Rearviewmirror - O retrovisor

Capítulo 16 - O tempo

Os meses foram passando e a banda Pearl Jam começou a ganhar destaque no cenário da música embalados pelo movimento Grunge que bandas como Soundgarden, Nirvana e Alice in Chains já haviam levantado. Entrevistas e assédios passaram a ser comuns, o que os integrantes levavam numa boa, mas Eddie facilmente se irritava. Principalmente com o ataque de groupies histéricas que disputavam a cama dos integrantes no final de cada show.

O namoro de Eddie e Lilly estava seguindo normalmente. O casal estava apaixonado e o clima só ficava mais complicado quando Eddie se infiltrava na tal bolha depressiva após assédios, reportagens tendenciosas, comentários avessos ou quando durante algum ensaio ficava emotivo demais após entoar certas canções. Lilly procurava ser a mais compreensível que podia, mas nesse momento, Eddie também andava chateado, pois após posar para mais algumas fotos na Bizz Magazine, uma agência de modelos de renome se interessou pela moça e ela passou a trabalhar como modelo fotográfico o que lhe rendia alguns assédios que vez após outra irritavam Eddie fazendo os dois brigarem por ciúmes.

Conforme a banda ia fazendo excursões pela América, nem sempre Lilly podia acompanhá-lo e isso era mais um motivo para o mau humor do rapaz o que fazia com que os dois discutissem constantemente. Depois de um tempo de estranhamento, Lilly ganhou uns dias de folga e pôde acompanhar a banda a New Jersey onde fizeram uma apresentação numa loja de cds e após interpretar Alive, a última canção, Eddie ficou perturbado com a forma que o público entoava o refrão. Terminando a apresentação, o rapaz fugiu da entrevista indo se esconder na van que transportava a banda e Lilly como de costume foi atrás dele. Também como era costumeiro, ela nada falava. Apenas ficava ao seu lado enquanto ele se balançava em posição fetal ou fumava um cigarro sem dizer uma palavra. Mas, dessa vez, Eddie se manifestou:

- Lilly, você viu aquilo? Viu como eles cantaram a última música?

- Vi! E... isso não é bom? A música está estouradas nas rádios, o álbum está começando a vender bem, o público está correspondendo. Por que isso está te incomodando?

- O público... as pessoas não entenderam nada. Alive não é uma canção alegre. Ela conta uma tragédia. Talvez porque eles não tenham passado por isso, acreditem que não deve ser nada de mais e cantam o refrão como marcha de carnaval.

- Ou o público apenas fez uma interpretação diferente, Eddie. Se dizer que está vivo depois de descobrir a verdade sobre sua paternidade foi ruim para você, pode ser que eles tenham entendido o contrário. Talvez entendam que se trata de superação.

Eddie ficou olhando para a namorada com estranhamento e refletindo nas suas palavras. Mas, estava tão envolvido emocionalmente pelo que chamava de maldição em sua vida que não levou em consideração seu ponto de vista. Parecia que Eddie estava disposto a dramatizar cada vez mais cada situação e não aceitava interpretações diferentes da dele. Ficou irritado por achar que a namorada não o compreendia. Queria que ela lhe desse razão e não lhe mostrasse que estava errado, mas ao mesmo tempo admirou a sua colocação. Sabia que Lilly era uma moça inteligente e tinha opiniões peculiares sobre certos assuntos devido a sua própria experiência de vida, mas no momento tudo que Eddie queria era ter a razão do seu lado.

- Quero ficar sozinho, Lilly!

- Está bem, Eddie. - Lilly não fazia questão de insistir. Por mais que tentasse lhe apoiar, Eddie estava disposto a entender o contrário e arrumar motivo para discutir. Chegou um momento, em que o rapaz não sabia separar profissão de vida pessoal e música. Tudo estava misturado no seu contexto de vida e a tendência era piorar mais cada vez que a imprensa procurava lhe dar rótulos de rock star ou algo parecido.

Meses foram se alongando, o album Ten continuava vendendo bem e agora o PearlJam aparecia na Mtv e fazia shows em casas maiores. O assédio aumentou ainda mais quando Eddie e Lilly se tornaram destaque em capas de revista porque a mídia os julgava um casal improvável. Em sua maioria, diziam que em nada combinavam e algumas revistas chegaram a sugerir namorados que combinassem com a moça. Por mais que Lilly pouco se importasse com o que a imprensa dizia, Eddie ficava enfurecido e chegava a procurar jornalistas para pedir satisfações. A última briga ocorreu quando no fim de uma apresentação da banda em Seattle, Eddie exagerou no uso de entorpecentes e partiu para cima de um produtor musical que passou o show todo conversando com Lilly.