Mervilion

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Capítulo 26

Um trovão conseguiu me despertar do sono profundo. O teto parecia alternar entre está perto e estar longe, o escuro, mesmo com as velas acesas deve significar que o tempo está fechado lá fora. Não sinto nada em meu corpo, a não as batidas do meu coração, que ainda está agitado por causa do barulho.

Me forcei a levantar, soltando alguns gemidos de dor ao realizar o simples ato de me sentar. Agora, mais acordado e um pouco consciente, consigo sentir algo queimar o meu braço. Dói e graças a isso confunde os meus sentidos. Tirei a faixa que envolvia o meu ombro, tendo uma péssima visão de como ele ficou, as folhas de alcacel não fizeram o menor efeito.

A cada respiração um novo nível de dor surgia no meu abdômen, olhei pra baixo para verificar o que aconteceu com ele e fiquei aliviado por não ter nenhum corte, apenas manchas roxas nas costelas e abaixo do meu peito direito. Meus braços cobertos por finas camadas de tecido indicam que não há nada grave com eles e ao movimentar as pernas percebo que está tudo bem com elas. Apesar de acabado, ainda estou vivo.

Ao fechar os olhos, algumas rápidas lembranças passaram pela minha cabeça. Me assustei ao lembrar da sensação angustiante, principalmente ao imaginar que já vi aquele rosto. Minhas emoções se contorcem ao pensar naquela mulher, que em meus pensamentos parece mais doce e gentil, bonita e atraente. Humana.

Que decepcionante! Consegui me desligar do mundo e alguém quase me levou ao encontro da morte, e fez isso sem nenhum esforço. Me preocupo sempre que percebo a minha vulnerabilidade e me envergonho, pois não sou o rei que eles esperam e muito menos a pessoa que pode salvar este mundo de qualquer coisa que apareça. Ao mesmo tempo tenho a capacidade de pensar que não posso me render tão fácil, não antes de tentar mostrar as minhas habilidades, que sei que existem, mas que são difíceis de colocar em prática. 

De fato, a mente é a arma mais poderosa do ser humano. Nela você pode se perder, se enganar e também pode se encontrar, achar uma versão melhor do seu lado humano. Acredito que seja por isso que há tantas pessoas ruins no mundo e muitos problemas causados por uma mente mal desenvolvida, mal interpretada, com pouquíssimas partes positivas. Os humanos não tem oportunidade para ter uma melhor versão. É preciso usar o que participa do presente, o atual.

Talvez não precisemos lutar para ter um mundo melhor.

Três batidas na porta me libertaram dos pensamentos. Pedi que entrasse, mas ninguém respondeu e também não bateu de volta. Estranhei o comportamento e esperei ate que fizesse novamente, porem, o silencio continuou, como se não tivesse sido quebrado há poucos segundos atrás.

Passos apressados passaram pelo corredor, mas o barulho desapareceu rapidamente, como se estivesse distante, como se não fosse nessa parte do castelo. Ouvi as correntes do portão sendo puxadas, o metal desgastado rangeu como se estivesse próximo ao meu ouvido, permitindo a passagem de um cavalo assustado e muito agitado. Alguns comentários sobre o clima ecoaram pelo meu quarto. 

Franzi o rosto, me perguntando o que estava acontecendo. Não consegui continuar graças aos trovoes que seguiram um atrás do outro, provando um barulho ensurdecedor, mas que me deixa tranquilo. Infelizmente a brisa que o clima trouxe não e suficiente para esfriar o meu corpo, que agora esta quente suando bastante.

Tirei a coberta de cima do meu corpo e deslizei pelo lençol ate conseguir colocar os pés no chao. O medo de machucar o meu corpo ao força-lo a andar me deixou sentado por mais tempo do que eu queria, mas logo coloquei na minha cabeça que tinha que avisar que já estou acordado e bem, ou melhor, vivo. 

Levantei, ainda hesitante. Apoiei meu corpo no primeiro móvel que encontrei no meu campo de visão, incentivado pelo receio, motivado pela pouca coragem física e mental. Ao dar os primeiros passos uma dor tremenda atingiu todos os membros do meu corpo, como se fossem se descolar a qualquer momento. Parei, tentando lembrar da impulsividade que sempre me moveu por este castelo, mas que não esta tendo o menor efeito.

Entre GuerrasOnde histórias criam vida. Descubra agora