A Formação Dos Times

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     Hoje, eu acordei com o humor de uma gralha velha sendo torturada a correr numa estreita que corre sem parar. Ou seja, vou espantar você a ler minha história. Quer ver eu te espantar? Eu tenho um humor estranho, você não vai entender. Eu não faço piadas boas, só piadas ruins. Sou um eterno dinossauro do meme chorando após ninguém rir das piadas.
     Me diga, qual seria a palavra mais bonita do seu sotaque que você gosta de falar? O mineirês tem tantas... A que eu mais gosto de falar é a variante da palavra bruz. Tem bruz, bruzinha, bruzdicalô e bruzdifri. Muito melhor que carça, carcinha, carção, carçóla.
     Também, tem a palavra tuaia. Cê chega na loja e a atendente pergunta o que você quer comprar, aí você diz que quer uma tuaia. Ela sabe na hora o que é e vai te mostrar as opções. Tuaia é bem mais elegante de se dizer do que toalha, não acha? É linda de bonita! Olha que lindo... Tuaia! Repita comigo, tuaia! Tem tuaia de mesa, de banho, de tuaia. Também tem pan... Pan di pia, pan di prato, pan di chão, pan di tirá pó.
     Chega no ouvidinho da cremosa e fala bem baixinho assim... Pega uma tuaia pra mim, gostosa. A bicha vai arrepiar toda. Ela vai dizer, tuaia é? E você com a voz sexy, tu-aia... Parei de ser besta. Juro que parei antes que você me chame de maluca. Ainda mais se eu falar como é sexy pedir um pan. Pega um pan pra mim, minha deusa! Um pan? Uhun, pan di pia! É assim que se conquista o amor de uma mulher.
     Tá bom, já sei que você desistiu de ler minha história agora. Você não quer mais saber de mim depois dessas lorotas, mas eu amo meu sotaque bonito. Tem gente que acha feio, mas eu acho sexy e lindo. Chegar na cremosinha e dizer... Minina bunita qui pareci uma frozinha di maracujá, pãozim di keju da minha vida. Mas parei! Vamos pra história!
     Enfim... Eu falei que tinha um campo de futebol, né ? Mas são três, tá, gente? Desculpe a falha da tia... Eu também cometo erros de narrativa, pois sou uma bruxa humana. E dividimos os dias e as horas que vão ser jogados. O mesmo vale para os campos de quadribol. Assim dá pra geral treinar sem treta.
     Eu sou uma jogadora, meu bem! Uma jogadora! Eu sou jogadora do time tanto de quadribol quanto de futebol desde o primeiro ano. Uma jogadora! Anota aí! Jogadora! Tá bom? Jogadora! Tá bom, chega!
     Como eu já disse, nós temos times por séries e cada série tem seu campeonato. Então, eu já tenho lugar no time desde sempre porque eu sou jogadora! Eu jogo! E só me inscrevo de novo a cada ano por educação. Faço o teste só por fazer. Só as vagas abertas por quem saiu do time ou não quer mais jogar vai sendo preenchida por quem quer entrar. Entende?
     Fizemos os testes hoje à noite para o time de futebol e nosso time ficou assim... Eu, a Faran, a Noa, a Imogen, a Minnie, a Shauna, a Jackie que é a capitã, a Natalie, a Tee, a Misty e a Jim. As reservas são a Van, a Taissa, a Lottie, a Song, a Cher e a Neung, além da única indígena que quis fazer parte do nosso time, a AJ Campos.
     Nosso time é formado por brasileiras, como eu, Faran, a Natalie, a Jackie, a Shauna, a Taissa, a Misty, a Cher, a Jim, a AJ e a Van. Por meninas dos outros países da América do Sul, como a Lottie, a Noa, a Imogen e a Minnie... E por meninas vindas do intercâmbio da Ásia como a Neung, a Song e a Tee.
     E sobre as meninas brasileiras do time... A Van é lá de Santa Catarina, eu sou mineira, a Jim é de Sergipe, a Taissa é do Ceará, a Shauna, a Natalie e a Cher são de São Paulo, a Faran é do Rio de Janeiro, a Misty é do Rio Grande do Sul, a AJ é do Pará e a Jackie é do Distrito Federal.
     As meninas de fora do Brasil que são do time são... A Lottie é do Paraguai, a Noa é da Colômbia, a Imogen é do Equador e a Minnie é da Bolívia...
