S/N fritava ovos para o café da manhã. Eram os favoritos de Klee, e o cheiro de casa preencheu os pulmões de Kazuha antes que ele pudesse pensar em qualquer outra coisa. Se vestindo rapidamente, ele encarou rindo o bilhete mal escrito em cima do uniforme: "Passei suas roupas para você :D".
Assim que chegou perto da porta entreaberta pôde vislumbrar Klee gargalhando o mais baixo que podia enquanto S/N fazia mais um comentário maldoso sobre algumas das meninas que zombavam de Klee na escola. A garota tentava ajudar a arrumar a mesa sem se sujar enquanto S/N usava todo o talento em linguagem corporal para imitar um pombo com o peito estufado.
—Olha pra mim eu sou a Reneé, tenho 10 anos e sou superior a toda sua linhagem, sua rata imunda!— Ela nasalou a voz, apontando para Klee, a espátula que usava para mexer os ovos na frigideira.
—Óh não! Estou humilhada, e agora, o que vou fazer?— Klee se jogou no sofá, fingindo se contorcer de dor.
—Nada tema pequena criança, eu estou aqui para acabar com esse gremlin malvado!— Kazuha saltou pelo corredor, erguendo Klee nos braços assim que a alcançou. A menina riu quando Kazuha jogou o cabelo curto e se posicionou com ferocidade contra S/N. Era claro que ele estava imitando a imagem que tinham de S/N.
—Ela provavelmente não sabe o que é um gremlin.— Klee agarrou o pescoço de Kazuha num abraço apertado.
—Porca sem cultura!— Kazuha gritou.
—Klee, você também não sabe o que é um gremlin.— S/N riu de canto, claramente num tom de deboche. Ela serviu os ovos em três pratos separados - ovos, duas fatias largas de pão fresco com manteiga e um suco de caixinha. O prato de Kazuha tinha algumas frutas cortadas em formatos diversos - elefante, urso e estrelas, enquanto o de S/N tinha apenas frutas picadas em diferentes tamanhos indicando que eram o que sobrou do recorte das de Kazuha. Ele se sentia mimado e realmente amado ao notar aqueles pequenos detalhes.
Os três se sentaram para comer e Kazuha agradeceu mentalmente por aqueles momentos roubados de sua vida cotidiana. Em casa ele provavelmente perderia a fome assim que chegasse à sala de jantar.
—Queria que todos os dias pudessem ser assim.— Kazuha comentou, caminhando ao lado de S/N, ela parecia concentrada no diário já que escrevia nele sem parar.
—As coisas não melhoraram com seus pais?— Ela perguntou aérea, mas Kazuha sabia que não era uma resposta automática, ela estava prestando atenção.
—Alguns dias são melhores que outros, sabe?— Num suspiro, Kazuha inclinou o rosto para tentar enxergar o que S/N escrevia tanto - diários de papel eram bem raros, todo o material era digital então aquilo deveria significar algo. Assim que estava perto o bastante pode ter uma visão privilegiada dos rabiscos que S/N fazia no diário - apesar de parecer estar escrevendo, ela havia desenhado rapidamente a cena do café da manhã.
—Quero registrar enquanto tá claro na minha mente.— Respondeu ela, mesmo que Kazuha não tenha perguntado nada. Ela parecia ler a mente do garoto. —Sabe, Kazu, sempre que precisar espairecer desse caos Néfiris pode vir passar a noite comigo e com a Klee. Não prometo ter sempre frango frito, mas...—
—Eu sei. Obrigado.— Kazuha sorriu genuíno, e desejou que aqueles momentos fossem eternos. —Não reclame quando tiver que me expulsar de casa com uma vassoura.—
S/N riu pelo nariz antes de começar a mexer nos bolsos do blazer.
— Klee fez algo para você, aliás.— Ela mexeu mais um pouco até finalmente encontrar: um cordão dourado com um pingente esculpido em madeira. Kazuha precisou segurar o choro quando notou a pequena frésia desabrochada esculpida com cuidado pela garotinha. S/N e ela usavam aqueles cordões desde que a mais velha decidiu investir no hobby de Klee - a de S/N eram hortênsias, a de Klee era um lírio. E apesar de ser leigo quanto ao significado das flores, ele sabia que aquela pequena frésia representava amizade.
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O Alvorecer do Corvo ( Xiao x Reader)
FanficPara salvar o que restou da raça humana, quatro grandes famílias se uniram na criação de uma cidade protegida chamada Capital. No entanto, dentro das barreiras que protegem o que restou, nem tudo é o que parece, as quatro grandes famílias carregam s...