Arco IV - O Desirmanar do Corvo I

66 10 6
                                    


A luz forte incomodava S/N.

Ela se sentia tão bem quanto poderia estar, e imaginou que talvez tivesse apenas se esquecido de tirar o uniforme para dormir - ele estaria amassado, ela teria que correr se quisesse fazer o café da manhã de Klee e ainda passar a roupa; mas aí ela se lembrou, Kazuha sempre fazia o café da manhãs nas quintas.

Como ela sabia que era quinta-feira? Onde ela estava?

A luz se tornou mais intensa e então ela se lembrou - não era quinta e Kazuha estava morto. O corpo todo de S/N doía quando a realidade finalmente a atingiu de uma vez só, a fazendo despertar.

Era só mais um sonho de dias que ela faria tudo para ter de volta. Os pequenos consolos no meio de uma realidade amarga - madeira infestada por cupim, uma cama suja, coberta de sangue e lodo negro e um sol escaldante que vinha de uma janela ampla logo ao lado.

S/N se levantou, ouvindo como as tábuas rangiam sob seus pés. As pernas fracas lentamente cediam graças ao cansaço, a cabeça ainda girava e ela podia jurar que estava ouvindo tiros. A garota se inclinou sobre a janela, querendo desesperadamente ver o lado de fora.

Respirando fundo, ela tentou se acalmar quando finalmente se deu conta de onde estava. Haviam ruínas por toda parte, o sol ardia quente enquanto caminhava lentamente para o topo do céu, alguns despertos espreitavam pelos arredores completamente miseráveis, como se não vissem carne fresca há dias.

Alguém a havia trazido até ali? O desperto dos olhos humanos estava bem? Àquela altura, pouco importava.

Não havia nenhum sinal da Sykkel, as pernas de S/N estavam fracas e sua cabeça doía. Ela não tinha a espada também, apenas a arma no coldre - sem nenhuma munição e os frasquinhos de sangue nos bolsos do sobretudo.

S/N checou o comunicador no pulso, esperando que tivesse sinal - apesar de que era só uma tentativa de consolar a si mesma, ela imaginava que estava longe demais para ter qualquer tipo de sinal. Tentando controlar o pânico que lentamente se instaurava nela, a menina se sentou na cama mais uma vez.

— 'Tudo bem, S/N, você resolve.— Ela sussurrou para si mesma, completamente focada na respiração. Se quisesse mesmo sobreviver, ela precisava que o oxigênio fluísse para os lugares corretos. — Você vai voltar para casa, vai entregar as amostras de sangue e vai comer frango frito com a Klee sem reclamar. Ela tá esperando você.

Sentindo as lágrimas se acumularem nos olhos, ela sabia que agora a maré já havia se tornado tsunami à medida que os pensamentos se tornavam ainda mais incontroláveis. Ela precisava respirar, mas tudo o que conseguia fazer era chorar.

— Você prometeu pra ela, S/N!— Ela choramingou, abraçando a si mesma.

Ela queria ser como a mãe naquele momento, ou até mesmo como a avó, quase conseguia ouvir a mais velha sussurrando — você não pode ficar ai sentada tendo pena de si mesma, S/N — , e ela tinha razão. E mesmo que ela soubesse, mesmo que pudesse sair pelas ruas sem ser atacada pelos despertos, mesmo que pudesse lutar, ela só queria continuar ali, sentada sem fazer nada, porque as coisas se tornavam complicadas sempre que ela tentava agir como deveria.

Ela não era grande e forte, não se sentia como um prodígio, não podia proteger ninguém, era teimosa e não passava de um bebê chorão. Mas tudo aquilo era só ela sentindo pena dela mesma.

Ela havia enfrentado um dos traumas e disparado com a pistola depois de tanto tempo, havia tentado dar cobertura para um desperto, a mente dela estava em frangalhos agora, completamente despedaçada pelo choque.

S/N deitou na cama, encolhida e tentou focar em qualquer coisa que não fosse ela mesma. Não haviam nuvens no céu, as estruturas ali, apesar de destruídas eram altas e firmes o suficiente para resistir a destruição do passado e dos despertos, o quarto onde estava parecia velho e acabado, haviam cupins devorando a madeira clara, a porta que dava para a saída estava fechada.

O Alvorecer do Corvo ( Xiao x Reader)Onde histórias criam vida. Descubra agora