— Onde você tá?— A voz urgente provavelmente fez Kazuha ficar alerta. Ele ficou em silêncio, parecia ponderar se falava ou não - isso até S/N ouvir o som da água. Perto de onde moravam só havia um lugar com vento e água àquela hora: a ponte que separava a cidade dos poucos parques que ainda restavam.
— Sinto muito, S/N.— Com a voz finalmente explodindo num choro copioso, Kazuha desligou.
— Klee, você vai ficar bem se eu te deixar sozinha um pouco? Eu preciso...— A voz urgente de S/N era uma novidade para Klee, e por isso a menina simplesmente concordou com a cabeça, se enfiando na cama da irmã, abraçando o maior dos travesseiros. Ela provavelmente tinha ouvido a conversa.
Antes que pudesse pensar claramente, S/N vestiu um casaco grosso, calçou as botas de caça rapidamente e saiu pela casa, procurando pela Insígnia dos Vorona - se fossem pegos em alguma patrulha, S/N sabia que poderia proteger a ambos com o nome Vorona - afinal, a filha prodígio de Alice Vorona tinha permissão para fazer patrulhas se assim quisesse.
As ruas estavam desertas e muito silenciosas - os únicos sons que podiam ser ouvidos eram do choque das botas de S/N contra o chão enquanto ela corria o mais rápido que podia em direção a ponte.
Não era tão longe, mas ela sabia que levaria bons dez minutos para chegar até lá. Enquanto corria, S/N tentava ligar para Kazuha, e desviando de uma ou duas patrulhas, ela se embrenhou no mato alto de algumas das ruas arborizadas.
Ela sabia que não tinha tempo, mas desejou ter colocado uma calça comprida - o casaco não era suficiente para proteger as pernas dela dos galhos mais afiados e os sentia açoitar sua pele enquanto corria, impulsionando o corpo para frente, dando passadas largas.
O som que o celular fazia enquanto chamava ficariam na memória dela, a aterrorizando pra sempre, ela sabia que se lembraria da sensação - o medo, a ansiedade, a angústia.
Céus, ela torcia para que Kazuha estivesse bem.
De longe, ela reconheceu o toque do celular do melhor amigo - era uma música suave e tranquila, personalizada só para ela. Assim que alcançou a entrada da ponte, ela saltou as grades altas com maestria antes de varrer o local com os olhos.
Kazuha estava de pé na borda, se segurava com apenas uma das mãos nos cabos de sustentação. S/N correu o restante do caminho até entrar no campo de visão do garoto.
— K–Ka-Kazuha....— ela se apoiou nos joelhos, rezando para recuperar o fôlego de uma vez.
— C-como você sabia que e-eu...— Kazuha não a olhou diretamente, parecia querer esconder um lado do rosto com a mão livre. Os dedos estavam cortados, havia sangue manchando a roupa colorida gritante. Ele parecia fraco e tinha chorado muito - era aparente graças aos olhos inchados e molhados.
— E-eu sei... tudo sobre... você.— S/N despejou as palavras enquanto tentava desesperadamente respirar. Antes que o garoto pudesse reagir, ela subiu no corrimão alto da ponte e se sentou ao lado dele, perfeitamente apoiada em uma das cordas de sustentação. O metal frio era bem vindo em contraste com o corpo quente dela. Kazuha a observou durante todo o processo, ela ainda recuperava o fôlego quando ele decidiu.
— E-ele... eu...— Kazuha finalmente se rendeu às lágrimas, buscando organizar o turbilhão de pensamentos, ele se sentou ao lado de S/N que finalmente pode ver o que ele tentava esconder - o rosto queimado na altura da bochecha numa linha sadicamente desenhada, o sangue e os olhos inchados num tom tão escuro de roxo que S/N nem poderia diferenciar do preto. Ela agarrou o queixo do garoto e o moveu para poder ver melhor. No pescoço haviam marcas que seguiam para dentro da camiseta em farrapos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Alvorecer do Corvo ( Xiao x Reader)
FanfictionPara salvar o que restou da raça humana, quatro grandes famílias se uniram na criação de uma cidade protegida chamada Capital. No entanto, dentro das barreiras que protegem o que restou, nem tudo é o que parece, as quatro grandes famílias carregam s...