Capítulo 30
{Vicctore}
A última vez em que meu coração esteve tão aflito foi há dezesseis anos atrás, quando o pequeno príncipe de nossa região nascia em meio a um caos que não parecia ter fim. A pureza da criança nos fez perceber a maldade que trouxemos para suas terras e para seu povo, me fez sentir pena de mim mesmo, pela tamanha desgraça que causei.
Mais uma vez, ontem à noite, meu coração retornou a sentir a tal aflição e implorou por paz e tranquilidade, que só encontrei quando o vi sem ferimento algum, entre as asas da dragão. Corri ao seu encontro, por mais que fosse um desconhecido aos olhos da grande criatura, mas ela sequer pareceu se incomodar com a minha presença e foi com muito prazer que ouvi seu coração batendo forte em seu peito.
Foi a primeira vez que abracei Arthur com tamanha admiração e amor. Sentir que ele ainda estava vivo e que agora estava em meus braços foi uma das melhores sensações de toda a minha vida. Meu menino estava bem e se os Deuses quisessem, ele acordaria mais cedo do que pensávamos.
Chegamos em Avallor em questão de segundos e para a minha extrema surpresa, tudo estava abraçado pelo caos. As pessoas corriam desesperadas e entravam dentro de suas casas, fechando as portas e as janelas, ficando completamente no escuro, talvez por medo de atraírem o que passou por aqui.
Arthur foi levado pelos meus homens, com ordem de que não o deixassem sozinho. Analisei a situação do lado de fora e me senti na obrigação de arrumar a bagunça, começando com Adam, que tentava desesperadamente pedir ajuda a um guarda de Avallor. Nem precisei perguntar os seus motivos, foi só escutar que uma mulher e seu filho estavam morrendo, que pedi que levasse os curandeiros até ela.
- Onde estão os guardas? - perguntei sério ao homem na minha frente - Por que não ajudam as pessoas?
Ele hesitou em responder e logo percebi que havia ordens de Eojin que o impediam de me dizer.
- Diga logo, rapaz, não tenho tempo e tampouco paciência para esperar.
- Foram...ordens, senhor.
- Vai ignorar essas ordens e vai reunir os seus colegas no pátio de treinamento. Não quero nenhum homem circulando pelo castelo fingindo que está cumprindo o seu trabalho. Entendido? - ele hesitou, outra vez - Entendido?! - aumentei o tom de voz para que o meu recado fosse repassado corretamente -
— Sim, senhor.
Entrei no castelo para verificar a situação interna, chegando no exato momento de uma operação perigosa e que determinaria o futuro de uma moça e de seu filho, ainda em sua barriga. Outros feridos gritavam por ajuda, mas não havia curandeiros suficientes, e com certeza eles tomaram o que lhes pareceu ser a melhor decisão.
Adam ainda estava no salão, ajudando a limpar o local, provavelmente para não se sentir inútil e conseguir liberar espaço. Confesso que senti pena, pois ser forçado a sair de seu reino e ainda ser atacado em outro desperta traumas que jamais serão curados, ainda mais em uma pessoa tão jovem.
— Vicctore. - Bruno me chamou mais a frente, trazendo-me de volta à realidade - Eojin está em sua sala.
— Você vem comigo.
— Majestade...
Não esperei pela sua resposta, mas escutei com satisfação seus passos logo atrás. Eojin é um homem difícil, muitas vezes imprudente, que prefere o melhor para si do que para seu povo e não duvido da sua alta capacidade de fazer tudo e qualquer coisa para garantir sua sobrevivência.
No caminho, pensei em desistir várias vezes e fazer por conta própria boas ações para Avallor, mas não consigo acreditar que tanta crueldade possa permanecer na mente dele depois dessa situação, que deixou seu salão e seus corredores banhados de sangue.
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Entre Guerras
FantasiHá muito tempo atrás, o mundo era habitado por seres mágicos, que dedicaram suas vidas para criar um lugar harmonioso e puro, até que o mal convidou o bem para guerrear pela primeira vez. Os seres malignos e ambiciosos venceram e governaram um mundo...