Vendidos para Guiverland

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Capítulo 17


O céu ainda tinha uma cor escura quando acordei, vesti a mesma roupa de ontem a noite e segui na direção de um corredor aberto e baixo, para que eu pudesse descer por ele, considerando a possibilidade do portão estar fechado e não ter ninguém para abrir. Dei umas quinze voltas no jardim principal, que fica na frente do castelo, cumprimentei alguns guardas que passaram por mim enquanto faziam o mesmo e alguns que já estavam com armaduras para começar mais um dia de trabalho. Só alguns, literalmente.


Pensei em parar quando completei a última volta, mas o meu corpo não está cansando, então respirei fundo outra vez, e continuei.


Completamente suado e cansado, sentei debaixo de uma pequena árvore e contemplei o sol nascer. A movimentação ficou mais intensa, pessoas da cidade carregam caixotes cheios de frutas e carroças entram com diversos tipos de carne. Haverá uma festa? Bom, espero que aconteça depois que eu for embora, não tenho muito interesse nessas coisas e não sei me comunicar com pessoas que não conheço. É a combinação perfeita para evitar esses eventos, mas, porém, entranto e todavia, sou forçado a ir.

Levantei e andei devagar até o portão, esperando uma oportunidade para entrar.

Crianças também ajudam a carregar alguns cestos, alguns sem nenhuma dificuldade, outros tropeçando nos próprios pés ou sem nem enxergar o caminho, mas felizes em realizar o trabalho. Os maiores me cumprimentaram como uma reverência, enquanto os pequenos cumprimentavam um arbusto, me fazendo rir até perceberem o pequeno erro, e outros deixavam as frutas caírem, recebendo uma reclamação logo em seguida.

Desisti de tentar entrar, apenas para me divertir com os pequeninos e ajudá-los quando necessário. Sentei no banco de pedra e inclinei meu corpo para trás, tendo os braços como apoio, olhei rápido as pessoas que vinham, imaginando quando a fila acabaria, foi quando vi a menina que ajudei no dia que cheguei aqui. Sua perna tem uma cicatriz, com vestígios dos pontos que parecem ter sido retirados a pouco tempo. Levantei pegar o cesto que entregaram para ela, descobrindo o final da fila.

— Posso lhe ajudar com isso? - perguntei sem esperar por sua resposta -

— Alteza! - fez uma reverência - Como está?

— Sou eu quem deve perguntar. O que faz aqui se a perna ainda não está boa?

— A anciã disse que eu já podia andar normalmente, então vim ajudar minha mãe.

— Você é realmente forte.

Ela sorriu e no mesmo momento que me encarou, a cena foi reproduzida na minha cabeça. Aquela cena horripilante, que arrepiei só de pensar.

— Temos muito o que conversar. - ela disse -

— Temos?

Perguntei inocente, sem imaginar o que ela quis dizer com isso. Será que lembra do que aconteceu? Mas como é possível, se nem aconteceu?

— Posso ouvir todos os seus pensamentos.

— O quê?

— Já entregou, pequena? - a mãe saiu de trás da carroça, aproximando-se - Ah, alteza...

Ela reverenciou e eu a cumprimentei com um sorriso e uma pequena reverência com a cabeça.

Entre GuerrasOnde histórias criam vida. Descubra agora