Arco I - A égide do corvo III

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— Onde você tá?— A voz urgente provavelmente fez Kazuha ficar alerta. Ele ficou em silêncio, parecia ponderar se falava ou não - isso até S/N ouvir o som da água. Perto de onde moravam só havia um lugar com vento e água àquela hora: a ponte que separava a cidade dos poucos parques que ainda restavam.

— Sinto muito, S/N.— Com a voz finalmente explodindo num choro copioso, Kazuha desligou.

— Klee, você vai ficar bem se eu te deixar sozinha um pouco? Eu preciso...— A voz urgente de S/N era uma novidade para Klee, e por isso a menina simplesmente concordou com a cabeça, se enfiando na cama da irmã, abraçando o maior dos travesseiros. Ela provavelmente tinha ouvido a conversa.

Antes que pudesse pensar claramente, S/N vestiu um casaco grosso, calçou as botas de caça rapidamente e saiu pela casa, procurando pela Insígnia dos Vorona - se fossem pegos em alguma patrulha, S/N sabia que poderia proteger a ambos com o nome Vorona - afinal, a filha prodígio de Alice Vorona tinha permissão para fazer patrulhas se assim quisesse.

As ruas estavam desertas e muito silenciosas - os únicos sons que podiam ser ouvidos eram do choque das botas de S/N contra o chão enquanto ela corria o mais rápido que podia em direção a ponte.

Não era tão longe, mas ela sabia que levaria bons dez minutos para chegar até lá. Enquanto corria, S/N tentava ligar para Kazuha, e desviando de uma ou duas patrulhas, ela se embrenhou no mato alto de algumas das ruas arborizadas.

Ela sabia que não tinha tempo, mas desejou ter colocado uma calça comprida - o casaco não era suficiente para proteger as pernas dela dos galhos mais afiados e os sentia açoitar sua pele enquanto corria, impulsionando o corpo para frente, dando passadas largas.

O som que o celular fazia enquanto chamava ficariam na memória dela, a aterrorizando pra sempre, ela sabia que se lembraria da sensação - o medo, a ansiedade, a angústia.

Céus, ela torcia para que Kazuha estivesse bem.

De longe, ela reconheceu o toque do celular do melhor amigo - era uma música suave e tranquila, personalizada só para ela. Assim que alcançou a entrada da ponte, ela saltou as grades altas com maestria antes de varrer o local com os olhos.

Kazuha estava de pé na borda, se segurava com apenas uma das mãos nos cabos de sustentação. S/N correu o restante do caminho até entrar no campo de visão do garoto.

— K–Ka-Kazuha....— ela se apoiou nos joelhos, rezando para recuperar o fôlego de uma vez.

— C-como você sabia que e-eu...— Kazuha não a olhou diretamente, parecia querer esconder um lado do rosto com a mão livre. Os dedos estavam cortados, havia sangue manchando a roupa colorida gritante. Ele parecia fraco e tinha chorado muito - era aparente graças aos olhos inchados e molhados.

— E-eu sei... tudo sobre... você.— S/N despejou as palavras enquanto tentava desesperadamente respirar. Antes que o garoto pudesse reagir, ela subiu no corrimão alto da ponte e se sentou ao lado dele, perfeitamente apoiada em uma das cordas de sustentação. O metal frio era bem vindo em contraste com o corpo quente dela. Kazuha a observou durante todo o processo, ela ainda recuperava o fôlego quando ele decidiu.

— E-ele... eu...— Kazuha finalmente se rendeu às lágrimas, buscando organizar o turbilhão de pensamentos, ele se sentou ao lado de S/N que finalmente pode ver o que ele tentava esconder - o rosto queimado na altura da bochecha numa linha sadicamente desenhada, o sangue e os olhos inchados num tom tão escuro de roxo que S/N nem poderia diferenciar do preto. Ela agarrou o queixo do garoto e o moveu para poder ver melhor. No pescoço haviam marcas que seguiam para dentro da camiseta em farrapos.

O Alvorecer do Corvo ( Xiao x Reader)Onde histórias criam vida. Descubra agora