Entre Guerras (Parte IV)

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Capítulo 24

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Meu corpo foi mais rápido do que o meu raciocínio. Simplesmente me coloquei entre a morte e a possível salvação, perdendo completamente a noção do que eu ainda queria viver, abandonando o meu futuro e o restante da minha família, o bem mais precioso que possuo, por uma decisão incerta. A tristeza tomou conta de mim, como se estivesse prestes a perder a pessoa mais especial que tenho em minha vida, como se tivéssemos vivido momentos que não gostaria que ele esquecesse, como se eu não me importasse com o que deixaria para trás.

Seus olhos foram capazes de transmitir seus mais profundos sentimentos, me fazendo sentir culpada por um tempo bem breve, que se tornou insignificante quando aceitei que esse seria o meu fim. Minhas mãos seguraram firme as mangas da sua camisa, ansiosa pelo impacto doloroso, mas ele não veio.

Despertei da minha locura quando sua atenção foi para outra pessoa. Me perguntei o que havia acontecido, nervosa e insistente em não saber, mas o silêncio intrigante funcionou como uma motivação. Deslizei o olhar pelo seu braço, até chegar em sua mão, agora ensanguentada.

Arthur segurou a lâmina com a mão esquerda e não mostrou nenhum indício de dor, nenhuma lamentação. Nada saiu da sua boca, da sua expressão.

O encarei novamente, procurando o garoto meio perdido e assustado com as últimas movimentações, mas seu rosto concentrando e seus olhos castanhos mais escuros que o normal mostraram a personalidade de um homem maduro e decidido. Suas sombrancelhas ficaram a um centímetro de se juntar por completo e ao redor de seus olhos um brilho surgiu, carregando tensão e perversidade aos poucos.

E de repente algo impossível aconteceu. Callen foi jogado para trás  misteriosamente e quando insistiu em levantar, sua mão foi posicionada próxima ao seu pescoço, deixando a lâmina há um fio de terminar o processo.

O olhar confiante de Callen passou a ser semelhante a de um menino assutado, fazendo parecer que os papéis foram invertidos. Lutei em continuar olhando aquela cena, sem saber quem estava executando ou se ele tinha enlouquecidos de vez.

— Pare, Arthur! - a rainha gritou, me fazendo encarar o rapaz outra vez. Tirei as mãos de seus braços e olhei bem para o brilho de seus olhos, estava bem mais escuro - ARTHUR!

E dessa vez ele despertou, saiu daquilo que lhe prendia meio confuso e atordoado. Olhou assutado para o comandante, que ainda tinha ganhado um risco vermelho na garganta, nada grave. Ainda ousou se levantar e vir em nossa direção, e com um reflexo protetor Arthur me puxou para o lado, se posicionando na minha frente, mas Callen não chegou a se aproximar o suficiente. Os guardas avançaram em cima dele, revistando cada canto se sua armadura, para que não fossem surpreendidos de novo.

Os sussurros começaram a ficar perceptíveis e é óbvio o quê e quem é o assunto. Depois dessa noite não haverá paz na cidade, nem quando tudo for esclarecido. Há muito tempo ouvimos histórias de pessoas sobrenaturais, com poderes além da nossa compressão, que vivem entre os mortais como se também fossem pertencentes a esse grupo. O que acabou de acontecer não pode ter sido ilusão, uma imagem reproduzida apenas na minha cabeça.

— O que você fez? - perguntei ao me soltar de seus braços, totalmente incrédula - Como fez aquilo?

Ele continuou me olhando sem me dar nenhuma resposta e acabou levando sua atenção para longe. Encarei sua mão que já tinha ganhando uma cor mais escura, graças ao sangue que saiu com intensidade. A coloquei em cima da mão e observei o corte.

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