Fast Car & Polaroid & Rise & Mama & Ritual

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    — Eu sempre uso esse anel que meu ex me deu, mesmo ele sendo um idiota. Mas o anel é uma gracinha. — Song olha para o anel pensativa.
     — Nossa, esse anel é horrível, você é uma mocreia e seu  ex é um corno. — Tabby olha com descaso para a Song.
     — Miga, odeio quando você vem com essas piadas da Xuá... — Song fica com desprezo.
     — Piadas da Xuá? — Fico confusa.
     — A rede social trouxa. — Misty explica como se não fosse nada.
     — Seria a rede de dormir? — Fico pensativa.
     — Eu também não sabia. Eles são estranhos, os trouxas. — Yuki dá de ombros.
     — Eu não sou estranha. — Tabby revira os olhos.
     — Ai, amiga... — Song olha como se fosse sim. — Desculpe, mas é um tantinho...
     — Mas o que é rede social? — Ainda não entendo.
     — Vou explicar para você. Os trouxas têm celulares. Você sabe o que é celular? — Tabby me olha com paciência.
     — Seria aquele negócio retangular que eles usam em todos os lugares, não é? — Fico pensativa.
     — Sim, celular! Vamos dizer que lá dentro tem uns... Como eu explicaria para você entender? Eles tocam naquilo e aparecem opções de coisas para eles mexerem. Uma dessas coisas é o Xuá. Nele, os trouxas colocam pensamentos, notícias, conversam, fazem piadas... E acima de tudo... Eles se destroem sem motivo nenhum. Eles se xingam e se maltratam sem se importar que podem causar até um suicídio. Quando as pessoas se matam pelos ataques deles, eles atacam quem faz isso como se não fossem eles mesmos. Depois de uns minutinhos, já estão atacando outras pessoas até elas se matarem. E, não satisfeitos, eles ainda fazem piadas como dizer que vão se matar na frente das pessoas para elas não gostarem. Num resumo, isso é o Xuá. — Ela dá de ombros como se não fosse nada.
     — Pode ter tudo isso num só lugar? — Fico confusa sobre que é muita coisa.
     — Tem até mais coisas. Quando a gente sair daqui para passear na cidade, eu te mostro meu celular. Você vai entender. — Ela sorri e eu ainda fico sem entender.
     — Por que chama Xuá? Que nome estranho. — Fico pensativa.
     — Parece uma pornô, né? Nem liga, foi um doido que colocou. Ele é viciado em letras e nomes estranhos. Até colocou nome na coitada da criança que ele reproduziu com uma cantora famosa e estranha sendo o de uma letra. Extravagância de rico autista, sabe? — Tabby continua sem se importar.
     — Autista rico... O que seria autista? — Fico pensativa.
     — É uma condição de algumas pessoas. Têm as pessoas que passam a vida inteira sem falar e não se comunicam de forma alguma com as pessoas, só com os pais. Tem aquelas que aprendem a falar depois de anos e só falam poucas palavras. Outras falam normalmente e até conseguem ter uma vida normal. O erro das pessoas é colocar os autistas como só as pessoas que não olham nos olhos e não se comunicam com ninguém. Há os que têm uma vida normal, mas eles podem ter os seguintes comportamentos... Não gostar de sol porque o sol faz doer a vista. Não gostar de barulho porque dói o ouvido. Gostar de ver as mesmas coisas e aprender tudo sobre determinados assuntos a exaustão, se tornando mais especialistas do que professores formados, ou saber sobre vários assuntos porque existe uma espécie de vício neles. Tem algumas manias que a pessoa fica repetindo. Por exemplo, ela anda na rua e fica tocando na parede de todas as casas ou fica estalando ou batendo os dedos em superfícies toda hora. Tem quem fica cantando toda hora. São várias coisas. O que causa estresse em quem está perto delas. E mesmo assim... Não dá para colocar numa caixinha. Cada autista tem seu jeito peculiar. Uma pena que ainda não vejam isso e tentem fazer eles serem uma única coisa. — Ela suspira como se estivesse cansada.
     — Como você sabe disso tudo? — Fico curiosa.
     — Porque meu irmão é. Ele ainda é pequeno, mas logo virá para cá. Ele nasceu bruxo assim como eu. Só mais três anos, ele estará aqui. — Ela dá de ombros.
     — Como você sabe que ele é autista? — Fico interessada.
     — Porque minha família é trouxa e os trouxas, hoje em dia, estão preocupados demais com esses tipos de coisas. Aí minha mãe levou ele ao curandeiro trouxa e descobriu. — Ela dá de ombros.
     — Entendo... — Concordo com a cabeça, mesmo não entendendo tudo, são tantas questões.
     — Aqui no mundo bruxo, não tem essas preocupações com essas coisas. Tudo gira em torno de se você é sangue puro ou não, se é lobisomem ou não, se é vampiro ou não. Noto como a sociedade trouxa está avançando nessas questões, enquanto a sociedade bruxa ainda é antiquada. Não se discute nem sobre a depressão. Não se tem nem estudos sobre como tratar isso nos bruxos, uma poção ou feitiço. E nunca vi uma pessoa deficiente nessa escola nesses anos todos, o que é estranho demais. No mundo trouxa, existe tantas. — Tabby fica nervosa.
     — O que seria pessoa deficiente? — Fico sem entender.
     — Vou citar exemplo porque é mais fácil de você entender... São pessoas que nascem sem algum braço ou perna, pessoas que não enxergam, não ouvem ou não falam. Pessoas que não cresceram ou que cresceram demais. Pessoas como os autistas... São pessoas que não se encaixam no que o ser humano considera como o normal, mesmo eles sendo. Só que são diferentes. Entende? — Ela me olha de forma bem séria.
     — Entendo... — Fico pensativa, pois é um ponto interessante e eu entendo o porquê não têm essas pessoas aqui.
     — Pensa só... Castelobruxo deve ter, sei lá, uns oito mil alunos vindos da América do Sul e intercâmbio... Não vemos um deficiente. Não precisa ter duzentos! Mas não ter nenhum que se encaixa numa deficiência é de se estranhar. Onde estão essas crianças? — Ela olha para gente séria e a gente fica olhando para ela sem saber o que responder.
     — Oi, Sam. — Mon aparece do nada e eu olho para ela com curiosidade. — Poderia me ajudar com uma coisa sobre a matéria da aula de feitiços? Você é tão boa...
     — Claro. — Me levanto na hora, pois sei que no primeiro teste, já passei, senão ela nem viria atrás de mim.
     Nós caminhamos pelas mesas e andamos pelo corredor, saímos pela porta do salão principal e vamos para a frente da escola. O sol está quente e eu preferia estar lá dentro. Já disse que sou meio vampira. Vamos até uma árvore que está no meio da grama.
     — Então... Eu preciso te fazer umas perguntas e eu preciso que você seja sincera comigo, tudo bem? — Ela me olha bem séria como se quisesse me testar.
     — Sim, claro! Pode perguntar. — Tento ser bem leve para passar a melhor impressão.
     — Eu sei que você não é da Coreia. Você mente muito mal. — Ela fala bem séria e   finjo estar surpresa, mas já sabia que ela sabia que era mentira.
     — Você me pegou! Eu inventei isso para me enturmar porque o kpop está fazendo muito sucesso por aqui e até as bandas bruxas coreanas estão correndo o mundo. — Finjo estar super sem graça com a situação.
     — Tudo bem, sem problemas. Quem é que te deu esse colar? — Ela continua a me analisar.
     — Foi meu avô. Ele estudou aqui em mil novecentos e sessenta como intercambista e me ensinou tudo. Tenho aprendido tudo com ele. Meu avô se chama S̄wy Rxy Yîm. Pode procurar e ver que ele existiu. Ele foi amigo de muitas pessoas e me mandou para cá para seguir seus passos. — Sou sincera, pois sei que posso fazer um intercâmbio aqui após me formar, porque me formei ano passado na Mahoutokoro e eles vão pesquisar para ver sobre isso.
