#15: o filme "Lucy" é uma mentira

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Ai, meu Deus, como ele fica chato quando tá bêbado...

Estou sentada em um antigo cobertor de Joseph, até então esquecido na casa dos pais, que a Julien ofereceu para que eu não suje meu banco de tinta azul. É cinza, antigo, e tem várias ilustrações do He-Man espalhadas. Enquanto isso, Joe está esticado no banco ao lado, também sobre um cobertor (da She-Ra), cantando Jeff Buckley totalmente desafinado com o vento da viagem batendo em seu rosto e bagunçando seu cabelo molhado de suor das danças na sala de estar.

Todo o meu sangue pela doçura da risada delaaaaa...

E quando ele puxa o "a" fica igualzinho a uma galinha cacarejando. Puta merda. A dor de cabeça vem aí.

Como se lesse os meus pensamentos, ele para. No iPad diz que já não estamos muito distantes de sua casa.

— Lia — me chama.

— Oi, Joe.

— Conta uma piada?

— Uma piada?

— Sim.

Bem, se tem uma coisa que eu aprendi nesses vinte e cinco minutos de viagem até aqui é que contrariá-lo, bêbado, não é uma boa ideia. Mesmo que eu queira muito, mais do que tudo. Quando pedi que parasse de cantar ele cantou ainda mais alto "TODAS AS MINHAS RIQUEZAS PELOS SORRISOS DELA!", errando o ritmo. Portanto aceito e uso dos meus poderes mentais para lembrar de alguma piada.

— Vou te contar uma que um taxista me contou uma vez, quando eu estava bêbada, antes de te flagrar quase fodendo a Olivia.

Joe começa a rir.

— Essa é boa.

— Ainda não contei a piada, Joseph.

— Ah — sua risada cessa. — Então conta.

Balanço a cabeça negativamente, igualzinho a como o meu pai fazia ao ter que lidar comigo quando era criança. Agora o entendo, e ainda nem tive filhos. Viro na rua de Joe e acelero um pouco mais, me preparando para encostar.

— Sabe por que as abelhas são os insetos causadores de problemas?

Ele fica pensando por um tempo, olhando para as casas na vizinhança e tentando desvendar, louco para cortar a graça da minha piada. Sua cabecinha cheia de álcool não permite. Estaciono em frente ao jardim e puxo o freio-de-mão, desligando o carro, que fica escuro, e calço os pés.

— Não sei — responde. — Por quê?

Bee-cause.

É só isso. Na minha mente parecia mais engraçada do que quando dita em voz alta. Quando estava bêbada ri horrores. Joe, por sua vez, não reage.

— Não entendi.

— Ai, Joe, vem, vamos entrar — bufando, saio do carro e rodeio para abrir o lado dele.

Joe sai cambaleando. Peço que se segure em mim e sinto o cheiro forte de cerveja vindo dele, de todas as direções. Fecho a porta do carro com o pé e por algum milagre divino consigo caminhar, mesmo com ele jogando seu peso inteiro para cima de mim.

Em frente à porta, ele se segura na parede e tateia os bolsos. Olho ao redor, vendo a rua completamente deserta, um longo asfalto escuro; nada além do som da ventania forte da quase meia-noite sendo escutado, soprando contra as moitas e árvores; ninguém além de nós. Volto a olhar para a frente, jurando que a porta já estaria aberta. Mas Joe ainda está tateando os bolsos, o braço apoiado na parede e a testa apoiada na curva do braço, os olhos fechados e a boca entreaberta. Sei como é essa sensação: parece que você vai morrer.

as you want || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora