#23: montanha-russa

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Digamos que eu tenha pegado no sono.

E não foi um sono leve do tipo princesa-tirando-um-cochilo-de-beleza-em-seu-castelo-real. Foi um sono pesado com direito a baba, a ponto de não perceber Joe chegando, não ouvi-lo tomar banho e nem senti-lo deitar ao meu lado na cama. Quando acordei, ele estava sentado sem camisa, de calça moletom — sem cueca, daqui posso ver, humm —, sendo iluminado pelo abajur, usando seu óculos de leitura para consumir informações de um livro novo sobre artes cênicas.

Eu queria ter essa visão para sempre. Tirar uma foto e colar na testa, fazer um pôster, uma tatuagem, um filme, eternizar de todas as maneiras. Os olhinhos redondos e claros atentos, ziguezagueando pelas palavras; o nariz perfeito comportando os óculos que adoram escorregar; o peitoral subindo e descendo com a respiração branda; os braços torneados virando a página do livro; as dobrinhas na barriga e as pernas cruzadas. Suspiro. Ele é tão lindo.

— Você e esse costume de ficar me olhando como uma psicopata — resmunga sem tirar os olhos do livro.

Escondo o rosto no travesseiro. Eu sempre sou flagrada.

Ouço quando ele fecha o livro e dobra os óculos em cima, e sinto seu sorriso contra as costas das minhas mãos, tentando fazer com que eu as tire dali para que ele possa se enterrar e sentir meu perfume. Como uma planta dormideira, eu me abro ao seu toque. Joe se encaixa entre meus braços e minhas pernas de lado e roça o nariz no meu. Ele está cheiroso, como de costume.

— Você tá aí há muito tempo? — pergunto baixinho.

— Só uma hora, mais ou menos.

— Só — repito revirando os olhos e rindo. Ele também ri. — Eu tava babando.

— Você sempre baba.

— Bem, e você ronca.

Joe torce o nariz.

— Só quando eu tô muito cansado, o.k.?

— Por que não me acordou?

Ele tenta dar de ombros, meio torto e sem jeito, fazendo carinho no meu cabelo.

— Você tava tão linda dormindo.

Rolo os olhos.

— Vai me deixar mal acostumada.

Ele me dá um selinho e sussurra:

— Essa é a meta. — E então outro selinho.

Esse eu puxo para que evolua um pouco mais. Arranho sua nuca e abro a boca para que ele venha, e no exato segundo em que ele percebe isso, solta um suspiro pesado. Desde que vi seu comentário no texto tenho fervido em expectativas. Quero saber até onde esse sexo vai, quero saber se as três palavras mágicas vêm agora. Se será com ele dentro de mim.

Joe apoia o joelho no colchão entre as minhas pernas e se segura através do cotovelo esquerdo, acariciando meu rosto enquanto me beija, puxando meus lábios entre os seus e explorando minha boca como se nunca tivesse feito isso. Desço minha mão por seus ombros com leveza, sentindo sua pele quente em minha mão fria. Ele distribui os beijos na minha bochecha e sussurra:

— Ao longo desses meses — seu nariz roça na minha mandíbula, indo pra orelha —, eu já disse que te amo um milhão de vezes sem que precisasse dizer em voz alta.

Levanto o queixo e deixo que ele beije meu pescoço enquanto puxa as fitas que amarram o sobretudo. Adoro usar as roupas usadas, mas não sujas, dele, porque seu perfume fica todo sobre mim. Ao fim da fita, as lapelas da peça da roupa caem, cada uma sobre um lado do meu corpo, desnudando e expondo meus seios enrijecidos e arrepiados e a minha barriga que sobe e desce com a respiração ofegante. Os olhos dele brilham no momento em que veem, mesmo que já soubesse que eu estava nua por baixo do sobretudo porque eu disse.

as you want || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora