Capítulo 27
A chuva continuou com a mesma intensidade. Um clima perfeito para descansar em um quarto quente, mas não consigo pensar nessa opção. São tantas coisas para resolver e prevenir...
Fiquei sentando, olhando para a cadeira vazia a minha frente, repassando as informações que acabei de ouvir. Lênia e Rosa retiraram os pratos e limparam a mesa enquanto arriscavam um olhar curioso sob mim. Acho que se passou muito tempo desde a última vez que me viram assim e talvez estejam preocupadas com o que se passa na minha cabeça. E por mais que eu quisesse contar, seria perigoso e só lhes causaria mais preocupações, então não pode haver essa alternativa.
Enfim, me levantei, seguindo em passos lentos sem ter um lugar específico para ir. Evitei a sala do trono, contornando o castelo pelo lado de fora e graças a isso recebi olhares que não consegui identificar o que repassavam, assim como preocupação no rosto de algumas criadas. Cumprimentei algumas e continuei andando sem rumo, respirando fundo a cada lembrança que surgia em todos os cantos que passei.
Seria bom se eu conseguisse reprimir, mas sou uma pessoa que sabe absorver e sentir mais do que sei ignorar.
Cheguei aos corredores abertos do lado direito, totalmente alagados. Passei por eles sem me importar de ter os sapatos encharcados, pois já estavam quase nesse ponto graças a minha caminhada. Lembrei das palavras do meu último tutor quando fizemos o mesmo percurso há alguns anos.
"As abelhas voam bem distantes de casa, mas sabem o caminho que precisam seguir para retornar. Os pássaros migram a cada inverno, mas depois que passa, sabem que devem voltar, pois todo lugar tem estações"
— Todo lugar muda, por isso seu castelo também vai mudar. - completei em voz alta -
— Ainda se lembra disso?
Levantei a cabeça à procura de quem fez a pergunta, tendo sérias dúvidas rondando minha cabeça quando vi Adam na minha frente. Suas roupas estão molhadas, manchadas de sangue, um corte abaixo do olho direito e um perto de sua boca. Seu arco está preso em suas costas e sua espada presa na cintura.
— O que faz aqui? Como chegou aqui? - me aproximei, segurando em seus ombros e procurando outros ferimentos -
— Galva está em ruínas.
— O quê? - perguntei, lembrando logo em seguida do que Theyrran disse ontem - Seus pais...onde estão?
— Lá em cima, conversando com o rei. - fez uma pausa e baixou a cabeça - Foi...
— Tudo bem. - puxei seu corpo para mais perto e o abracei com força - Vai ficar tudo bem. Estão seguros aqui!
Nem sei o porquê assegurei isso, sendo que é impossível garantir tal coisa e que ele sabe disso.
Passei a mão em seu cabelo, tentanto transmitir qualquer sentimento bom, enquanto ele deixa a dor sair com suas lágrimas. Sei que está aflito, pois nunca passou por isso e foi a primeira vez que usou sua espada e seu arco em uma luta de verdade. Também sei que seu orgulho não lhe permite transparecer a fraqueza e que é difícil chorar sem parecer uma criança assustada.
Não foi só eu que fui obrigado a crescer.
— Ela estava lá. - falou antes de se afastar - Garam. - não soube o que responder - Meu pai me contou enquanto éramos escoltados pra longe do reino.
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Entre Guerras
FantasíaHá muito tempo atrás, o mundo era habitado por seres mágicos, que dedicaram suas vidas para criar um lugar harmonioso e puro, até que o mal convidou o bem para guerrear pela primeira vez. Os seres malignos e ambiciosos venceram e governaram um mundo...