     E as do intercâmbio da Ásia são Song que é da China, Neung das Filipinas e Tee do Japão. Elas já estudam na escola já tem um tempo. Vieram de intercâmbio cada uma em um ano, mas conseguiram continuar na escola por estarem dando para a escola ganhos culturais e esportivos. Algo bem comum em intercâmbio. O que fez a escola querer dar uma vaga permanente pra elas. A Tee foi a primeira a vir no terceiro ano. Depois veio a Neung e a Song.
     Você deve ter notado que a Kade disse que ia fazer parte do clube de bexigas esse ano e a Jim está no time de futebol, o que fez a Kade sair. Vou te contar o que houve entre elas pra você entender o porquê a Kade não quis entrar para o time esse ano.
     Tipo, a Kade era nossa goleira desde sempre e a Jim nossa volante desde sempre. E tudo era tranquilo, e normal. Numa boa, até que elas começaram a ter algo ano passado. No início, foi tudo bem quando elas começaram a namorar. Elas eram um casal super fofo e tranquilo, sabe? Mas aconteceu o que aconteceu...
     A Jim gostava da Kade, mas a Kade traiu a Jim com a Rissa que estava pra se formar. E já se formou. Aí a Jim caiu em depressão. A Kade não se sente culpada e não pede desculpas. Preferiu sair do time quando todo mundo ficou contra ela. Ela ainda conversa com a gente, mas é aquela coisa... Ela saiu do time porque a gente preferiu ficar ao lado da Jim.
     Agora, ela está com essa de que quer ficar com várias. Mas a verdade é que ela quer só a Sam, pois não foi atrás de nenhuma outra. Fica correndo atrás da Sam como um morcego no cio. Fica se mostrando pra Sam como um periquito querendo a periquita no meio de uma festa primaveril de reprodução sexual animal cheia de plumas e paetês.
     Fico pensando se eu seria uma talarica por ficar com a Sam. Ela parece querer algo comigo. Só que a Kade é minha melhor amiga e não quero ser eu a pessoa que a vida usou pra dar o tapa na cara que ela merece. Eu amo a Kade, ela é minha melhor amiga. Não quero carregar esse peso, sabe? Prefiro que seja outra girl a pegar a mulher dela. Eu sou uma amiga fiel.
     Tipo, já percebi também que a Sam já tem seu grupo de amigas. O que fez a Kade ficar mais na dela e aquietar a periquita dela numa gaiola, nesses últimos dias que se passaram desde o início das aulas, pois a Sam não liga pra ela. Tem três do meu time que estão de amizade com a Sam. A Cher, a Taissa e a Neung. Acho que fizeram amizade nas aulas que elas fazem juntas, eu não sei.
     O que eu sei? Sei que ela não sai da minha cabeça e eu não sei o motivo. Nunca fiquei assim por ninguém. Eu tive minhas paixonites que não deram em nada. Dei uns beijinhos que também não levaram à nada. Aquelas coisas de se pegar se compromisso só pra se curtir e tudo mais. Nada tão assim que vale à pena eu mencionar.
      Por isso, eu não dou boas cantadas, sabe? Tipo a da tuaia. Quem cai nisso? Até o papo do você gosta de queijo é melhor que a do pan di pia. Mesmo que a gente tenha aprendido que papo é papo, isso não é um papo muito bom, né?
      E eu acabei de perceber que não contei sobre mim pra você... Sei lá, menina, eu já disse que sou neta de tailandeses com um descendente de inglês? Disse que meu pai não sabe falar inglês e que não falo tailandês, mas minha mãe fala tailandês e fala português, pois nasceu no Brasil. Não foi? Eu disse? Se não disse, tá dito!
      Pois bem... Meus avós vieram da Tailândia para o Brasil na época da Guerra Fria. Ou seja, na época da Ditadura trouxa e bruxa. Eu não sei bem como foi. Não sei de nada, pra falar a verdade. Sou desinformada, sabe? Sei de nada!
     Só sei que minha avó me deu esse relógio que eu uso sempre. Ela disse que eu deveria sempre usar, pois ele me protegeria sempre. E disse que conseguiu na Tailândia antes de vir morar no Brasil. É um objeto raro e eu deveria cuidar muito bem dele. Nunca entendi o motivo de ela dizer isso, mas sempre usei. Vai que ele tem poderes mágicos, né?
      Meu pai é descendente de um inglês que veio construir as estradas de ferro em Minas Gerais. Há até uma história que o uai surgiu nessa época, pois os ingleses falavam muito o why. Mas eu acho isso conversa fiada. O uai é do mineiro porque sim e ponto. Não tem nada à ver com ingleses. E então de onde surgiu? O uai veio do uai, uai! De onde viria o uai além do próprio uai?
      Tá igual a história de quando surgiu o termo orapronobis, que é a folhinha rica em ferro que nós comemos com frango. Eu gosto de comer no omelete e super recomendo. A folha é meio molinha e escorregadia, mas é ótima pra saúde. No omelete nem vai fazer muita diferença. É mais gostoso que comer no frango. Eu prefiro frango com quiabo do que com orapronobis. Além de que ele é usado na poção da verruga preta pra ela sumir porque geral sabe que quem tem verruga preta é bruxa véia das magias das trevas. Tem que sumir com aquilo porque né...
      Mas o que tem a ver o orapronobis? É que dizem que um dia o padre estava rezando e no quintal dele tinha a árvore de orapronobis. Aí as pessoas passavam pela casa e falavam pro padre orar por nós, que no mineirês é tipo orapronobis. Sei lá, só sei que começaram a falar que as folhas eram orapronobis por causa do padre que plantou a árvore na casa dele. Outra coisa que eu acho que é conversa fiada. Se chama orapronobis porque sim uai, que saco! Que lorota de padre o que!
      Meu pai não aprendeu o inglês e como era descendente de inglês que veio trabalhar construindo estrada de ferro e não era esses fazendeiros ricos, o coitado não teve herança pra chamar de sua. O que fez meu pai nascer um pobre como a maioria da população brasileira. O sobrenome em inglês não serve de nada.
      Meus avós vieram da Tailândia com uma mão na frente e outra atrás e trabalharam em trabalho escravo. O que fez minha mãe ter uma infância muito mais pobre que meu pai. E eu não sei como meus avós se livraram do trabalho escravo. Só sei que meu avô morreu antes de eu nascer. E que a vida já estava melhor ao ponto de minha avó ter sua casa própria.
      A vida tem dessas coisas, não é? Eu vivo bem, mesmo sendo pobre. E, sim, meu pai é um bruxo nascido trouxa e minha mãe é uma bruxa puro sangue. Sempre falam como os bruxos puro sangue são ricos, pois se casam entre si e a riqueza permanece na família por gerações. Isso é coisa lá da zuropa.
      Aqui no Brasil, o que mais tem é descendente de bruxo puro sangue e pobre. Assim como tem aqueles descendentes de europeus trouxas que são pobres. Olha meu pai aí pra mostrar como é... Ou como lá no sul o tanto de descendentes de alemães trouxas que são muito pobres. E o povo do sul é trouxa demais com essa coisa de pureza, né?
      A gente vê como mostram sempre aquelas cidades com arquitetura perfeita no estilo alemão pra chamar turista, principalmente, no inverno. Mas isso é só nuns bairros, se for andar na cidade toda vai ver que tem um tanto de casinhas muito pobres em bairros muito pobres. Muitos morando em sítios pequenos e vivendo parecido com os sitiozinhos das cidades do sul de Minas Gerais.
     Sabe como é? Aqueles senhorzinhos que andam de charrete com seus cavalos cheios de mosquito voando em volta. Os cavalos fazem as fezes no meio das ruas e fica aquele cheiro de estrume. Sabe como é? Se você é de cidade grande nunca viu isso, mas se é de cidade pequena deve tá rindo dizendo é verdade! Menti? Aquela catinga verde no meio da rua, uma lastra de cheiro carnicento. Um horror!
     Mas enfim... Eu acho que num país como o Brasil, a gente sabe que há uma coisinha chamada miscigenação. São raras as famílias que não possuem isso, mas elas existem, sim. Tanto que existe o time feito só por eles na minha escola.
     E o time de quadribol deles tem a capitã chamada Tatum, uma loira azeda enjoada dos infernos. Mas tem quem ame, né? Acho que a deusa do céu gosta muito dela, pois escreveu certo por linhas tortas que ela seria a capitã de um time tão chato e preconceituoso quanto aquele. O tanto que ela ataca as minorias, é de morrer. Só porque é puro sangue!
     Ah, esqueci de falar! Eu sou filha de um católico com uma budista. Sim, no mundo da magia há religião também porque vai do gosto. Isso é bem louco. O que me fez ser bem aberta para tudo, pois são duas vertentes bem distintas. O que me faz pensar que religião é uma coisa bem doida. Tipo, a maioria das meninas que têm uma religião são católicas. A América do Sul é muito católica. Mas tem uma evangélica, a Misty. Mas o costume mesmo é não ter religião.

