#8: entre no carro, vadia, vamos para a terapia

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— O que você tá fazendo aqui? — diz Olivia, se alterando.

Não consigo tirar os olhos de Quinn.

— O que esse cara tá fazendo aqui? — replico, também aumentando o tom de voz.

Ele não se move nem um centímetro, completamente calmo para compensar o furacão que eu e ela somos. Está com um cigarro entre os dedos, movimenta o braço em uma linha reta até os lábios e traga, olhando para mim.

— Você tá me traindo com esse aí mesmo? — me pego dizendo. — Eu meio que achava que só acreditaria vendo, mas agora tô vendo e não consigo acreditar.

Joseph sopra a fumaça para cima, levantando o nariz para o teto. Faz isso com tamanha delicadeza que é mais como se a fumaça só escapasse pelo espaço entre seus lábios. Seus olhos baixos ainda me encaram ternamente.

— Vocês ainda não romperam o relacionamento? — indaga.

Minha boca, meu queixo, minhas mãos tremem — gradativamente estou tendo um piripaque; tenho certeza. Desta vez, as lágrimas não marejam meus olhos apenas. Todas elas descem com velocidade, uma atrás da outra, cadenciadamente. Uma, duas, três, quatro. Eu suspiro, fungo, choro igual a uma criancinha. Meu coração está despedaçado. Dolorosamente despedaçado, em mil partes diferentes, com um milhão de cortes.

Fico ali parada na porta como uma tonta, os dois traíras me observando. Me sinto uma palhaça. Fui feita de palhaça diversas vezes, e eu mesma permiti isso. Deixei que nunca acabasse. O problema é que sempre que eu olho para aquele rosto... os olhos dela, cada pintinha do rosto — Olivia tem um valor sentimental enorme para mim, ela é cheia de lembranças. Ela é a razão pela qual estou distante da minha família, foi com ela que eu tive o meu primeiro e único relacionamento, ela foi quem me deu coragem de segurar sua mão e enfrentar o mundo. Ela me ensinou a amar. E dói aceitar a verdade: ela não me quer. Não mais.

Não faço cena. Simplesmente saio. Volto para o elevador, desço os andares até o térreo, e ao passar pelo balconista aos prantos, ele me olha como quem diz "bem, eu tentei avisar".

Na calçada do prédio me sinto perdida. Olho para os lados, vejo os carros passando, poucos pedestres — nenhum deles dando a mínima para as minhas lágrimas —, uma cidade inteira vivendo normalmente apesar de mim. Minha respiração está pesada, o nariz entupido pelo choro, preciso inspirar e expirar através da boca. Apoio a mão na testa e me encosto na parede suja de poeira, esperando que algum táxi passe para pedir carona. Pressiono as costas da mão nos lábios, me forçando a parar de chorar. Preciso parar.

Enquanto isso, ainda seguro a garrafa vazia de vinho branco como faço diversas outras coisas na minha vida: sem saber o porquê.

— Você tá parecendo uma maluca parada aí — assim, subitamente, Joseph Quinn aparece na entrada e novamente insinua que eu não bato bem da cabeça.

Viro a cabeça em sua direção num susto. Quando é que esse cara vai parar de aparecer igual um fantasma?

Ele está fechando uma carteira de couro e colocando-a no bolso de trás da calça. Gira um chaveiro de carro e me chama com a cabeça.

— Vamos.

Por um momento eu sou apenas um ponto de interrogação.

Minha cabeça está latejando, batendo forte como um soco direto no crânio, estou quebrada e embriagada, mas ainda não num nível tão alto de imbecilidade que não ache anormal esse convite.

— O quê? — Minha voz vai junto com o vento pelas ruas.

Eu e ele, de frente um para o outro, cinco passos de distância.

as you want || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora