#12: enquete: Lioseph ou Jia?

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Ming me mandou uma mensagem dizendo que comprou comida vietnamita — uma coisa muito específica que eu odiava quando era criança e passei a amar depois de adulta —, e perguntando se eu não gostaria que ele fosse almoçar comigo, no estúdio. Obviamente, eu topei. Agora, embora não seja dia de ele vir, estamos dividindo uma marmita e tomando refrigerante através do mesmo canudo de aço enquanto a equipe chega aos poucos. Contei a ele sobre a Madrugada de Quebra de Pratos, que já faz dois dias, como se fora um evento histórico nivelado à Revolução Francesa ou à morte da rainha; e em seguida o ouvi contar sobre outro cara que conheceu no Tinder e jurar que desta vez é sério. Seguindo nosso trato, um não julga o outro, jamais.

Todos chegaram e estão a postos para as gravações, exceto o único certinho que nunca se atrasa: Joseph Quinn. Olivia está me encarando como se eu soubesse a razão de seu atraso, o que é bom, pois significa que ela assumiu que eu e ele estamos nos envolvendo de alguma maneira — nem que seja como amigos. Mas eu não faço a menor ideia do paradeiro da estrelinha. O diretor e Ming já ligaram para ele, que não atendeu. Logo, sem resposta, iniciamos as gravações de uma cena de Olivia sozinha.

Era indescritivelmente difícil ter que vê-la atuar. E doía saber que ela estaria nas telas dos cinemas dando vida à minha Natalie, personagem que escrevi com tanto carinho. Vendo o meu desconforto, Ming se ofereceu para vir comigo todos os dias, assim eu trato de outros detalhes das filmagens, enquanto ele se certifica de assistir as gravações. Ele é o melhor amigo que eu poderia pedir ao Universo.

A porta se abre lentamente, rangendo, e Joseph coloca a cabeça para dentro para checar se pode entrar. Está com os olhos e o nariz vermelhos, o que me deixa meio em alerta. Parece chorar. O diretor acena para que ele entre rapidamente.

Todo mundo sempre precisa ficar em silêncio ou sussurrar por conta das cenas sendo filmadas, é uma regra. E é claro que ele sabe disso mais do que ninguém, mas assim que entra, espirra super alto. Todos os cameraman olham com cara feia para ele, que dá de ombros meio que se desculpando e então espirra novamente. Não é como se ele tivesse controle. Portanto, descubro que — menos mal —, ele não estava chorando, e sim gripado. É quando entra totalmente na sala, revelando um pequeno jarro com uma boa quantidade de flores, meio azuis e meio roxas. O pessoal pausa as gravações por conta do barulho, e todos podem claramente assistir enquanto ele vem em minha direção com aquelas flores nas mãos, meu olho dobrando de tamanho a cada novo passo que ele dá.

— Bom dia — é a primeira coisa que diz, em seguida cobrindo a boca com o antebraço e espirrando na direção contrária outra vez. Joe aponta o jarro transparente em minha direção para que eu segure. Pego. — A recepcionista pediu que eu te entregasse. Disse que deixaram na portaria para você.

O jarro frio desenha as palmas das minhas mãos, o cheiro forte das flores corre até as minhas narinas e entra nos meus pulmões. Muito bom.

— Obrigada? — respondo, confusa.

— De nada — e um espirro. — Ela é bem gata, essa recepcionista. E sempre fica me olhando de cima a baixo. Será que ela quer pedir meu número e tá com vergonha? — e um espirro. — Porque, assim, se for... eu adoro as tímidas.

— Você tá resfriado? — o diretor pergunta, abaixando os fones de ouvido da cabeça, preocupado, vindo até nós.

— Não, não — ele funga, os olhos ficando pequenos e procurando alguém nos arredores. Provavelmente a maquiadora, que assim que cruza os olhares, vem correndo. — Eu tenho alergia à violeta — ele aponta para as flores agora no meu colo.

Então é carregado atenciosamente de lá para poder disfarçar a vermelhidão do rosto, pingar algum colírio nos olhos e fazer algo urgentemente para conseguir parar de espirrar, voltar a respirar normalmente, e iniciar as gravações de hoje.

as you want || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora