouxa ou morrer antes que mate alguém com um feitiço acidental. Isso não é errado. Eu só acho que bruxos deveriam ser conscientes de seu lugar no mundo. Ter a inteligência de saber sobre isso e continuar sua vida sem matar alguém inocente. Nós só limpamos o mundo de gente que pode afetar a ordem natural das coisas.
     Nós, que somos do grupo, não agimos só na escola, continuamos nossos trabalhos quando saímos da escola. Por isso, minha avó se tornou ministra. Ela avançou projetos que inibem que bruxos que já cometeram algum crime contra trouxas voltem a cometer. Nos casos mais simples, eles precisam fazer um curso de como segurar varinha como se fossem uma criança de onze anos no primeiro ano. Isso quando não nos livramos deles.
     Nos casos mais graves, é prisão perpétua porque minha avó não quis deixar a lei ser como no mundo dos trouxas que assassinos saem da cadeia em cinco anos porque se comportaram bem após matar alguém inocente. Não é justo alguém tirar a vida de alguém porque sim e ficar cinco anos preso. A pessoa tá na vala e o assassino tá vivendo numa boa.
     Aqui, as leis são severas. Os bruxos que matam trouxas sem nenhum motivo importante não saem mais da cadeia, pois não vão parar de matar até que morram. E isso é perigoso para as leis da magia de que os bruxos não se mostram.
     Tem os de nós que matam esses bruxos antes mesmo de eles serem presos. É parte do nosso ensinamento. Nunca deixar que um bruxo burro e egoísta nos exponha para o mundo porque quis ir lá e matar trouxas inocentes. Nós odiamos esse tipo de pensamento.
     Mas já houveram, sim, muitos de nós que saíram daqui e se tornaram os piores assassinos do mundo. É como se alguns de nós tomassem o gosto de matar, pois matamos. E nós aprendemos desde cedo como ocultar cadáveres. O que faz com que a gente saiba matar e ninguém descobrir.
      Então, esses bruxos só são achados pelos aurores mais inteligentes e espertos, pois nenhuma morte é cem por cento ocultada no mundo atual, aqui é mais fácil por ser apenas uma escola muito cheia de alunos. E, geralmente, esses aurores são ex-membros que seguiram essa carreira. Só a gente sabe reconhecer os sinais de quando um de nós se torna um bruxo das trevas. Nós reconhecemos os padrões de comportamento.
     Ouvi dizer que há bruxos que montaram um lugar lá no sul do Brasil. Mas já deixando claro que não são dos nossos. E eles se deram o nome de Portare Tod. São descendentes dos... Como eu posso dizer? São tipo que os Comensais da Morte da Inglaterra, do que descendentes de bruxos que fugiram na Segunda Grande Guerra pra cá e que vivem no sul do Brasil.
     Consegue pegar de quem eu falo? Eles estão espalhados por alguns países da América do Sul. Só que nós não compactuamos com esse tipo de comportamento de matar as pessoas por causa de sangue puro ou cor, eles sim.
     Você pode falar que nós somos iguais, mas eu não vejo assim. Nós impedimos que a raça bruxa seja descoberta pelos trouxas por causa de bruxos que não sabem nem segurar uma varinha. Já eles querem matar trouxas e nascidos trouxas por pura diversão e maldade. Nós cuidamos do nosso mundo como um todo, eles querem destruir o mundo trouxa para haver apenas os bruxos. Não somos iguais!
      E fico pensando se eles não estão aqui na escola nesse momento. Pois essa gente teve filhos. Esses filhos vêm pra cá. É óbvio que aqui tem vários deles! Só que eu nunca consegui notar quem eles são. E nunca tive com quem conversar sobre eles, pois não é algo que a gente converse, nem mesmo no nosso grupo.
     Na nossa ordem, nossa obrigação é cuidar dos bruxos burros e não de cuidar de algo que é o governo que tem que investigar. Isso vai além de nós. Eles não são bruxos burros. Na verdade, eles são muito inteligentes. Tanto que eu não os reconheço. Eles conseguem mentir até pra mim e isso é perigoso demais.
     Imagina só bruxos muito inteligentes que são tão manipuladores que podem matar sem deixar rastros? Eles só são descobertos quando querem se mostrar? E eles aprenderam após eventos do passado que a arrogância de se mostrar superiores só atrapalhava eles. Então, passaram a se esconder. Isso não é algo muito grave? Pois é...
     Minha avó lutou contra eles na época da ditadura. Aquela foi uma época que eles conseguiram fazer tudo o que queriam. Principalmente, nos países vizinhos onde houveram muitas mortes de trouxas. Você procura esses países cujas ditaduras tiveram muitas, muitas mortes mesmo. Aquilo foi obra dos Portare Tod. Entende? Nós nunca fizemos carnificina, mas eles fazem. Não somos iguais!
     E você pode me chamar de escrota porque eu comia as meninas e não queria nada com elas. Acho que você está sendo muito antiquada. Hoje em dia, uma mulher pode fazer sexo sem compromisso quando bem quer. Ela pode querer comer e depois seguir a vida. Ela pode tirar a virgindade de uma menina e não querer casar com ela. Se a menina quis dar, eu não prometi nada, não disse que a amava, não disse que a gente namorava, eu não devo nada à ela! Então, não venha me encher o saco! Ok?

Lover (REPOSTAGEM REVISADA E MELHORADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora