3. Faísca Da Origem 2

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Sempre foi uma criança imaginativa. Cenários com personagens e enredos complexos eram sintetizados na cabeça dela. Talvez pela repetição de cenas de desenhos e filmes ou por falta de ocupar sua mente. Não é confirmado o real centro. Gostava também de se vestir como menino. Sentia uma energia diferente e gostava disso.

Pegava a roupa de seu pai e começava a vestir e dançar usando-a. Também queria ter pelos no rosto. Insistia para sua mãe deixá-la rabiscar para parecer um digno homem.

Ao ler isso tudo, dá a entender que ela era bem diferente de qualquer outro ser humano. Porém é preciso levar em consideração que era uma criança. Um período de intensas descobertas, intensas vivencias e de um egoísmo irracional.

Ela não tinha desenvolvido nenhuma cultura própria sobre si mesmo. Não tinha censo de pertencimento ao lugar onde residia. Tanto que ela demorou um pouco para saber onde era que morava e o nome da rua.

Talvez não tenha sido o momento de ser desenvolvido, como a demora que teve desse livro ser digitado.

Não só o mundo inteiro se transformou desses anos para cá. A tecnologia evoluiu, novos remédios desenvolvidos, novos tipos de relações sociais, novos empregos.

A vida dessa singular garota também mudou intensamente. Buscando descobrir a causa de tudo e se reencontrar em meio à multidão de eventos que espancavam-na.

Ela acabou de fofocar um acontecimento importante neste momento. Os pais dela são de origem nordestina. O que faz com que a cultura esteja impregnada neles. Sempre tinha clubes de festas onde havia uma banda e festas típicas.

O pai dessa garota era tocador. Sua mãe gostava de dançar e ia sempre para essas festas. Mas como a garota não gostava de som alto e de dança, ela sempre dormia na casa da avó dela, que cuidava dela.

Era uma sensação de paz e de sossego em comparação com essas festas. Era o que ela mais precisava. Mas, por quê?

A avó dela elogiava ela sempre. Chamando-a de boniteza de vó. Era uma sensação de pertencimento muito grande. Veja só! Alguém se importa com sua existência! Você é a única que é chamada assim! Era uma benção.

Só dava trabalho limpar a garota depois que ela se sujava todinha. Mas qual criança que não dá trabalho minha gente?

O lado negativo era o ambiente. Não porque era pobre, mas era muito sombrio, frio, triste, problemático. Um barraco cheio de pessoas sorridentes e cantarolantes antes do que uma mansão de mesquinhos tristes e frescurentos.

Os clubes de festas eram cheios de cachaceiros e fanfarrões ignorantes. O que leva um ser humano ser assim? A falta de alguém? O vício? Eram coisas que passavam na cabeça da pequena garotinha presenteada pelo nome escolhido.

Ela fazia constantes viagens para o nordeste para visitar o restante de sua família. Não gostava muito de viajar por conta do barulho que o avião fazia. Doía muito o ouvido.

E lá ela sofria com pernilongos e o calor de matar qualquer um. E ainda nem tinha o hábito de beber muita água. O que piorava.

Por mais que a mãe dela discorde, a garota lembra vagamente que o seu pai já fumou. Ela lembra da cena dele fumando cigarro no quintal da casa. Dizendo a mãe, ele fumou bem antes que ela nasceu.

O que fez ela se questionar bastante sobre o tema da existência. Será que ela já existiu antes? Bem, se existiu ou não, é fato que ele fumou. Na geração dele, era muito comum as pessoas fumarem para conseguir ter alguma aceitação social.

Trocar sua vida por ser aceito. Que coisa mais humilde. Viver para contar nada, não? Enfim. Só ela se salvou da família no uso de cigarro, mas e do vício?

Até a criação desse livro, o essencial foi isso que está escrito. Vamos adiante!

Memórias De Uma Garota GóticaOnde histórias criam vida. Descubra agora