Aeryn
- Vá em frente Grão-Senhor.
Por breves segundos escutei apenas as respirações nervosas dos Feéricos presentes na sala, mas o silêncio logo foi substituído por um zunido agudo e latejante que se instalou no fundo da mente.
Meus escudos estavam firmemente lacrados, e se eu não os abrisse o Grão-Senhor não teria acesso as minhas memórias - e eu continuaria sendo uma mentirosa ou acabaria como uma alma morta antes do prazo.
Desejei poder apunhalar alguém para amenizar a minha frustração, mas me obriguei a abrir minha mente, obriguei ao meu poder receber o do Grão-Senhor e a não expulsa-lo de minha mente miserável.
Senti como se as garras estivessem procurando sua presa na escuridão, contorcendo-se e arranhando minhas memórias. Mas ele veria apenas o que eu mostrasse. Eu tinha meus truques, era uma espiã afinal.
*Estava em uma sala abobadada e feita de pedra cinza, o piso frio sob meus joelhos já dormentes, só não mais que o corte feito na lateral direita de meu rosto, desenhado através de um golpe desferido pelo rei.
- Eu ordenei que você matasse a todos "minha morceguinha" - a voz do Rei soava como se ele estivesse sendo gentil, mas não foi o que senti quando levei um tapa.
A raiva ferveu meu sangue e as Sombras apertaram meus pulsos em volta das correntes feitas especialmente para mim, para inibirem meu poder. Me tornarem vulnerável. Submissa.
Não olhei para seu rosto escrupulento, apenas absorvi a dor latejante. O gosto metálico de sangue estava em minha boca, e o cheiro ocre enchia minhas narinas enquanto sangue fresco escorria pelo meu rosto.
Matei uma família Feérica inteira, exceto pela criança ainda descobrindo seus poderes que deixei fugir. Agora órfã e sendo caçada pelos guerreiros do Rei.
Se eu a tivesse matado teria misericórdia e não a faria sentir dor, já pelas mãos dos guerreiros do rei...
Me culparia por essa morte até que a minha chegasse. Pela criança a qual tentei salvar e a destinei a uma morte pior ainda.- O que espera que eu faça com você? - o rei continuou, acariciando meus cabelos com suas mãos sangrentas - você merece sentir dor por não ter obedecido as minhas ordens. É até um ato de misericórdia, comparado ao que ainda posso fazer com você.
Continuei calada, me esforçando para não cuspir em sua cara.
Uma adaga reluziu na luz bruxuleante enquanto girava entre seus dedos, e ele se aproximou com um sorriso mórbido.
Senti suas mãos asquerosas agarrarem a gola de minha camisa, com um único puxão ele a rasgou ao meio, deixando meu colo e minha barriga expostos.Seu sorriso aumentou, e repeli um onda de vômito, encarando o chão, contando cada minuto para aquilo terminar e algum dia valer a pena.
A ponta fria da adaga encostou no ponto entre meus seios, uma gota de sangue solitária e vermelha como rubi escorreu até a altura de meu umbigo.- Você sabe o preço a pagar - as palavras saiam de sua maldita boca e sua mão descia traçando um corte na vertical com a adaga, trinquei os dentes - sabe o quero quando a peço para matar para mim. Você não pode fugir, não pode me matar morceguinha, Você é minha*
Abri os olhos e senti minhas mãos latejarem, levei um segundo para perceber que estava com as mãos fechadas em punhos e havia cravado minhas unhas na palma das mãos, tirando sangue.
Ergui o olhar e encontrei o Grão-Senhor me encarando. Percebi que estava fazendo o máximo para não se sentir incomodado com o que acabará de ver, mas havia uma ponta de consternação em sua voz.
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Herdeira das Sombras | Azriel |
FantasyAeryn era a confidente mais íntima das Sombras desde seu nascimento. Era a Herdeira das Sombras, a prometida a realizar a profecia que dizia que a filha dos poderes das Trevas libertaria Prythian da ganância do rei de Hybern. Da sua obsessão pelo po...