Memórias De Uma Garota Gótica

7. O Nascimento 3

Na escola com Leon era cada dia mais divertido. Eles estudavam e brincavam juntos quando era o período do parque e no intervalo.
Passou um tempo e uma nova obsessão entrou na cabeça dela, animais marinhos. No celular que ela tinha, acabou pegando paixão com os bichos e ficou crescendo cada vez mais a curiosidade em saber como esses animais viviam e sobreviviam.

Na internet, onde ela já aprendeu a mexer, começou a pesquisar intensamente sobre esses animais. Nome de espécies, onde eles vivem e o tamanho deles. Vídeos de baleias orcas e de tubarões brancos era o favorito dela.

Discovery Chanel foi até então o canal mais apaixonado por ela, perdendo apenas pelo Discovery Kids e a Nickelodeon. Os devaneios começaram a ficar mais intensos. Agora ela imitava animais e golfinhos nos momentos de delírio.

Seu amigo Willian, o vizinho, também brincava e imitava de vez em quando esses animais, dando a entender para ela que era normal e ele estava sentindo a mesma sensação eufórica que ela estava sentindo.

A diferença era que ela não podia ensinar para Willian sobre as espécies de animais marinhos, já que era um conteúdo muito difícil e diferente para ele. Essa diferença também foi percebida na escola.

Todas as garotas e garotos gostavam de um mesmo assunto em comum, o que facilitavam para interagir socialmente. Leon e a Garota ficaram mais próximos, pois eles eram únicos e gostavam de verem documentários de animais e conversar sobre eles.

Quando o assunto é único, porém em comum, as pessoas ficam muito mais próximas. Apesar de Leon gostar de outros assuntos mais em comum com a sociedade do que a garota, ele preferia conversar com ela mesmo.

Tanto que, com o passar das estações do ano, a garota foi visitar pela primeira vez a casa dele. Primeira vez ao visitar a casa de um amigo, que coisa avançada! A visita, como foi de se esperar, foi muito boa.

Os dois gostavam de brincar e o Leon tinha um monte de brinquedos na casa dele, animais em miniatura, tanques e soldadinhos, fortalezas medievais, bonecos de heróis, a criatividade era bem-vinda na casa dele.

Willian ia para a casa da garota por ela ter brinquedos e a garota ia para a casa de Leon por ele ter mais brinquedos ainda. Claro que o desejo dela era ter cada vez mais, mas como a mãe era um pouco estressada e já demonstrou para ela como lidar quando a menina tinha algum interesse material, a garota optou por guardar o desejo em seu grande coração.

Grande, porque a garota era muito alta para a idade dela. As pessoas se interessavam por ela por conta da altura chamativa, porém ao perceber o jeito esquisito dela, se afastavam e sobravam poucas pessoas para serem deixadas e registradas aqui.

Com o aprendizado dos animais marinhos, na escola facilitava o aprendizado de ciências. Quando têm um interesse por trás, é um caminho bem dado para o sucesso acadêmico. Além de que ela só tinha o estudioso do Leon para supostamente perturbá-la enquanto estudava na aula.

Nos intervalos escolares, ela só comia um tipo de bolacha específico, porque em uma viagem de avião para o nordeste experimentou e gostou muito. Com essa obsessão, foi apelidada de bolacha pelo grupo de amigos. Sim, Leon e mais dois garotos que eram muito mais amigos dele do que da garota.

Com a obsessão em animais, a garota também passou a ver vídeos de animais feitos de papel. Consequentemente, coisas feitas de papel. O Origami impregnou no cérebro da garota com a mesma força que a paixão por animais marinhos impregnou.

Essas novas obsessões distanciaram a garota um pouco dos desenhos animados que ela amava, porém ela nunca os iria esquecer. Ela passou então a aprender a fazer origami, começou com os barquinhos, depois evoluiu para os animais simples, animais intermediários, objetos, armas e animais complexos.

A sensação era muito gostosa e pacífica. O barulhinho das folhas sendo dobradas e depois magicamente formando formas diferentes ahh, que infância simples e requintada. O casamento perfeito era animais marinhos de origami. Willian não entendia muito bem dessa arte, portanto a garota não decidiu persistir nesse assunto com ele.

Leon achava interessante, mas não sabia fazer dobraduras tão complexas. Um dos amigos do grupo do Leon era japonês, o que fez ele conversar bem mais com a garota após ver ela fazer as dobraduras.

Leon ficou um pouco distante por conta disso, mas não fez nada ainda. O Japonês fazia origamis junto com a garota e conversavam sobre assuntos relacionados a essa arte. Era um milagre quando até o final do ano da escola tivesse papel no caderno dela, porque ela sempre rasgava para fazer as dobraduras dela no meio da aula após terminar todos os deveres de escola.

Quando ela estava vendo sua irmã jogando futebol no videogame, a garota ficou muito curiosa e resolveu tentar aprender a jogar e gostar. Com o passar do tempo, ela passou a achar divertido jogar jogos assim. Antes ela somente gostava de jogos de luta e tiro, mas depois passou a jogar e também acompanhar o mundo do futebol.

O conhecimento sobre o futebol foi ampliando com o passar do tempo. Tanto que a fez escutar alguns hinos de clubes de futebol e, consequentemente, hinos de países.

Esses hinos de países despertarão um desejo enorme de conhecer mais sobre os outros países do mundo. A garota ficava dias e dias observando o aplicativo de mapas e olhava cada pedaço de terra e seus respectivos nomes. Mais uma obsessão nasceu na cabeça dela, a Geopolítica.

Isso ajudou ela demais na escola quando era aulas de geografia, pois as perguntas eram exatamente sobre esse nicho que ela era obcecada. Capital de inúmeros locais ela sabia.

Esse talento chamava muito a atenção dos professores e dos alunos que queriam mais conhecimento dela. Os hinos de países, as melodias patrióticas, viraram um dos ramos musicais favoritos dela.

Os seus três amigos não conseguiam se comunicar no mesmo patamar dela sobre esses assuntos específicos. Até o futebol ela sabia demais. Função de cada posição, países e seleções, como funcionam os torneios, nacionalidade dos jogadores, times que existem em inúmeros países, hinos de clubes diversos e entre outras.

Ela não conversava com os garotos sobre isso por ela já ter sido considerada esquisita na sala e ser a única que torcia para um certo time. Na época, torcer para um clube rival era sujeito a ser feito de trouxa.

Tanto que nas brincadeiras na quadra, ela sempre era excluída por não ter habilidade e por torcer para um time onde ninguém mais daquele ambiente torcia. Isso a deixava cada vez mais isolada de todo mundo.

Também criou uma rivalidade entre ela e o Leon por conta do futebol. Antes não tinham um motivo para brigarem, agora possuem inúmeros motivos depois que cada um descobriu para que time que torce.