Arco II - A Desolação do Corvo IV

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Era como andar de bicicleta. Ela precisava apenas manter o equilíbrio enquanto sentia o vento bater no rosto. Das primeiras vezes que havia andado no veículo, a barreira de luz azul os protegia não apenas dos Despertos, mas do vento também, quando mais rápido S/N dirigia, mais difícil era respirar. Venti podia bloquear o vento nas costas dela, mas ela só podia contar com o autocontrole, fungando alto demais ora ou outra quando sentia o desespero suave a consumir quando notava que estava sem ar por tempo demais.

Depois de mais algumas tentativas frustradas, ela finalmente havia entendido como ligar o veículo, havia uma chavinha presa na parte de baixo do painel, que quando pressionada, ela ligava a Sykkel, mas a barreira de luz azul ainda era um mistério e ela temia que caso apertasse algo errado, o veículo simplesmente pararia de funcionar.

Ela sentiu o aperto de Venti afrouxar ao redor da cintura conforme o tempo passava. O sol já havia baixado, o escuro não ajudava a pilotar melhor pela estrada íngreme e cheia de obstáculos. Quanto mais tempo passava, menos firme o aperto de Venti se tornava, e ela se agarrou aquele toque como um medidor.

— Ei, Venti!— S/N chamou, o apertou se intensificou, o garoto se firmou atrás dela. — Não dorme.

— É meio inevitável, desculpe.— Ele comentou, esfregando o rosto nas costas dela.

— Qual é seu sabor favorito?— Ela perguntou, mantendo os olhos fixos no horizonte, buscando por qualquer coisa na qual pudesse se agarrar: um sinal de luz azul, alguma placa pintada, uma entrada secreta, outra equipe. S/N se amaldiçoou por não ter decorado o caminho do ninho até a base. Ela tentou fazer o caminho que se lembrava até estar completamente perdida. Desviou de uma carcaça apodrecendo no caminho e sentiu o estômago embrulhar.

— Seria mais fácil perguntar qual é minha comida favorita.— Venti riu, apoiando o queixo no ombro dela. As mãos dela doíam, mas ela não diminuiu o aperto no guidão da Sykkel.

— Quis ser poética igual você. Desculpe, não sou a melhor em puxar assunto.

— Achei que as Vorona eram boas em tudo.— Venti riu baixo. S/N o acompanhou.

— E nós somos. Mas minha irmã é quem é boa nisso. É tipo um pacote, cada uma é boa em alguma coisa.— Ela sentiu um suave aperto no peito ao se lembrar da mais nova - mas aquilo servia de incentivo também. Se ela sobrevivesse só mais um pouquinho, poderia voltar para ela. Não tão sã, nem tão salva.

— Me fala sobre ela.— Venti pediu.

— Não sou eu quem tá quase dormindo, Sr. Vayuda.

— Certo, o que quer saber?— Ele perguntou, murchando.

— Não sei, me fala algo interessante sobre você.

— Não tem muito o que falar, para ser sincero. Sou o irmão do meio de cinco, todos os meus irmãos pareciam ter algo grandioso e importante para fazer. Eu queria ser como eles, queria fazer algo importante e agora tô aqui, tentando pensar em algo interessante sobre mim, vendo que não tenho muito pra oferecer como resposta.— Ele ponderou por um segundo, a voz triste era novidade para S/N. — Eu coleciono amostras de espécies que encontro num diário - nada muito surpreendente, nem novo, isso conta como algo interessante? Eu não consigo pensar em mais nada, você é uma Vorona, deve ter coisas muito mais interessantes para contar.

— Meu sobrenome faz com que você se sinta intimidado ou menor que eu?

— No começo não, mas depois sim. Vocês sempre tiveram essa aura de superioridade e independência, como se não precisassem de nada nem ninguém, todas grandiosas de sua própria maneira - eu acreditei que isso era besteira, todo mundo precisa de alguém em algum momento. Mas te vendo de perto, eu notei o quanto essa imagem inicial é de verdade.— Venti tinha um tom sério incomum, mas S/N conseguia reconhecer o quão sincero ele estava sendo naquele momento.

O Alvorecer do Corvo ( Xiao x Reader)Onde histórias criam vida. Descubra agora