     — O que você sabe sobre nós? — Ela continua de forma séria.
     — Sei que nós temos que proteger a sociedade. Temos que fazer de tudo para isso, até chegar aos últimos limites. Nós não podemos nos prender à idade, nem a nada. Até nossos membros podem ser considerados inaptos e devem ser eliminados. — Falo o discurso decorado com a maior facilidade.
     — Você não vê problemas nisso? — Ela continua a me analisar porque faz parte do esquema.
     — Não vejo. — Minto muito bem.
     — Você não tem problemas em mentir? — Ela me analisa friamente .
     — Como você pôde ver, eu menti para você. — Sorrio para ela, mas só estou rindo da cara dela porque estou mentindo e ela nem está percebendo.
      — Mentiu muito mal. Você precisa praticar. — Ela acha que me pegou.
      — Tem toda razão, mas eu sei mentir muito bem quando realmente quero. — Resolvo tirar uma com a cara dela.
     — Então, você não queria mentir para mim? — Ela fica desconfiada e eu recuo na minha zuera.
     — Na verdade, não. Porque eu queria me aproximar de você. — Sorrio para passar verdade e ela fica séria de repente.
     — Porque você é descendente de membro... — Ela volta a me analisar.
     — Também... Mais foi porque eu te achei linda e sua amiga não saía do meu pé. Até enfeiticei ela para ela dormir e me deixar sozinha com você. — Jogo quase que a verdade inteira para ganhar pontos.
     — Jura? —  Acho que peguei ela porque ela fica toda surpresa.
     — Não estranhou ela dormir? — Começo a rir porque ainda me lembro da Kade caída, eu não presto.
     — Na verdade, eu dei graças aos deuses! Obrigada por aquilo! — Já desconfiava disso.
     — Sério? Que bom que gostou! — Fico bem feliz por ter percebido isso.
     — Eu só sou amiga dela porque fui mandada. Não suporto ela. — Ela revira os olhos, se mostrando de verdade para mim, o que é bom.
     — Imagino, mesmo! Ela é insuportável! Como você aguenta? — Entro na onda para ela se abrir mais.
     — Nem eu sei... — Ela dá de ombros.
     — Você tem muita força de vontade. — Continuo a sorrir.
     — Sim, tenho! Mas obrigada pelas respostas. Você terá sua resposta em breve.  Vamos para dentro antes que a Kade me veja com você e me xingue. — Ela revira os olhos e penso que coitada dessa menina tendo uma amiga falsa desse jeito.
     — Você não estaria à fim de me encontrar depois? Tipo, à noite? — Acho que é a hora de dar um passo a mais, já que ela se mostrou um pouco para mim.
     — Para a gente conversar? — Ela fica bastante surpresa.
     — Podemos conversar, também. — Sorrio para mostrar que podemos fazer o que ela quiser.
     — Você quer ficar comigo? — Ela parece esperar que eu diga que sim.
     — Também... Quero te conhecer melhor. A gente pode ficar e ver o que rola. — Sorrio muito.
     — Tá, que horas? — Ótimo!
     — Pode ser depois da janta. Temos um tempo para ficar aqui fora. Sua amiga nunca vem para cá. Sempre vejo ela indo lá para cima. Aprendi a ver onde ela vai para nunca ir pro mesmo lugar. — Não minto em nada, pois, socorro!
     — Tudo bem. Combinado! Ela gosta de ir para o quarto e ouvir músicas na rádio bruxa. Aqui não pega nada trouxa, você sabe. — Ela concorda e sei que consegui o que queria.
     — Sei, sim! Então, nos vemos mais tarde. — Continuo a sorrir.
     — Tudo bem. Tchau. — Ela faz o tchau.
     — Tchau. — Vou para um lado e ela vai para o outro para a Kade não ver a gente juntas.

Lover (REPOSTAGEM REVISADA E MELHORADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora