Arco III - O Devaneio do Corvo IV

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— Srta. Vorona!— Tony mais uma vez era responsável pelas entregas, e parecia contente em ver o prodígio dos Vorona ali com ele. — Sra. Vorona também, a que devemos a honra das nossas duas maiores agentes?—

Assim que Alice desceu da Sykkel, S/N notou que não era a única a estar mancando. A mãe fazia o melhor que podia para caminhar normalmente, provavelmente mais ninguém ali notaria, mas mesmo que passassem cem anos sem se ver, S/N conhecia a mãe e seus trejeitos melhor do que ninguém.

— Estou voltando para a Capital, decidi passar a noite aqui.— Alice alongou o pescoço, caminhando daquele jeito estranho para a luz.

— Vim buscar uma encomenda.— S/N sorriu daquela forma ensaiada e simpática de sempre.

— Ah! Do jovem Sr. Vayuda? Ele me implorou para te entregar isso bem rápido. Eu não estava muito esperançoso, você nunca aparece por aqui.— Tony riu, vasculhando uma das caixas de suprimento ao seu lado, retirando um embrulho razoavelmente grande de lá e o entregando a S/N. A garota agradeceu e enfiou o pacote no compartimento de bagagem da Sykkel dela. O comunicador vibrou no pulso, e apesar da curiosidade, ela o ignorou completamente quando notou a mãe mais adiante, sussurrando algo para Tony.

— ... Avise aos outros, por favor.— Alice tentava ser discreta ao falar.

— Avisar aos outros?— S/N se intrometeu, recebendo um olhar feio da mãe ao se aproximar.

— S/N...— A mãe fez um gesto rápido com as mãos, indicando que a garota devia segui-la.

Haviam pessoas rondando a sala e os corredores, haviam ainda mais pessoas nos quartos, mas Alice não se preocupou em cumprimentar nenhuma delas, simplesmente passou rápido, em direção ao último quarto do corredor. S/N a seguiu, tentando sorrir amigavelmente para todos que a encaravam.

— Feche a porta. — A mãe pediu, se sentando na beliche que S/N havia usado da primeira vez que havia estado ali. S/N fechou a porta, permanecendo de pé ao lado dela.

— Avisar o que, mãe? — S/N perguntou, sendo direta, sabia que não fazia sentido fazer rodeios com a mãe.

— Escuta, se eu te contar, você tem que me prometer que não vai atrás meter o bedelho onde ninguém te chamou, sim?— Alice disse enquanto retirava os suspensórios e se acomodava na cama pequena.

— O que é?— S/N perguntou mais uma vez, notando pela primeira vez as bandagens ao redor da cintura da mãe, estavam manchadas de sangue, o que quer que a tivesse ferido era grande e bem rápido. — Céus. Eu vou buscar algo para passar aí e trocar o curativo.

S/N saiu rápido do quarto em direção a Tony, o homem preparou rapidamente algumas bandagens, soro fisiológico, gaze, algodão e alguns analgésicos. Mesmo que estivesse curiosa, se preocupava com a mãe e por isso decidiu que seria melhor cuidar da ferida dela primeiro.

Assim que voltou para o quarto, a mãe estava deitada na cama de baixo da beliche, dessa vez sem o sobretudo e as ataduras. A camiseta dela havia grudado no sangue seco do corte, a mulher tentava arrancar o tecido dali.

— Mãe?! Para! Vai piorar, deixa que eu faço isso.— S/N se apoiou da melhor forma que pôde ao lado da cama, forrando o chão com o próprio sobretudo para poder apoiar o kit improvisado de primeiros socorros sem se preocupar com a sujeira.

— Você sempre teve mais jeito com as coisas que eu.— A mais velha sorriu, S/N quase pôde enxergar Klee ali deitada, alguns anos mais velha. Elas eram de fato muito parecidas - até nos trejeitos, ela quase sentia inveja por não ser tão parecida com a mulher assim. Mesmo que tivessem convivido por muito mais tempo, Klee não havia herdado apenas os olhos grandes e ferozes da mãe, mas a personalidade impaciente também.

O Alvorecer do Corvo ( Xiao x Reader)Onde histórias criam vida. Descubra agora