#24: o problema dos segredos é que, uma hora, todos eles são descobertos

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Estou parada em frente ao endereço da casa de Lydia Trueman há, tipo, vinte minutos, de costas para a entrada e de frente para a rua movimentada. Dois caras já pararam o carro perguntando se sou prostituta. Mandei ambos irem, gentilmente, para a casa do caralho. O segundo estava indo embora, me xingando de vagabunda mal-amada, quando Lauren finalmente chegou. Do carro estacionado do outro lado da rua até a mim, seu olhar crítico e cansado escorregava do meu rosto às flores nas minhas mãos cerca de vinte vezes por segundo, julgando intensamente. Não vou estranhar se ela também me perguntar se virei prostituta.

Quando acordei, inevitavelmente chequei a caixa de correspondências — as flores estavam vazando, não dava pra ignorar. Estressada sob os olhares da família Alison, peguei aquela merda de papel cartão de sempre e impacientemente li "Margarida". No pico do meu mau humor, resolvi dá-las a minha queridíssima mãe. Já Lauren, aparentemente optou por trazer comida, e se quer saber, acho muito mais útil. Não dá pra comer essas flores, e eu até amassei um pouco na vinda.

— Sua cara tá horrível — é a primeira coisa que ela diz, passando por mim e forçando-me a acompanhá-la.

— Eu sei — respondo, cansada —, mas a sua não tá muito melhor.

Ela suspira.

— Sinto muito pelo que aconteceu com você.

— Relaxa, eu tô tranquila — minto descaradamente. — E você e o Hareton, vão se separar quando?

Recebo uma olhada puta por cima do ombro e ouço seus pés batendo com força ao subir os degraus.

— Não vamos, embora seja o seu sonho.

Ela tá me usando para falar de si mesma. Obviamente, esse sonho é dela.

— Sim, seria o meu sonho nós duas solteiras de novo.

— Pra quê? — sua voz é aguda quando toca a campainha e me encara.

— A gente podia fazer um ménage com alguma amiga sua.

Lauren finge que vai vomitar. Em outra situação, eu gargalharia só para irritá-la ainda mais, mas simplesmente não consigo esboçar qualquer distante sinal de alegria.

— Por que você tem que ser tão nojenta o tempo todo? — começa a birra. — Você não só evocou ménage, como também homossexualidade e incesto. Em uma frase só!

A porta se abre.

Nós duas tensionamos os ombros e ficamos de frente com Lydia Trueman, a matriarca da família que ama usar vestidos longos com estampas coloridas de mandalas indianas.

— Nessa casa não tem incesto — diz ela, carrancuda, dando um passo para trás e abrindo espaço. — Mas ménage e homossexualidade às vezes sim.

Lauren revira os olhos e entra bufando e resmungando, quase como se estivesse habituada, enquanto eu perco meu tempo ficando chocada demais com as palavras de Lydia para me mover de primeira, até cair em mim e entrar.

— Oi — digo baixinho, sem saber como agir diante dela, com quem não interajo há muito tempo.

Lydia fecha a porta com agilidade e eu desvio o olhar para Lauren, desaparecendo na cozinha após pôr a tigela de comida sobre a mesa de jantar. Nunca estive aqui. Ela vendeu a casa que era do papai logo que eu saí de lá, enviando o valor dividido para mim através da Lauren.

Sem responder à minha saudação, Lydia toma as flores das minhas mãos, me obrigando, desta forma, a voltar a olhá-la. Ela analisa as flores com o resquício de um sorriso desejando nascer, e então rapidamente noto que ela não mudou quase nada, mesmo que com mais rugas pareça ainda mais leve. Como se algum tipo de peso tivesse sido retirado de suas costas em algum momento nesse intervalo de tempo em que ficamos distantes uma da outra.

as you want || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora