#22: (publico isso mordendo os lábios sensualmente)

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Blog Lia Leu Lê e Lerá


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Título: Isso não é um texto sobre amor.


Certa vez, conheci um cara que tinha um micropênis.

Mas essa não é a coisa mais interessante sobre ele.

O cara era um ator dos bons, do tipo que, se você o conhecia através do personagem, não saberia quem era ele na vida real. Ele mandava muito mesmo. Se esforçava para emagrecer ou engordar para um personagem, usava perucas, ouvia bandas de rock até se transformar no cara que queriam que ele fosse.

Também nasceu em Londres, assim como eu, o que não é uma grande coisa porque tudo que essa cidade tem a oferecer são pubs, cigarros e estudantes de universidades particulares se prostituindo depois da dez da noite. Mas a gente conversou sobre a Itália e agora eu também quero fugir para lá, como ele queria. Quero esbarrar em alguém nas ruas italianas à noite e dizer Buongiorno (bom dia) em vez de dizer Scusa (desculpa), porque eu não sei falar merda nenhuma nesse idioma.

Ele era mais alto que eu, uns bons vinte centímetros, e esse número não é um número aleatório. É, o pênis dele não era micro — mas não vou ficar falando sobre o pênis dele. Porque embora eu sempre tenha preferido me relacionar com mulheres e tenha desenvolvido uma certa apatia por homens enquanto me tornava adulta e só ficava com um se fosse apenas sexo casual, o tamanho do pênis desse cara nem importava para mim. Nada se resumia a sexo quando o assunto era nós dois. Era muito mais do que isso, num patamar extremamente clichê.

Eu já amei alguém, uma vez, mas não era nada que realmente remetesse ao amor. Todo mundo desse blog já sabe. Ela não abraçava a minha solidão e nem entendia quando eu estava enlouquecendo. Certa vez, numa crise de TPM, eu pintei as paredes do meu apê — alugado —, que eram marrons, de branco. Estava nostálgica sobre a vez que pintamos a parede do quarto do irmão dele de azul. Comecei a surtar quando caí na real. Esse cara chegou e me viu à beira da falência dos órgãos e a única coisa que eu disse foi "por que caralhos eu pintei essas paredes de branco?". Ele cuidou de mim até que eu percebesse que o meu real questionamento interno era "qual é o ponto dessa vida?". E mesmo numa crise fodida perto dos trinta anos, a gente riu.

Tudo com ele era risada. Ele era engraçado num nível que nenhum homem geralmente é. E no mesmo nível, ele era sensível. E, vejamos só, ele não é gay! Às vezes ele resmungava algo sobre o Adam Driver ser uma delícia quando assistíamos Star Wars — talvez ele seja bissexual e não admita. Ainda posso descobrir. Mas, qual é, pelo Kylo Ren, quem não é? (Faço essa pergunta mordendo os lábios sensualmente.)

Sabe o que é pior? Ele foi batizado na Igreja Católica. Na mesma que eu, mas dois anos antes de mim. Nossas cabeças foram molhadas pela mesma porra de água benta. Então ele entendia quando, às vezes, antes de dormir, eu rezava um pai-nosso e uma ave-maria — de olhos abertos, sempre, pois não sou tão intensa assim —, pedindo a Deus que cuidasse da minha irmã. Ele entendia. Mesmo sabendo que eu odeio a Igreja, que eu odeio o catolicismo e que eu e minha irmã, em teoria, nos odiamos. Aquele cara não ligava para a diferença entre teoria e prática. Não quando o assunto era eu.

Ele era meio stalker — mas eu também sou. Acreditam que até hoje ele recebe notificações quando eu publico alguma merda aqui no blog? Eu já fiz o teste: deixei o celular dele perto de mim antes de publicar a resenha crítica sobre o filme (modo de falar, porque aquilo nem devia ser considerado filme) Make Up. O celular berrou o som da notificação. Outro fator importante para a descoberta desse traço de personalidade meio maníaco dele foi ele ter decorado que o meu sabor favorito era morango — o sabor do gloss da minha ex, droga! — e pediu que a mãe dele preparasse alguma receita com isso quando fui conhecê-la pela primeira vez. Não vou reclamar, foi a melhor torta de morango que já comi na minha vida. Todas as vezes em que fui na casa de seus pais, algo me esperava: cupcake de morango?, sorvete de morango?, bolo de morango?, então que tal uma sobremesa de creme... com calda de morango?

O mais foda de tudo: ele também gosta de pizza de abacaxi. Ah, vai se ferrar.

O cara disse que morria de medo de se envolver com uma escritora (coitadinho). Ele não queria ninguém falando dele ou do pinto dele por aí. Por isso que eu estou citando tantas qualidades, mesmo que tenha falado sobre a genitália aqui e ali. Ele viu que o teclado do meu notebook tem a letra "a" apagada e disse que é porque eu só escrevo sobre amor. Por isso que esse texto não é sobre amor.

Ele aprendeu a preparar comida vietnamita, reafirmou o quanto me admira como escritora desde o meu primeiro lançamento aos vinte e dois anos — ele sempre dizia "você é muito mais inteligente do que eu, e eu não me importo nem um pouco, na verdade curto". Ele comprou todos os discos de vinil do Jeff Buckley. Ele acredita nos Illuminati. Ele acha fofo que eu dirija descalça e adotou uma gatinha linda só porque eu amo gatos e o meu síndico do mal não me permitia ter uma. E, inferno, ele nem tinha um micropênis. Ele fode muito bem também, mas acho que se eu tivesse aquele pau eu também foderia.

Agora, querido leitor, você me diz: como é que eu posso desenrolar isso? O cara me detestava e me chamou de vaca quando me conheceu. Eu quase chutei a bunda dele para que saísse do meio dos meus planos. E hoje eu estou... apaixonada por ele? Minha boca até fica seca só de pensar nessa palavra. Odeio. Paixão. Que merda.

Mas talvez seja isso mesmo. Infelizmente. Argh. Acho que estou apaixonada. E não posso pedir nada dele, porque às vezes quando olho em seus olhos por muito tempo, ele parece assustado. Quando fico nua sob um sobretudo dele, ele parece confuso e excitado na mesma medida. Às vezes, no banho, eu digo "acho que gosto muito, muito, muito, muito de você" e ele desvia o olhar. Acho que eu assusto ele.

O Jeff Buckley diz em So Real "Eu te amo, mas estou com medo de te amar".

Mas, me diga, carinha cujo nome não posso dizer mas que sei que está lendo esse texto por causa de sua mania de stalker. Me diga: você me ama? Me ajude a descobrir. Não que eu tenha prestado muita atenção, mas você não disse em voz alta, sabe? Você vê o que está fazendo? Está vendo no que está me fazendo pensar?

Bem, isso não deveria ser um texto sobre o amor. Mas acho que agora é.

Não é?



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@gyHazelWood: Que lindo! E engraçado! Você é tão engraçada! mesmo apaixonada!

Blog Lia Leu Lê e Lerá respondeu: Obrigada, Gy hahaha Adoro suas exclamações.


@UpAndDown123: Quando eu chegar em casa você vai ver só. (Digo isso mordendo os lábios sensualmente.)

    •    Blog Lia Leu Lê e Lerá respondeu: Mal posso esperar. (Digo isso esperando sem nada por baixo do seu sobretudo, na cama.)

as you want || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora