Raiva Obstinada

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Aeryn

|Algo fez a escuridão em que estava mergulhada ondular, algo não totalmente desconhecido, mas que ainda assim precisava ser investigado, descoberto em detalhes minuciosos.
A sensação daquela presença instigadora me causou um calafrio na espinha e arrepiou meus braços, fazendo minhas Sombras se enroscarem com expectativa e uma ponta de prazer.
Mas não havia apenas as ondulações na escuridão, havia a presença de algo tangível, e que emanava poder e perigo, mas  que estava oculto pelas Sombras, mergulhado na escuridão e preso a omissão.
Essa presença me chamava, reverberava em minhas veias como se fosse meu meu próprio poder, ameaçava me puxar para a perdição|

Acordei com a respiração acelerada e um latejar insistente próximo ao meu ventre, me deixando confusa enquanto recobrava todos os sentidos.

A lembrança do sangue em minhas mãos e a sua maldita presença em minha mente vieram em um único lampejo, fazendo minha cabeça latejar e ameaçando uma onda de ânsia, alimentada pela repulsa e raiva obstinada.

Respirei fundo e pisquei algumas vezes para acostumar os olhos a falta de claridade. Olhei para a janela e vi a noite começando a repousar sobre Velaris, cheia de segredos como as minhas próprias Sombras - e a mim mesma.

A voz do Grão-Senhor ressoou em minha mente "Temos muito o que resolver quando o sol cair, esteja pronta", e não tive tempo para ficar curiosa sobre quem havia me trazido até aqui quando lembrei disso.

Pulei da cama agilmente e calcei minhas botas - que alguém havia tirado de meus pés - correndo para o espelho encontrei meu rosto pálido como o de costume, alisei minhas roupas com as mãos, e com algumas retorcidas de dedos minhas Sombras deixaram meu cabelo solto mais apresentável.

Saí em disparada pela porta, recebendo os dedos gélidos da brisa noturna e a claridade do corredor, vinda dos lustres e lamparinas dispersos pelas paredes e teto.

Apressada, quase esbarrei em Mor quando virei uma esquina do corredor, mas me detive no último segundo. Ela sorriu quando me olhou, enquanto eu retesei meus músculos.
Mor estava vestida com um vestido vermelho como o de costume, assim como a cor de seus lábios e unhas. O cabelo brilhante refletia contra as luzes aconchegantes, e sobre o salto alto, ela estava a vários centímetros mais alta do que eu, alguns poderiam pensar que até me sentiria intimidada ao seu lado, mas a rigidez em meus músculos não tinha relação a isso, e sim ao que estava por vir.

- Estava indo até seu quarto ver como você estava, agora vejo que já está melhor - falou sorridente, mas com condescendência na voz, enquanto voltavamos a caminhar em direção aonde a seção de interrogatório aconteceria hoje a noite.

- Foi só um lapso causado pelo meu poder, já estou recuperada - indaguei sem emoção na voz, muito menos em minha expressão.

- Você, mais do que ninguém sabe que foi necessário - observou Morrigan, enquanto caminhava-mos com passos lentos.

- Sei que foi o meio que encontraram para saber a verdade sobre mim. Compreendo que há muito em jogo, mas não posso negar que isso não me agrada mesmo que seja necessário - constatei, retorcendo meus dedos em volta das Sombras para liberar minha ansiedade.

- Se as coisas fossem simples de resolver, não precisaríamos da metade do esforço que fizemos para manter tudo em ordem aqui, e convenhamos, não haveria prazer algum em nossos trabalhos - ela terminou sua fala com um sorriso compreensivo ao qual devolvi.

- Certamente não haveria - concordei, agora estávamos quase chegando.

- Todos devem estar nos esperando, sugiro a você que não se importe se Azriel for incoveniente demais, ele está magoado - ela falou olhando para mim e sorriu, soando incoveniente ao que dissera.

Herdeira das Sombras  | Azriel |Onde histórias criam vida. Descubra agora