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     Estou na aula de defesa contra as artes das trevas. As turmas dessa aula são divididas, pois há muitos alunos nela. Todo mundo quer aprender sobre isso e o professor Alónzo Massimo não exige notas muito altas para cursarmos essa aula, pois ele acha que todos precisam aprender essa matéria.
     Ele é muito bonzinho. É um homem alto e magro de cabelos pretos e olhos castanhos, barba por fazer. Parece que ele nunca faz a barba direito. Deve ter preguiça, o que faz ele ter uma aparência de largado.
     — Vamos aprender hoje um feitiço escudo muito importante que foi inventado durante a ditadura da Argentina. Os bruxos argentinos viveram uma época de perseguição feita pelo Governo da Magia do país. Tanto o governo trouxa, quanto o governo bruxo atacaram os cidadãos. Quando eram encurralados pelos agentes do governo, os bruxos contrários ao governo começaram a usar o feitiço escudo transit hicnon. É um feitiço simples. Ele impede que o outro bruxo chegue até você e nem os feitiços dele te atinjam. Isso pegou os agentes desprevenidos e dava tempo de os bruxos aparatarem. Entendido? Agora, repitam comigo... Transit hicnon! — Ele faz o movimento.
     — Transit hicnon. — Todos nós repetimos.
— Muito bem... Formem duplas e pratiquem.  Um ataca e o outro se protege. Troquem sempre a ordem de quem ataca e quem se protege. Qualquer dúvida, me perguntem. — Ele fala e sai andando pra ver os alunos praticando em duplas.
     A sala de defesa contra as artes das trevas é quase parecida com a de feitiços. A única diferença é que ela é cheia de imagens ou objetos das trevas que o professor deixa para vermos nas paredes.
     O objeto que sempre me chamou a atenção é um que é uma capa roxa muito escura, da cor de suco de uva. Ela fica num canto da sala como se estivesse nos vigiando sempre. Não há informação do que ela é, diferente dos outros objetos. Quando perguntamos no primeiro ano, ele disse que era melhor nunca sabermos do que se trata. Até hoje, ele nunca nos disse.
     E temos a arena para praticarmos. Fazemos sempre duelos para sairmos o mais formados possível da escola. O que eu acho muito legal, pois como eu já disse, sou ótima em feitiços, só que não. E quando eu digo feitiços quero dizer que sou ótima em todos os tipos de feitiços, desde de defesa, transfiguração, a feitiços comuns, mesmo. Sou uma merda ambulante, mas é bom aprender né? Vai que uma seita estranha tenta me matar!
     — Corpus rugae. — Kade aponta a varinha pra mim.
     — Transit hicnon. — Eu aponto a varinha para ela e o feitiço dela é bloqueado.
     — Muito bem, Mon! Você sempre sendo a primeira a acertar o feitiço! — Ele me elogia e eu fico super feliz, pois ele é meu professor favorito, o que me faz querer dar meu melhor. Às vezes, eu consigo como hoje.
     — Vamos trocar... — Kade, como sempre, tenta se mostrar tão boa quanto eu.
     — Corpus rugae. — Eu aponto a varinha pra ela antes dela esperar e várias rugas aparecem pelo corpo dela como se ela fosse uma bruxa das trevas muito velha.
     — Ain, era pra esperar! — Ela fica ofendida, enquanto eu desfaço o feitiço.
     — No mundo lá fora, você deve estar sempre pronta, amiga. — Eu dou de ombros.
     — Aqui não é a vida real! Ninguém vai te atacar aqui, vai? — Ela fica brava.
     — Mas poderia ser. Eu poderia ser alguém que te ataca pra te matar. A gente nunca sabe se nossos amigos são amigos de verdade, pois a falsidade toma conta do mundo, bebê... — Eu dou de ombros e espero ela entrar na posição de defesa.

Sim, eu coloquei a Tatum da série lá que namorava a Leighton. Porque a atriz é linda e eu amo os papéis dela de bicha má. Eu ia colocar a Leighton também, mas vou pensar se coloco depois ou não... Veremos... A AJ Campos é a do filme Crush. Eu escolhi ela porque a atriz é havaiana. Os havaianos são indígenas polinésios. Eu não conheço outra atriz jovenzinha que é indígena. Então, peguei ela. Os indígenas quase nunca recebem papéis. Tá uma desgraça fazer inclusão indígena nisso.

Lover (REPOSTAGEM REVISADA E MELHORADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora