Arco II - A Desolação do Corvo V

80 13 6
                                    


S/N se sentia zonza ao voltar para o ninho de onde tinham fugido com tanta pressa na noite anterior. Aquela sensação de formigamento enquanto ela pressionava alguns botões na Sykkel, esperando que a barreira azul se formasse magicamente ao redor dele.

Ela se preocupava com duas coisas naquele momento: se perderem de vez enquanto Venti a guiava por onde se lembrava de terem vindo no dia anterior, e ficar sem o que quer que fosse combustível para a Sykkel.

Entre uma curva e outra, ela tentava memorizar o caminho enquanto Venti os guiava por lugares que se lembrava, havia alguns pontos que gatilhavam a memória dele: uma ruína, uma placa parcialmente destruída, uma árvore morta com balanço milagrosamente pendurado.

Desde cedo, quando acordaram, haviam comido o restante das castanhas e partido em busca de um caminho que só existia na memória do garoto. S/N era terrível com localização, desde sempre fizera os mesmos caminhos e quase sempre se perdia sem a ajuda de Kazuha ou Klee.

Venti ainda se segurava firme com os braços ao redor da cintura de S/N, ele não podia confiar nas pernas feridas e o veículo não ajudava muito – e diferente do dia anterior, ela se sentia só um pouco mais confortável com a proximidade. S/N sempre foi arisca com contato físico, desde o dia em que fugiu da mansão dos Vorona, desde aquele dia com a avó, ela havia banido qualquer tipo de proximidade – exceto com Klee e Kazuha, agora com Venti.

Ele não parecia necessariamente confortável, se desculpando sempre que a apertava demais graças a uma curva acentuada ou obstáculo na pista ao qual S/N não via a tempo de desviar.

Entre uma curva e outra, S/N reconheceu o bairro: os gramados mortos e placas de concreto caídas. Em outrora aquele lugar poderia muito bem ser um bairro familiar, cheio de casinhas e prédios com poucos andares.

Mesmo que Venti ainda a guiasse, ela já podia seguir sozinha, depois de longas horas na estrada, ela finalmente reconheceu a distância o brilho azul de uma barreira.

— S/N, como vamos entrar?— Venti tentou miseravelmente controlar a voz desesperada quando se aproximara o suficiente da entrada para o subterrâneo. O visor brilhou e então S/N se lembrou também, sentindo o peito bater forte no peito, ela se sentiu tonta graças à ansiedade. Em todas as bases, Elisa abria a barreira com a insígnia. — Nós não temos uma insígnia.

Foi então que ela se lembrou, e rezou para ainda carregar o objeto no bolso. Ela vasculhou o sobretudo, e entre um saquinho vazio de castanhas e o bilhete amassado ilegível ela encontrou o objeto, o puxou muito rápido e passou pelo visor, torcendo para funcionar.

O visor piscou suavemente assim que a garota passou a insígnia com duas camélias, imaginando que apenas insígnias específicas abririam a barreira, afinal Elisa tinha uma posição de liderança – o que não faria sentido, já que qualquer membro da equipe poderia ter uma emergência e precisar voltar, ou talvez, fosse só a mente da garota tentando a consolar e lhe dar esperança, S/N mordia as bochechas na parte interna da boca, sentindo o gosto metálico desagradável de sangue. Ela esperou, e decidiu avançar para o subsolo, torcendo para que conseguissem entrar.

— Como você tem uma insígnia?— Venti perguntou, apoiando o queixo no ombro da garota.

— Encontrei com um bilhete antes de ontem, pensei em levar de volta para a Capital.— Ela respondeu, prendendo a respiração ao chegar onde a barreira deveria estar aberta para que eles pudessem entrar.

E ela estava.

S/N soltou o ar dos pulmões antes de ouvir uma voz familiar de longe. A garota reconheceu o tom acovardado assim que estacionou a Sykkel ao lado de outras duas.

O Alvorecer do Corvo ( Xiao x Reader)Onde histórias criam vida. Descubra agora