┌┘QUATRO └┐

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Nota da autora: capítulo sem revisão! Conterá erros!

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Enquanto Abel corria até seu quarto, sentia o medo sufocar seu coração, mas quando viu a filha completamente imóvel, olhos desfocados e arregalados, aí ele conheceu outro andar daquela emoção.

Seu corpo tomou impulsos automáticos. Pegou a bebê no colo, apenas para temer o corpinho mole. Já não existia batimentos do coração. A boca pequena estava parcialmente aberta, por onde ele enfiou os dedos e tirou grandes bolas úmidas de algodão.

Somou o material branco à boneca rasgada sobre a cama e entendeu, mas entender não diminuía a dor, o medo e a falta de esperança.

Quando seus dedos não alcançaram mais o algodão ele virou o corpo miúdo, deitando-o sobre seu braço, dando pequenos tapas; porém nada mais foi expelido pela bebê. Katherine não esboçou qualquer reação além dos espasmos de seus braços e pernas.

— Papai o que ela tem? – a pergunta feita por Petros cessou seus movimentos. Suspendeu até mesmo sua respiração.

Abel ergueu os olhos apavorados para o filho, enquanto unia o corpo morto ao seu peito numa tentativa tola, quase infantil, de proteger a menina de algo que já tinha acontecido.

— O que você fez?! – ele gritou em direção ao primogênito, este que deu um passo para trás; confuso e assustado.

Yumi tomou a filha nos braços, sentindo uma dor quase física ao constatar o corpinho imóvel como jamais estivera em seus meses de vida. Então ela saiu do quarto correndo e gritando aos empregados para chamarem um médico. Porque não adiantava razão e lógica evidenciarem morte, as remoções regavam um grão quase cruel de esperança.

Sozinho com Petros, Abel se ajoelhou no chão, segurando-o forte pelos ombros.

— O que fez com ela?!– expressou com lentidão e alerta.

O menino negou com a cabeça, os olhos gritando medo e dor.

— Quando cheguei ela já estava daquele jeito.

O homem o empurrou e a criança caiu sentada. Não acreditava nas palavras do filho, queria muito, mas os acontecimentos se repetiam em uma sequência e frequência dolorosa. Não tinha provas do sim ou do não, e aquela dúvida era semelhante a marteladas contra seus ossos.

Mirou a boneca despedaçada sobre a cama, fazendo a dor da perda o atingir em cheio. A respiração travou enquanto um frio assombroso tomava suas entranhas de forma covarde. Tentou reprimir o choro, mas este saiu estrangulado, quase engasgado. As lágrimas pareciam queimar a pele ao que a mente oscilava entre negação e raiva. Impotência e desamparo.

Sentou no chão, puxando as coxas de encontro ao tórax para então esconder o rosto ali, soluçando alto para amenizar aquela dor sem indícios de fim.

Afundando cada vez mais no próprio sofrimento, Abel não se deu conta que a cada lágrima não contida, o controle de sua magia escapava de suas mãos. Controle esse adquirido na adolescência e com muito esforço.

Começou quando o forte cheiro de mel (característico da magia) começou a se espalhar pelo quarto, depois os vidros das janelas estilhaçaram, os travesseiros estouraram, fazendo voar penas e então a boneca começou a pegar fogo. Nesse momento Petros decidiu se aproximar do pai. Primeiro tocou no cabelo de fios esverdeados, hesitante. Depois nos ombros, que ainda balançavam pelo choro. Por fim o abraçou, mesmo que parcialmente pela diferença de tamanho.

A dor não foi embora. Oh, talvez ela nunca fosse, porém sentir calor humano lhe trouxe para o chão novamente. Não estava sozinho ou sentindo sozinho. Yumi devia está histérica e Petros... sequer entendia. Não era hora para sucumbir ao descontrole ou na fraqueza da dor.

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