Lagoa de pensamentos

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Todas as noites, exatamente às nove e meia da noite, uma garota triste e deprimida se aproximava da lagoa, ela se sentava silenciosamente, mas com um olhar tão triste que suas palavras não eram necessárias para transmitir sua frustração.

Ela sempre estava lá, as vezes até sem motivos, parecia mais um ritual do que só passagem, ela sempre se sentava em pernas de borboletas e demorava cerca de trinta e cinco minutos até que começasse a falar.

Sua voz era doce e baixa, mas suas palavras eram tão complexas e diretas que eu mal conseguia apreciá-la, estava ocupada prestando atenção em cada palavra, cada som, cada sentimento que ela transmitia. Eu estava ocupada tentando entendê-la.

Não houve nem um só dia em que ela estivesse feliz, ela sempre esteve ali, mas nunca esboçou um só sorriso, isso me causava dúvidas e curiosidades...

"Será que ela passa o dia todo fingindo ser feliz que acaba sendo verdadeira apenas comigo?"

"Será que ela não tem nada bom o bastante para se alegrar?"

"Será que ela está triste por algo que vem acontecendo constantemente?".

A falta de resposta me deixava angustiada, a falta de resposta me deixa ansiosa, a falta de resposta quase me fez perguntar.

Eu nunca obtive respostas, eu jamais conseguiria perguntar, eu sempre ouvi o que ela queria contar, eu não achava justo me envolver em pensamentos que não me pertenciam, eu não achava justo exigir que ela me contasse tudo só porque eu sabia de boa parte.

Eu sentia pena, ela me contava sobre suas histórias depressivas e de vez em quando chorava, eu não a culpava, na verdade sentia força em cada lágrima derramada, sabia que ela nunca faria isso na frente de outro alguém.

Um dia, ela chegou às nove e quarenta, dez minutos mais tarde do que o normal, ela se sentou, mas desta vez não estava tão triste e também não tomou tanto cuidado em relação ao barulho.

Desta vez ela não demorou cerca de trinta e cinco minutos para começar a falar. Desta vez sua voz era alta, mas ainda doce. Desta vez ela já tinha chorado. Desta vez ela se recusou a pensar. Desta vez ela apenas falou o que vinha na mente.

Naquele dia eu percebi o quão agonizante era ser a pessoa que fala, a pessoa que não pensa, a pessoa que chora por chorar, fala por falar e sente porque ainda é capaz de sentir.

Eu gostaria de poder pergunta-la o motivo de tudo isso, gostaria de vê-la uma última vez, mas aquele dia foi o último em que a vi e percebi que ela não era a única que precisava falar, eu sinto falta dela, mas não sei se conseguiria encontrá-la.

Eu não achei justo a forma que terminou, mas não acho justo questionar. Eu fico feliz que pela primeira vez em anos, vi a garota sorrir, vi ela se sentir segura, vi sinceridade em seu olhar.

Pela primeira vez em anos, eu realmente a vi.

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