Em Busca da Salvação

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Aeryn

Quando abri os olhos e retomei minha consciência ainda inebriada de desejo, o calor dele não estava ao meu lado, o seu cheiro ainda pairava no ar, mas ele não estava ali.
Havia partido em algum momento da noite enquanto eu dormia.

Teria sentido algo em relação a isso se realmente soubesse o que aquilo tudo significava, a questão era que as várias emoções que serpennteavam meu corpo eram avulsas umas das outras, incertas e ao mesmo tempo intensas.

Inspirei seu cheiro, ainda desejando seu toque em minha pele, suas Sombras me acariciando e sua respiração acelerada.
Mas a noite havia acabado.

O que fora revelado a noite não aparecia ao dia, havia acabado, o dia havia amanhecido.
Os meus problemas me chamavam, o veneno fluia em minhas veias e minha mente precisava trabalhar para achar algo que me curasse.

Eu continuaria provocando Azriel e ele continuaria me odiando, assim como essa noite seria apenas uma noite. Nada mais.

Levantei da cama enrolada ao lençol macio e me dirigi ao banheiro, lembrando de cada toque quando olhei de esguelha para a mesa no canto do quarto. Me amaldiçoando por lembrar de cada momento.
Eu havia me condenado.

Balancei a cabeça, lembrando do real motivo pelo qual eu estava nessa Corte quando olhei para meus braços e as gavinhas de veias escuras que começavam a se formar na altura dos punhos, ficavam cada vez mais aparentes.

Um lembrete de que a morte era a minha verdadeira sombra.

Entrei na banheira rapidamente e me banhei sem demora, passando mentalmente tudo o que precisava fazer para me livrar do maldito Rei e sobreviver a ele e a profecia.

Ambos me persiguiam, ambos me juravam a morte e ambos me condenavam cada dia mais e mais.

As vezes me perguntava se eu realmente conseguiria vencer tudo isso, se eu seria capaz de vencer o próprio destino e o caldeirão. Eu tinha poder, e um ódio profundo, as únicas coisas que me restaram, e talvez, as únicas que carreguei desde que fui atrelada a uma maldita salvação.

Me sequei rapidamente e vesti um traje apropriado para luta, algo que sempre vinha a calhar quando se tratava de mim e minha personalidade.

Cruzei o quarto a passos rápidos, não querendo olhar mais uma vez para a cama desarrumada e inspirar seu cheiro ainda em meu quarto, ainda em minha mente.

Abri a porta com força e finalmente respirei o ar limpo e fresco da manhã, enquanto desfiz o encanto em minhas asas e as alonguei, sentindo a carícia de minhas Sombras.

Havia deixado o quarto, mas minhas malditas sombras não haviam deixado a noite anterior. Insistiam em sussurrar palavras que me lembravam do que tinha que esquecer.

Elas procuravam por ele.

Controlar meus pensamentos não era simples quando minhas próprias Sombras buscavam as dele.

Com o veneno se penetrando mais em meu organismo, meu controle estava se esvaindo de pouco a pouco, como um ferimento profundo onde o sangue goteja sem parar.
E se isso não parar, o meu poder também não vai parar.

O descontrole vai me levar as Trevas, e eu trarei as Trevas onde estiver, sentindo elas me consumirem, e eu sei disso. Aquele maldito me fez perder o controle em várias vezes, sangue foi derramado e vidas foram destruídas. Isso não pode acontecer de novo.

Olhei pelas vidraças, o dia amanhecia na Corte Noturna, e ao que parecia seria um dia nublado. Sorri com isso, o brilho do sol não me sufocaria hoje, pois sentia que não o merecia.
Era como se cada dia que amanhecia fosse uma nova chance, e quase todos esses dias terminavam com sangue em minhas mãos.

Herdeira das Sombras  | Azriel |Onde histórias criam vida. Descubra agora