Arco I - A égide do corvo IV

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Mais um mês se passou, Kazuha costumava buscar S/N no trabalho todos os dias - e talvez, aquela fosse a forma dele de protegê-la. Ele gostava de tagarelar sobre o dia - e agora, sobre como conseguiria um emprego de meio período para ajudar S/N com as despesas. Diferente dela, ele não tinha permissão dos pais para trabalhar, o que dificultaria qualquer chance que ele tivesse de conseguir qualquer coisa simples. S/N não queria que ele arrumasse trabalhos braçais pesados ou perigosos - que geralmente eram os mais simples de se conseguir naquelas condições.

S/N tentava usar a influência do próprio sobrenome para ajudar o amigo, mas de alguma forma, aquilo parecia ser quase impossível - e mesmo que ela estivesse lidando bem com as despesas extras, os luxos que ela permitia para ela e a irmã mais nova iam diminuindo cada vez mais, o que fazia Kazuha se sentir culpado - e ela conseguia notar aquilo, mesmo que nem ela e nem Klee se importassem de verdade.

No final de mais um mês, Kazuha anunciou que sairia mais cedo das aulas - ele tinha uma entrevista de emprego num mercado próximo ao apartamento onde moravam.

Quando ele chegou em casa naquela noite, ele trouxe frango frito e o uniforme que usaria. Repositor não era o trabalho dos sonhos para um Néfiris, mas ele parecia realmente animado.

— Precisamos mesmo levar frutas?— Klee reclamou, ela se inclinou sobre a mesa de jantar como uma criança birrenta, fazendo careta. S/N continuou a cortar as frutas em formatos de animais enquanto comia os pedaços que sobravam dos recortes. Ela respingou limão para mantê-las frescas e posicionou cuidadosamente cada um dos animais de fruta no pote grande sobre uma bolsinha de gelo, que ajudaria a manter as frutas geladas.

— É um piquenique, Klee. Você já viu um piquenique sem frutas?— Kazuha riu, montando sanduíches de patê de atum.

— Nos meus sonhos, toda noite.— Klee retrucou, dobrando a toalha florida que usariam mais tarde pela terceira vez. S/N organizou todas as comidas que haviam preparado na cesta grande.

S/N adorava os sábados. Ela se sentia como protagonista de algum slice of life que Kazuha gostava de ler, aqueles momentos a faziam se esquecer do mundo que esperava por ela lá fora, as memórias que vinha criando nos últimos meses eram o suficiente para uma vida inteira, ela sentia que valia a pena - e cada vez mais, se via rabiscando em folhas avulsas que encontrava os momentos que compartilhava com Kazuha e Klee, como se fossem uma família de verdade.

Enquanto embrulhava as latinhas de refrigerante de Klee e Kazuha, S/N tentou retroceder os últimos meses: tudo era fácil e leve, mesmo quando ela e Klee estragaram o bolo de aniversário de Kazuha, ele ainda chorou como uma criança, genuinamente feliz pela festa surpresa; ela e Kazuha dividiam o quarto agora, e era engraçado como Kazuha se enfiava na cama de S/N sempre que um temporal se aproximava, ele sabia que ela tinha medo de trovões e por isso, fazia questão de estar ali para ela.

Com o tempo, tudo o que faziam juntos era fácil, trabalhar era fácil, ir às aulas era simples, administrar a casa e as contas não eram problema. S/N não conseguia se lembrar da última vez que estivera tão feliz assim - e se pudesse, ela não mudaria nada. Se pudesse, S/N pararia o tempo e viveria daquela forma pacata pelo resto da vida.

Ela caminhou atrás de Kazuha e Klee, carregando a cesta de bebidas enquanto Kazuha levava a maior e mais pesada. O vento morno do final da manhã fazia S/N se sentir nostálgica, fazia com que ela desejasse mais que nunca tornar aqueles momentos eternos - e assim que chegaram no parque próximo a ponte onde tudo aquilo havia começado, S/N rabiscou ela, Kazuha e Klee caminhando lado a lado em direção aos piqueniques de sábado.

— O que vamos jantar hoje?— Klee perguntou, esparramada na grama.

— Você só pensa em comer?— S/N perguntou, incrédula.

O Alvorecer do Corvo ( Xiao x Reader)Onde histórias criam vida. Descubra agora